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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Um manual feito para lidar com terroristas e epidemias

São Paulo, segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011



NOVA YORK

Por WILLIAM GLABERSON
Grandes desastres, como ataques terroristas e epidemias em massa, geram questões de difícil resolução para serviços de resgate, médicos e governos. Além disso, apresentam questões legais confusas, incluindo algumas dolorosas. Exemplo: como os tribunais devem decidir quem recebe medicamentos que podem salvar vidas, no caso de haver mais vítimas que medicamentos.
Mas os tribunais, assim como os corpos de bombeiros e os investigadores de homicídios, existem para cuidar de casos hipotéticos sinistros. Com isso em mente, foi publicado em Nova York um manual jurídico estadual oficial que traz diretrizes para juízes e advogados que podem enfrentar dilemas cruéis em casos de ataque terrorista, epidemia ou contaminação química ou radiológica.
Quarentenas. O fechamento de empresas. Retiradas em massa de moradores de um local. O abate de animais contaminados e o confisco de bens. Os casos em que as leis podem ser suspensas; a possibilidade de pessoas com chances de contaminar outras serem isoladas ou submetidas a tratamento compulsório. Está tudo ali no manual, expresso em linguagem jurídica precisa, publicado pelo sistema estadual de tribunais e a associação de advogados.
As realidades legais mais espantosas são tratadas com linguagem moderada, típica de advogados. O manual observa que o governo possui poderes amplos para declarar estado de emergência. "Isto tendo sido feito", ele prossegue, "as autoridades locais poderão decretar toques de recolher, colocar grandes áreas sob quarentena, fechar empresas, limitar o direito de reunião pública e, sob determinadas circunstâncias, suspender a vigência de regulamentos locais."
Ronald P. Younkins, o chefe de operações do sistema judiciário estadual de Nova York, disse que a criação do manual foi semelhante a outras medidas de planejamento para emergências eventuais que os tribunais de Nova York vêm tomando, entre as quais manter estoques de máscaras de gás e luvas de látex. Segundo ele, a intenção é proporcionar a juízes e advogados diretrizes sobre as quais se basearem na eventualidade de emergências, pois o labirinto de leis federais e estaduais pode ser difícil de decifrar. Para juízes, o manual pode ser uma maneira de recapitular o caso de Mary Mallon, apelidada de "Typhoid Mary" (Mary Tifo), que foi mantida em isolamento numa ilha no rio East de 1915 até sua morte, em 1938.
Publicado sob um título de normalidade que desarma, "Manual Legal de Saúde Pública do Estado de Nova York", o livro de cenários apocalípticos não promulga leis novas, mas descreve as existentes e proporciona a advogados e juízes maneiras de analisar um sem-número de situações possíveis.
Em casos em que não haja medicamentos suficientes para todos em uma emergência, diz o manual, não há critérios legais claros nos quais se basear. O livro sugere que as decisões legais envolverão uma análise que "leve em conta a obrigação de salvar o maior número possível de vidas, contrapondo-a à obrigação de prestar atendimento a cada paciente individual", possivelmente dando preferência aos pacientes que tenham as melhores chances de sobrevivência. Mas ressalva que idosos e deficientes físicos poderão recorrer à Justiça se forem discriminados em tais momentos de crise.
Em prefácios separados, o juiz supremo do Estado, Jonathan Lippman, e o presidente da associação de advogados, Stephen P. Younger, dizem que as ameaças à saúde pública hoje estão mais evidentes que nunca, de modo que as questões legais envolvidas devem ser analisadas agora, e não no momento em que uma emergência estiver em curso.
Depois de mencionar que imóveis residenciais ou comerciais poderão ser requisitados para abrigar vítimas ou para estocar remédios e equipamentos médicos, o manual afirma que "violações dos direitos individuais de propriedade, se forem contestáveis, geralmente serão tratadas depois de terminada a necessidade de recorrer a tais ações".
Sem mencionar que os próprios juízes ou outros integrantes dos tribunais podem estar entre os mortos ou feridos, o manual diz que, quando houver escassez de funcionários legais, os administradores poderão tomar diversas medidas para manter os tribunais em funcionamento. Poderão tratar de procedimentos múltiplos sob a direção de um único juiz, mudar regras de procedimentos e priorizar casos decorrentes da emergência.
E o manual fornece instruções assustadoras sobre como levar adiante o funcionamento dos tribunais em meio a surtos de doenças contagiosas. Os estoques de luvas e máscaras de gás "já disponíveis em muitos tribunais", diz o livro, podem ser necessários.
Em um dia recente, no distrito do Brooklin, o juiz administrativo dos tribunais criminais, Barry Kamins, ouviu uma leitura de trechos do manual, incluindo a seção que menciona o uso de máscaras cirúrgicas por todos os presentes no tribunal. "Estou tentando imaginar isso", disse Kamins. "É difícil imaginar-se nessa situação."
Mas, segundo ele, os tribunais de Nova York já passaram por muitas situações difíceis, incluindo o período que se seguiu aos ataques do 11 de setembro. A gripe suína levou máscaras a alguns tribunais, devido à preocupação das pessoas com a possibilidade de contágio. Réus que mordem e arranham às vezes chegam ao tribunal acorrentados e são forçados a usar luvas.

