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quinta-feira, 26 de julho de 2012

Doenças infecciosas continuam atuais




Ciência + Saúde



FOLHA DE SÃO PAULO. São Paulo, domingo, 22 de julho de 2012. Ciência.
DE SÃO PAULO

Malária, leishmaniose e doença de Chagas podem até parecer coisa do passado, mas ainda são problemas bastante reais em várias partes do Brasil e do mundo.
Com sintomas como dor de cabeça, dor no corpo, fraqueza, febre alta e calafrios, a malária é um problema na Amazônia. Causada por um protozoário, a malária é a principal causa de mortalidade entre as doenças tropicais.
De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), ela mata mais de 3 milhões de pessoas por ano, sendo a maioria na África, onde especialmente as crianças são vulneráveis.
Desvendada pelo brasileiro Carlos Chagas, o mal de Chagas é causado pelo protozoário Trypanosoma cruzi. Estima-se que entre 2 milhões e 3 milhões de pessoas no Brasil tenham a forma crônica da moléstia, que não tem cura.
Após uma fase aguda inicial, a doença pode ter um período pouco sintomático, mas no qual o patógeno está se multiplicando e causando danos a vários órgãos, como o baço, o coração e o cérebro.
Já a leishmaniose pode causar lesões e deformidades graves. Crônica, ela é transmitida pelos mosquitos flebotomíneos, também conhecidos como palha e birigui.
A doença pode ter manifestações na pele ou nas vísceras. Embora haja casos em todos os Estados do Brasil, a leishmaniose é um problema sobretudo no Norte e no Nordeste do país.
(GM)

Chip da USP flagra malária e mal de Chagas

 
FOLHA DE SÃO PAULO.Ciência + Saúde
Ciência + Saúde
 São Paulo, domingo, 22 de julho de 2012

Sistema também teve sucesso em detectar leishmaniose a partir de gota de sangue, com diagnóstico em segundos
Aparelho desenvolvido em São Carlos (SP) tem componentes que custariam até R$ 200, afirmam pesquisadores

Reprodução
Mosquito do gênero Anopheles, responsável por transmitir o parasita causador da malária
Mosquito do gênero Anopheles, responsável por transmitir o parasita causador da malária
GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO
Um chip de poucos centímetros, mas que pode fazer o trabalho de um laboratório inteiro, é a aposta de cientistas brasileiros para o diagnóstico rápido e barato de três doenças que afetam principalmente a população pobre do país e do mundo: malária, leishmaniose e Chagas.
Basta uma gota de sangue para que o dispositivo, criado por cientistas do Instituto de Física da USP de São Carlos, consiga detectar se alguém está infectado. O resultado sai em poucos segundos.
Hoje, os testes laboratoriais são a principal forma de diagnóstico dessas moléstias.
Além de não ficarem prontos na hora, esses exames necessitam de uma boa infraestrutura laboratorial. Algo que, em regiões isoladas e endêmicas, pode se tornar um grande obstáculo.
O novo chip elimina esses inconvenientes.
Para funcionar, o dispositivo se vale de impulsos elétricos. É o mesmo princípio dos velhos testes de glicemia -aqueles aparelhinhos geralmente usados por diabéticos para verificar a quantidade de açúcar no sangue.
Mas, em vez de açúcar, o exame brasileiro considera os impulsos elétricos gerados pela reação de uma proteína com os anticorpos que combatem as doenças.

MÉTODO

Os anticorpos são uma resposta do sistema de defesa do organismo à doença e só são produzidos por quem já foi infectado por um parasita.
"O chip tem várias nanopartículas [minúsculas esferas] que contêm uma proteína específica. Em contato com o sangue, essa proteína se liga ao anticorpo. O exame se vale das medidas elétricas causadas por essa reação", explica o coordenador do estudo, Valtencir Zucolotto, do Laboratório de Nanomedicina e Nanotoxicologia da USP de São Carlos.
Para cada uma das doenças testadas é usada uma nanopartícula específica.
"O exame conseguiu detectar as doenças até em estágios bastante iniciais", afirma Zucolotto, que tem a colaboração de um time de cientistas: Osvaldo Oliveira Júnior, Fernando Paulovich, Cristina Oliveira e Pietro Ciancaglini, também da USP, e Rodrigo Stabeli, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) de Rondônia.
O grupo já deu início ao processo para patentear o microchip do teste.
Por conta de seu princípio de ação, o método poderia ser usado ainda para detectar outras doenças que também geram uma resposta do sistema imune, como a dengue.
"Ainda é complicado falar em valores, mas ele certamente seria mais barato do que os exames laboratoriais", avalia Zucolotto.
Segundo o cientista, hoje seria possível produzir os circuitos que verificam os impulsos elétricos por algo em torno de R$ 100 e R$ 200.
Os chips, que são descartáveis após o uso, sairiam por cerca de US$ 1 (aproximadamente R$ 2,10).
"Nós desenvolvemos o protótipo, mas, para chegar ao mercado, é preciso que haja indústrias interessadas", completa o pesquisador.

RESSALVAS

Na opinião de Fernando Tobias Silveira, pesquisador responsável pelo laboratório de leishmanioses do Instituto Evandro Chagas, do Pará, a ideia do teste é "muito interessante", mas deve-se levar em conta as especificidades de cada doença.
"É preciso estar atento para o fato de que esses chips devem ser impregnados com antígenos altamente específicos. Por exemplo, se a suspeita é de leishmaniose visceral, é preciso que um desses chips esteja impregnado com antígeno de Leishmania infantum chagasi, que é o agente da leishmaniose visceral nas Américas", diz.
"Não adianta impregnar antígeno, por exemplo, de L. amazonensis, porque essa espécie é agente de leishmaniose cutânea no Brasil. Portanto, é preciso considerar que ocorrerão reações sorológicas cruzadas, reações falsas, se essas especificações não forem previstas", completa.

Invasão na natureza promove epidemias

New York Times
New York Times

São Paulo, segunda-feira, 23 de julho de 2012

Análise


OLAF HAJEK
Por JIM ROBBINS

O termo "serviços do ecossistema" faz referência às muitas maneiras em que a natureza apóia o empreendimento humano. Por exemplo, as florestas filtram a água que bebemos; aves e abelhas polinizam plantações.
Se deixamos de entender e cuidar do mundo natural, isso pode suscitar a falência desses sistemas e nos afetar de maneiras sobre as quais pouco sabemos. Um exemplo é um modelo de doença infecciosa em desenvolvimento que mostra que as epidemias -Aids, Ebola, a Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave) e centenas de outra- ocorridas nas últimas décadas são consequência de interferências humanas com a natureza.
Descobrimos que a doença é um problema ambiental. Sessenta por cento das doenças infecto-contagiosas emergentes que afetam os humanos têm origem em animais -mais de dois terços delas em animais silvestres.
Um esforço global está sendo feito, envolvendo veterinários, biólogos, físicos e epidemiologistas, para tentar compreender a "ecologia da doença". Faz parte do projeto Predict, financiado pela Usaid (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional). Com base nos modos em que as pessoas alteram a terra -com a construção de uma nova estrada ou fazenda, por exemplo-, especialistas procuram descobrir os locais onde as próximas doenças provavelmente vão atingir os humanos e como identificá-las quando emergem, antes de se disseminarem. Estão colhendo amostras de sangue, saliva e outros de espécies de animais silvestres de alto risco, visando criar um acervo de vírus, para facilitar a identificação rápida de algum deles que possa infectar humanos. E estão estudando maneiras de gerir florestas, fauna e animais de criação para impedir doenças de deixar as florestas e se converterem na próxima pandemia.
Não é um problema apenas de saúde pública, mas também econômico. O Banco Mundial estimou que uma pandemia grave de gripe pode custar US$ 3 trilhões à economia mundial.
O problema é exacerbado pelo modo como os animais de criação vivem em países pobres, que pode intensificar e difundir doenças transmitidas por animais silvestres. Um estudo recente do Instituto Internacional de Pesquisas com Animais de Criação constatou que mais de 2 milhões de pessoas por ano morrem de doenças transmitidas aos humanos por animais.
O vírus Nipah, no sul da Ásia, e o vírus aparentado Hendra, na Austrália, são os exemplos mais urgentes de como a perturbação de um ecossistema pode provocar doenças. Os vírus se originaram de raposas-voadoras, ou morcegos comedores de frutas. Esses morcegos costumam ficar pendurados de cabeça para baixo; eles mastigam a polpa das frutas, cuspindo os sucos.
Como os morcegos evoluíram concomitantemente com o vírus, sofrem poucos efeitos dele. Mas, a partir do momento em que o vírus passa dos morcegos para espécies que não evoluíram com ele, pode ocorrer uma epidemia, como foi o caso em 1999 na zona rural da Malásia. É provável que um morcego tenha deixado um pedaço de fruta mastigada cair num chiqueiro na floresta. Os porcos se infectaram e o vírus passou para os humanos, contaminando 276 pessoas. Muitas destas sofreram problemas neurológicos permanentes e incapacitantes e 106 delas morreram. Não existe cura nem vacina. Desde então, houve 12 surtos menores no sul da Ásia.