Circo de pulgas no verão

São Paulo, sábado, 26 de fevereiro de 2011




BICHOS

VIVIEN LANDO Circo de pulgas no verão



Para cada dez delas encontradas no animal, existem cerca de 60 passeando pelo ambiente

ESTE VERÃO PAULISTANO parece ter exagerado no setor pragas. Outro dia, um senhor entrou indignado num pet shop à procura de inseticida antipulgas. Disse que já havia dedetizado o apartamento duas vezes e, como o cão tinha saído de férias, as pulgas estavam atacando sua família (elas dão preferência a seres com temperatura mais alta).
São Paulo, em sua tradicional pluralidade, abriga tantas pulgas, carrapatos, piolhos etc. quanto qualquer cidade do interior ou do litoral. Aqui tem de tudo. Há poucos dias, a Folha noticiou que uma série de insetos inéditos acaba de se inserir na população local. Entre eles, as mamangavas, coisa que pude comprovar, quando flagrei meus gatos bem satisfeitos correndo atrás do besourão peçonhento no meio da sala.
Ou seja, além dos lindos pássaros silvestres sem-floresta estarem a enfeitar os jardins da capital paulista, uma horda de imigrantes indesejáveis já se instalou. As pulgas, cuja população aparenta ter aumentado, são tortura pura para cães e gatos. Muitos são alérgicos à saliva que elas inoculam ao picar. Vários não toleram os produtos de proteção disponíveis no mercado.
Pior: para cada dez delas encontradas no animal, existem umas 60 passeando pelo ambiente onde ele vive. Alternam-se entre sugar o sangue do bicho e colocar ovos no piso -ou mesmo na grama do jardim, descobri recentemente! Sobretudo as chamadas pulgas de gato, que são menores e pretinhas, essas se adaptam e reproduzem uma enormidade em qualquer lugar. As pulgas de cachorro são um pouco maiores, mais lentas e marrons. Mais fáceis de eliminar. Mas ambas parasitam qualquer uma das espécies, sem contar ratos e outros hospedeiros.
Sei de gente que encheu a casa de sal para secar as larvas, imunes inclusive à desinsetização e capazes de permanecer hibernando por muito tempo. Outros optaram por cimentar o gramado, doar o pet, jogar creolina em todos os cantos, mudar de moradia. Enfim, um desespero.
Parece que o que dá um fim nelas, temporário e relativo, é a chegada do frio. Só então talvez tenhamos tranquilidade para lembrar que pulgas, carrapatos, mamangavas e percevejos também são bichos. E fazem absoluta questão de participar da cadeia alimentar.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Dignidade para os nossos amigos


CORREIO BRAZILIENSE. Brasília, 27 de fevereiro de 2011
Bichos

Cães diagnosticados com câncer não necessariamente precisam
ser sacrificados. Hoje em dia, há tratamentos capazes de devolver-lhes
a saúde ou de amenizar os sintomas da doença
 