Na Austrália, onde quatro pessoas e dezenas de cavalos já morreram da Hendra, a suburbanização atraiu morcegos infectados, que antes viviam nas florestas, para pastos e quintais. Se esses vírus evoluírem de modo a serem transmitidos facilmente através do contato casual, o receio é que a doença possa se espalhar pela Ásia e o mundo.
"É apenas uma questão de tempo até chegar a cepa que conseguirá ser transmitida com eficácia entre pessoas", diz Jonathan Epstein, veterinário da EcoHealth Alliance, organização de Nova York que estuda as causas ecológicas das doenças.
"Qualquer doença emergente nos últimos 30 anos ou 40 anos surgiu em consequência da invasão de terras silvestres por humanos e de mudanças demográficas", afirma Peter Daszak, ecologista de doenças e presidente da EcoHealth.
As doenças infecciosas emergentes ou são tipos novos de patógenos ou tipos antigos que sofreram mutações, como ocorre todos os anos com o vírus da gripe. A Aids passou de chimpanzés para os humanos na década de 1920, quando caçadores na África comeram os animais.
As doenças sempre saíram das florestas e da fauna e chegaram às populações humanas: a peste e a malária são dois exemplos disso. Mas, segundo especialistas, o número de doenças emergentes quadruplicou no último meio século, em grande medida devido ao avanço humano sobre áreas silvestres, especialmente em regiões tropicais. As viagens aéreas e o tráfico de animais silvestres aumentam o potencial para surtos graves de doenças em grandes centros populacionais.
Para os especialistas, a chave para a prevenção da próxima pandemia está na compreensão do que eles chamam dos "efeitos protetores" da natureza intacta. Um estudo mostrou que, na Amazônia, um aumento de 4% no desmatamento resultou no aumento de quase 50% na incidência da malária, porque os mosquitos transmissores da doença se multiplicam em áreas recentemente desmatadas.
Especialistas em saúde pública começaram a incluir a ecologia em seus modelos. A Austrália acaba de anunciar um esforço de muitos milhões de dólares para estudar a ecologia do vírus Hendra e dos morcegos.
Não é apenas a invasão de paisagens tropicais intactas que provoca doenças. O vírus do Nilo Ocidental chegou aos Estados Unidos vindo da África, mas se disseminou na América porque um de seus hospedeiros favoritos é o tordo americano, que vive bem em gramados e campos agrícolas. E os mosquitos, que transmitem a doença, são especialmente atraídos pelos tordos.
"Quando fazemos coisas que reduzem a biodiversidade de um ecossistema -cortamos a floresta ou substituímos habitats por campos agrícolas-, tendemos a eliminar espécies que exercem papéis protetores", diz Richard Ostfeld, pesquisador da doença de Lyme.
Para os especialistas, a melhor maneira de prevenir surtos entre humanos é através da Iniciativa Uma Saúde -um programa global que defende a ideia de que a saúde de humanos está estreitamente interligada com a dos animais e da ecologia, todas precisam ser geridas de modo holístico.
"Não se trata de manter as florestas intactas e livres de humanos", diz Simon Anthony, virologista molecular na EcoHealth. "Se você puder entender o que é que motiva o surgimento de uma doença, pode aprender a modificar os ambientes de maneira sustentável."
O problema é enorme e complexo. Estima-se que apenas 1% dos vírus silvestres seja conhecido. Outro fator importante é a imunologia da fauna silvestre, uma ciência ainda emergente.
O destino da próxima pandemia pode depender do trabalho da Predict. A EcoHealth e suas parceiras estão estudando os vírus tropicais transmitidos por animais silvestres para construir um acervo de vírus.
Pesquisadores da Predict estão observando a interface em que sabidamente existem vírus mortais e onde populações humanas estão derrubando a floresta.
A EcoHealth também revista bagagens em aeroportos, em busca de animais silvestres importados que possam ser transmissores de vírus mortais. E seu programa PetWatch avisa consumidores sobre os riscos de adotar animais de estimação exóticos vindos de locais de risco em florestas.