Bruno Peres/CB/D.A Press
Em meio à agitação da clínica veterinária, Penélope, 7 anos, sem raça definida, chamava a atenção. Deitada no colo da dona, a aposentada Zuleika Santos Andrade, a cadelinha tinha um ar abatido. Ela havia acabado de receber uma transfusão sanguínea — rotina desde que foi diagnosticada com um linfoma de intestino, em novembro passado. A doença foi descoberta por acaso. Zuleika achava que a Penélope estava prenhe por conta do abdome dilatado. “Estamos na luta”, desabafa em voz baixa, como se não quisesse incomodar a tristonha vira-latas.

Se for operada, Penélope pode não resistir. “Ela está em tratamento. Começou fazendo quimioterapia uma vez por semana. Agora é quinzenal. O câncer teve um regresso, mas infelizmente os médicos falaram que operar seria um risco”, relata a dona. Segundo a aposentada, o quadro é instável: há dias de melhora e outros em que a mascote passa muito mal. “Mas estamos tentando todos os recursos”, resigna-se.

A cadela Golden, também sem raça definida, é a prova de que não se deve perder a esperança. Em 2007, constatou-se que ela tinha um tumor venéreo transmissível (TVT) e, hoje, está curada. Lacy Mesquita Oliveira, 57 anos, dona de casa, conta que o animal apareceu na vizinhança e não foi mais embora. “Ela estava suja, com fome e ferida na região da genitália”, descreve. A descoberta do câncer não foi imediata. A princípio, uma veterinária falou que era uma bicheira, uma infecção na pele causada por moscas. “Foi tratada com antisséptico e antibióticos, mas o sangramento não parava e a veterinária indicou a castração para que ela não ficasse prenhe.”

Só que ela já esperava filhotes, de modo que não não pôde ser tratada do câncer até o nascimento da ninhada — a quimioterapia, muito provavelmente, provocaria um aborto. Assim, durante a gestação, Golden foi tratada com antibióticos e vitaminas que a fortalecessem. “Durante esse período, ela ficou bastante abatida, perdeu os pelos e precisou de muito repouso. Depois, teve de ser separada dos filhotes. Mas não precisou ser operada”, recorda.

Golden está agora plenamente reestabelecida — brinca muito, faz companhia para Lacy e é o xodó da vizinhança. “Ela está curada. As feridas desapareceram e, se a deixarmos sem coleira durante os passeios, ela escolhe o caminho e, quando chega no bloco, senta-se como se esperasse por alguém”, conta a dona, orgulhosa.

Dona Lacy, infelizmente, teve mais um susto, dessa vez com a Bina, seu outro pet. O diagnóstico foi câncer de mama. Depois da cirurgia de retirada dos caroços, a cadelinha passou por plástica na região. “A quimioterapia foi mais rápida e menos penosa que a da Golden, nem o pelo caiu tanto.” O sofrimento, explica Lacy, foi maior na fase da recuperação. “O mais difícil foi mantê-la em movimento, com pequenas caminhadas, logo que os pontos fecharam bem”, relata. Mas o fim dessa história é feliz: Bina está ótima, com as orelhas sempre em pé.

Um mal associado à longevidade

A possibilidade de cães e gatos desenvolverem câncer cresce com o avanço da idade. “Houve aumento na expectativa de vida dos animais e, como consequência, as doenças evoluíram”, explica o oncologista-veterinário Paulo Tabanez, também especialista em infectologia. A boa notícia é que os tratamentos também se sofisticaram.

No passado, não havia medicação para câncer em animais, e os tumores não eram tratados. “Ou ele morria antes de se diagnosticar o câncer ou era sacrificado”, constata o especialista. Atualmente, a eutanásia não é a melhor solução para abreviar o sofrimento do pet — há tratamentos curativos e paliativos mais eficientes.

De fato, o câncer animal pode ter diferentes prognósticos. Conforme o caso, pode-se optar entre métodos cirúrgicos e medicamentosos — ou lançar mão de ambos. “Quando não é possível operar o animal, há medicamentos que promovem qualidade de vida, tranzendo alívio para a dor”, complementa. Todavia, alguns efeitos colaterais podem ser penosos. Os quimioterápicos causam desde queda de pelo a náuseas, vômitos e leucopenia (também chamada de aplasia de medula, quadro em que o os sistemas de defesa do organismo ficam debilitados). “Para minimizar esses efeitos, o veterinário pode prescrever medicações que protejam a mucosa gástrica”, complementa Tabanez. 

O que pode trazer
bem-estar ao animal
durante o tratamento

l Medicações para controlar vômitos e proteger a mucosa gástrica

l Sessões de acupuntura

l Alimentação balanceada com fórmulas específicas para cães com alterações gastrointestinais, renais e hepáticas

Agradecimentos: Prontovet


Arquivo Pessoal
Ligeirinhas

“Por muito tempo, fiz parte de um grupo muito grande de pessoas que, infelizmente, não gosta de gatos. Sempre criei cachorros e tinha opinião formada sobre o assunto. Quando fui morar em uma quitinete, fiquei impossibilitada de criar um cão e sentia muita falta de um animal de estimação. Certo dia, uma amiga ofereceu-me uma gata. Pensei em aceitar, mas o preconceito me fez desistir. Passaram-se duas semanas e meu irmão ofereceu-me um gatinho que a namorada dele encontrou na rua. Resolvi tentar porque, no fundo, sabia que deveria enfrentar meu trauma (quando pequena um gatinho arranhou meu rosto e fiquei com o sentimento de que gatos eram traiçoeiros — hoje me recordo que peguei o pobre do gato e o apertei, ele apenas se defendeu como pôde). Fomos até a casa da namorada de meu irmão. Quando o vi, simpatizei bastante com ele porque o achei muito mansinho, mas avisei que, se não me adaptasse, o devolveria no sábado (era uma quarta-feira). Comprei ração e areia e quando cheguei com ele em minha casa fiquei desconfiada e ressabiada porque ele começou a ronronar (não entendia nada sobre gatos e pensei que ele queria me atacar), não consegui nem dormir porque ele pulou na cama e dormiu encostado aos meus pés. Então comecei a ler tudo sobre gatos e a entender o comportamento felino. No outro dia, cheguei do trabalho e ele começou a me fazer carinho e ronronar (o ronronado está ligado ao emocional do bichano e dessa maneira ele demonstra seu contentamento e até submissão). Comecei a me encantar pelo Nino. Ele é um gato extremamente brincalhão, adora brincar de se esconder e aparecer de surpresa. Além disso, é muito companheiro e parece que entende tudo! Agora moro numa casa e, sempre que chegamos (eu e meu esposo), ele vai para a porta nos receber com muita alegria, fica de barriga pra cima, ronrona... Ele é o príncipe do nosso lar! Gosto de contar minha história para mudar um pouco o pensamento equivocado que a maioria das pessoas tem sobre gatos. Não é para comparar com a submissão canina, mas para valorizar a natureza independente e única dos felinos, que também podem ser grandes companheiros!”. (Hakelly Cruz)

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Bahia inicia uso de inseto transgênico contra dengue

São Paulo, quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
 


Cerca de 10 mil mosquitos foram soltos; "missão" é fecundar fêmea normal

Filhotes que resultam do cruzamento morrem antes de chegar à fase adulta, o que reduziria a população do animal