Dengue pode piorar em 2013, diz prefeitura




Ribeirão


FOLHA DE SÃO PAULO.
São Paulo, quinta-feira, 26 de julho de 2012. Folha Ribeirão

Controle de Vetores diz que transmissão deverá ser mais "ameaçadora"; plano prevê vistoria em 216 mil imóveis
Anúncio foi feito durante evento em comemoração ao controle da dengue neste ano na cidade
GABRIELA YAMADA
DE RIBEIRÃO PRETO

A Secretaria da Saúde de Ribeirão Preto admitiu preocupação com a transmissão da dengue em 2013, que poderá ser feita "de forma mais grave e ameaçadora".
O anúncio foi feito ontem por Maria Lúcia Biagini, chefe da divisão de Controle de Vetores e Animais Peçonhentos, durante evento que comemorou o controle da dengue neste ano na cidade.
Segundo ela, está prevista uma maior circulação do sorotipo 4 para o ano que vem.
"Temos que nos preparar para enfrentar esse problema, porque as pessoas podem ter novamente a doença e, desta vez, de forma mais grave", afirmou. Ainda de acordo com Biagini, a erradicação da espécie "não é possível nem viável".
O tipo 4 foi identificado pela primeira vez em Ribeirão Preto neste ano.
"Já esperávamos a chegada [do sorotipo 4] porque havíamos identificado a circulação em São José do Rio Preto, cidade com a qual Ribeirão mantém tráfego", disse o médico epidemiologista Cláudio Souza de Paula, da Vigilância Epidemiológica.
Neste ano, a circulação do novo sorotipo foi identificada também nas cidades de São Simão e Barretos, de acordo com dados da Secretaria de Estado da Saúde.
O médico da Vigilância Epidemiológica disse ainda que o último balanço da Secretaria da Saúde apontou 230 casos confirmados de dengue neste ano em Ribeirão. Em todo o ano passado, a cidade registrou 23.384 casos da doença.

AÇÕES DE COMBATE

Para evitar epidemia, a secretaria colocará em prática, a partir da semana que vem, um plano de combate à proliferação do Aedes aegypti, transmissor da doença.
De acordo com Biagini, deverão ser vistoriados 216 mil imóveis em 250 bairros até o fim do ano. Para diminuir a pendência de imóveis fechados, haverá vistorias à noite.
Serão feitos 22 arrastões, além de nebulização. Quinzenalmente, 550 pontos estratégicos, como borracharias, serão vistoriados.
Já 360 imóveis especiais, que concentram grande circulação de pessoas, receberão vistoria bimestral

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Primeira vacina contra a dengue imuniza contra três cepas virais

Resultados confirmam que fórmula é segura e são marco na tentativa de encontrar imunizante viável

O ESTADO DE SÃO PAULO. São Paulo-SP. 25 de julho de 2012. Ciência
JAMES REGAN E BEN HIRSCHLER - Reuters

A primeira vacina do mundo contra a dengue, desenvolvida pelo laboratório francês Sanofi SA, demonstrou a capacidade de proteger contra três das quatro cepas virais causadoras da doença, de acordo com resultados de um aguardado teste clínico na Tailândia.
 
Doença ameaça quase 3 bilhões de pessoas no mundo - Divulgação
Divulgação
 
Doença ameaça quase 3 bilhões de pessoas no mundo


A Sanofi disse nesta quarta-feira que a prova de eficiência é um marco importante nestas sete décadas de luta para desenvolver uma vacina viável contra a dengue, e que os resultados também confirmam que a fórmula é segura.

Outros laboratórios estão trabalhando em vacinas contra a doença, mas o produto da Sanofi está anos à frente.

A dengue, transmitida por mosquito, ameaça quase 3 bilhões de pessoas no mundo, sendo milhões delas no Brasil. A contaminação por uma cepa viral não garante imunidade contra as outras três.

A vacina da Sanofi gerou uma resposta imunológica às quatro cepas, mas só houve comprovação da sua eficácia contra três delas. A Sanofi disse estar realizando análises para entender a resistência do quarto tipo, e que a Fase 3 do teste clínico poderá indicar se isso tem relação com alguma situação específica da Tailândia.