Muhammad Mahdi Karim/Wikipedia Commons

Mosquito Aedes aegypti, que transmite a dengue

LUIZ GUSTAVO CRISTINO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em busca de um novo método para a erradicação do mosquito Aedes aegypti, pesquisadores estão soltando uma versão transgênica do inseto em bairros de Juazeiro (BA). O bicho geneticamente modificado gera filhotes que não chegam à fase adulta.
A iniciativa, coordenada pela bióloga Margareth Capurro, pesquisadora da USP, foi aprovada pela CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança).
Os cientistas misturam material genético de drosófilas, conhecidas popularmente como moscas-das-frutas, ao do A. aegypti.
A transformação faz com que seus filhotes produzam uma proteína que causa sua morte ainda no estágio larval ou de pupa (a fase de casulo).
Em laboratório, os embriões são produzidos pela Biofábrica Moscamed, em Juazeiro (BA), e identificados com um marcador fluorescente. Por diferença de tamanho em relação às fêmeas, os machos -que alimentam-se de néctar e sucos vegetais- são isolados antes da fase adulta, quando serão liberados no ambiente.
Eles serão soltos em cinco bairros da cidade. Lá, concorrerão para procriarem com as fêmeas, o que, em longo prazo, deve reduzir a população local dos insetos.
A previsão é de liberação de 50 mil mosquitos por semana nesses locais, e a conclusão do estudo está prevista para 18 meses após o início do procedimento.
Os primeiros 10 mil mosquitos já foram soltos na última segunda-feira, no bairro de Itaberaba. Amanhã, serão liberados mais 8.000 no mesmo local.

RISCOS
A princípio, a liberação de espécimes do Aedes aegypti nessas regiões apresentaria dois riscos: aumento da incidência da dengue e desequilíbrio ambiental.
Ambos, diz Capurro, são praticamente nulos. "Os mosquitos machos não se alimentam de sangue, por isso não transmitem a doença, e sua única função é copular com as fêmeas", afirma.
Além disso, o A. aegypti não é nativo do Brasil e encontrou um ambiente ideal porque não possui predadores naturais por aqui.
"Os mosquitos transgênicos vivem por aproximadamente sete dias e não deixam descendentes. Para retirá-los da população de insetos do local, basta parar de abastecê-la com novos indivíduos."
Ela destaca as vantagens do procedimento. Apesar de mais caro, pode substituir inseticidas e larvicidas, reduzindo o lançamento de possíveis poluentes no ambiente.
"O que essas substâncias fazem é selecionar indivíduos resistentes, que não morrem com os produtos", aponta a bióloga.

Defensor de animais já afetou um em cada quatro cientistas

São Paulo, quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
 


Maioria, porém, não alterou pesquisa, diz enquete da "Nature"

GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO

Cientistas estão assustados com as atitudes de alguns ativistas dos direitos animais, que deixaram de lado as manifestações pacíficas em frente aos laboratórios e partiram para depredações e até agressões físicas.
Segundo levantamento on-line feito pela revista "Nature" com cerca de mil cientistas da área biomédica, um em cada quatro deles diz que já foi "afetado negativamente" por protestos contra o laboratório, vandalismo, "libertação" de cobaias e agressão física e verbal, ou conhece quem passou por isso.
Desse grupo, apenas 15% disseram ter mudado alguma prática ou algum direcionamento de pesquisa por causa da ação dos ativistas.
A grande maioria dos pesquisadores -mais de 90%- considera que o uso de modelos animais é essencial para o sucesso de seus estudos.
Ainda assim, cerca de 16% afirmaram já ter tido sérias dúvidas sobre o papel dos animais nas pesquisas.
Os cientistas que lidam com macacos são minoria entre os pesquisados (apenas 38), mas são os que se consideram mais afetados negativamente pelo ativismo, embora afirmem que têm padrões muito rígidos para seus experimentos.
Embora a pesquisa indique que casos extremos são raros e não parecem estar se intensificando, alguns países estão fechando o cerco contra agressões praticadas por ativistas, inclusive criando legislação visando à punição desses crimes.
Estados Unidos e Reino Unido já têm legislações específicas. Os americanos, aliás, são o grupo que mais acha que o ativismo animal cresceu. Os britânicos, por outro lado, dizem ter percebido uma redução.

BRASIL "LIGHT"
Para Marcelo Morales, presidente da comissão de ética com animais da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e da Federação Latino-americana de Biofísica, os ativistas brasileiros não costumam ser agressivos.
"Eles são radicais em suas opiniões, mas apresentam seus pontos de vista através do diálogo", diz.
Segundo ele, episódios como o "banho de tinta" levado por uma pesquisadora em um evento na Unicamp, em 2008, são raros e isolados.