O estudo da Fase 2B, envolvendo 4.002 crianças tailandesas de 4 a 11 anos, foi realizado durante um surto de dengue, o que pode explicar o resultado inesperado.

O analista Mark Clark, do Deutsche Bank, disse que a falta de proteção contra o quarto tipo do vírus significa que o lançamento comercial da vacina é mais provável em 2015 do que em 2014, pois a Sanofi aguardará a Fase 3 antes de protocolar o pedido de registro em alguns países.

"Mais positivamente, como a proteção contra pelo menos três dos quatro tipos virais foi demonstrada, os dados amparam a possibilidade de lançamento dessa enorme necessidade clínica não-atendida", disse Clark em nota de pesquisa.

A Sanofi Pasteur, unidade de vacinas do laboratório, já investiu 350 milhões de euros (423 milhões de dólares) em uma nova fábrica na França para produzir a vacina, que é administrada em três doses. A empresa prevê um faturamento anual de 1 bilhão de euros com o produto.

Os dados completos do estudo ainda estão sendo revistos por especialistas e autoridades de saúde, e devem ser divulgados ainda neste ano. A Fase 3 do estudo, com 31 mil participantes, está sendo realizada em dez países da Ásia e América Latina.

Nos últimos 50 anos, o número de casos da dengue no mundo se multiplicou por 30. A Organização Mundial da Saúde estima que haja 50 a 100 milhões de novos casos por ano, mas muitos especialistas avaliam que essa cifra, da década de 1990, está subestimada.

A doença mata cerca de 20 mil pessoas por ano, especialmente crianças.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Veterinários serão responsáveis por animais usados em experiências

A partir de agora, as experiências científicas com uso de animais no Brasil terão que ser acompanhadas, obrigatoriamente, por médicos veterinários. A exigência da presença desses profissionais foi determinada pelo Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

Na prática, a maior parte dos laboratórios de pesquisa que utilizam animais para experimentação científica e ensino, mais conhecidos como biotérios, já mantém veterinários em suas equipes, segundo informações do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV).

“O que se pretende é que a prerrogativa seja levada à sociedade em geral, para que o número cada vez maior de universidades que têm biotérios também cumpra essa norma”, explicou o professor e pesquisador da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Alberto Costa, que preside a Comissão de Ética, Bioética e Bem-Estar Animal do CFMV.

Com a medida, procedimentos como analgesia, eutanásia, administração de medicamentos e óbito dos animais e a garantia de boas condições do ar e de alimentação passam a ser competência e responsabilidade dos veterinários. A equipe de pesquisadores ficará responsável exclusivamente pelos estudos científicos.

“Quem pode avaliar se animal está sendo submetido a sofrimento ou dor, durante um procedimento, em aula prática ou pesquisa, é o medico veterinário”, explicou Alberto Costa. Os cientistas reconhecem que, apesar de não terem o nível de consciência do ser humano, os animais são capazes de experimentar as sensações negativas e positivas, desde euforia à frustração, dor e sofrimento intenso. “A presença do médico veterinário contribui para que não ocorra essa situação de sofrimento”, acrescentou o professor.

A obrigatoriedade, por outro lado, desperta, entre alguns pesquisadores e cientistas, o temor de que os médicos veterinários interfiram nos procedimentos exclusivamente científicos. Mas o coordenador do Centro de Experimentação Animal do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), Carlos Müller, garante que a nova norma, que cria mecanismos rigorosos de controle da experimentação, trata apenas da assistência técnica e sanitária aos animais. “Atualmente, existem pessoas que não fazem sequer analgesia nos animais [submetidos às experiências]. O pesquisador é pontual na pesquisa, mas nem sempre tem a experiência de dia a dia com o animal”, disse.

A alteração nas regras desse tipo de experimento reacende ainda o debate sobre alternativas que substituam o uso de animais em pesquisas. Alguns segmentos, como o da indústria cosmética, validaram métodos alternativos de substituição. Mas, quando se trata de pesquisas em geral, Müller é enfático em afirmar que “não terá tão cedo no Brasil. Não existem métodos substitutivos porque falta investimento”.


Correio Braziliense. Brasília-DF, 23/07/2012. Ciências.