Butantan terá prédio maior e mais seguro

São Paulo, quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011




Construção vai abrigar a coleção de répteis e anfíbios do instituto, quase toda destruída em incêndio em 2010

Para impedir uma nova tragédia, o projeto separou o acervo em 7 salas, cada uma com uma porta corta-fogo

TALITA BEDINELLI
JOSÉ BENEDITO DA SILVA
DE SÃO PAULO

Nove meses depois de um incêndio ter destruído a maior coleção de répteis e anfíbios do mundo, o Instituto Butantan, em São Paulo, anunciou ontem o projeto de construção de um prédio maior para abrigar o acervo.
O local será dotado de um moderno sistema de controle e prevenção de incêndios.
Para evitar nova tragédia, o projeto da arquiteta Cecília Yoshikawa separou a coleção em sete salas, cada uma com uma porta corta-fogo.
Assim, caso haja incêndio em uma das salas, o fogo dificilmente se espalhará.
A central de detecção de incêndio será completa, afirma o instituto. Haverá sirene eletrônica, detector de fumaça, hidrantes com espuma, extintores portáteis e luminárias blindadas -que impedem a saída de faíscas.
A área da coleção também terá gerador próprio, para evitar que, na falta de energia, o ar-condicionado pare de funcionar e as salas, com material volátil, esquentem.
À época do acidente, uma das críticas feitas ao instituto, vinculado à Secretaria de Estado da Saúde, é que o local não tinha sistema antifogo, só extintores simples.
O incêndio durou cerca de uma hora e destruiu principalmente a parte das serpentes, que eram armazenadas em formol, altamente volátil.

PERDAS
De acordo com o diretor do Butantan, Jorge Kalil, pelo menos dois terços das 85 mil serpentes foram perdidas.
O prédio abrigava ainda uma coleção de 500 mil artrópodes (aranhas e escorpiões), que também foi parcialmente destruída, assim como parte dos 5.000 anfíbios (sapos, rãs e pererecas).
Ainda não há um levantamento completo das perdas.
O novo prédio terá 1.600 m2 -o antigo tinha 1.200 m2- e dois andares. O obra custará R$ 2,99 milhões e deve ser concluída em um ano.
O espaço poderá abrigar entre 75 mil e 85 mil exemplares. Mas o Butantan ainda não sabe quanto tempo levará para repor o que foi perdido. A coleção foi construída ao longo dos 110 anos da instituição, festejados ontem.

Dengue avança 49% em uma semana

Ribeirão Preto, Quinta-feira, 24 de Fevereiro de 2011
 



Ribeirão tem 481 novos casos da doença e o total de confirmações no ano chega a 1.465, ou 27 registros por dia

Zona leste da cidade, com 565 confirmações, lidera o total de casos, sendo seguida pelas distritais oeste e norte


Márcia Ribeiro - 4.fev.11/Folhapress

Agente do Controle de Vetores procura criadouro do Aedes aegypti no Salgado Filho

DE RIBEIRÃO PRETO

Em apenas sete dias Ribeirão registrou 481 novos casos de dengue, o que elevou para 1.465 o total de confirmações da doença somente em 2011.
Se comparado ao boletim anterior emitido pela Vigilância Epidemiológica da Secretaria da Saúde de Ribeirão, a alta no total de casos chega a 48,8% -eram 984 confirmações até o dia 16.
De acordo com a chefe da Vigilância Epidemiológica, Ana Alice de Castro e Silva, o crescimento semanal no número de casos repete o quadro histórico dos últimos anos, quando a doença avançou até atingir o seu pico de transmissão, que geralmente ocorre em abril.
Características desse período do ano, como chuvas e clima quente, também são propícias para a proliferação do Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue.
Por isso, a tendência é que o número de casos siga em alta enquanto ainda não chega o período de pico.
"É possível quebrar essa cadeia mas, para isso, é preciso um trabalho intenso de eliminação dos criadouros. É o momento de cada um fazer sua parte", afirmou.
Segundo o boletim divulgado ontem, a zona leste de Ribeirão Preto continua concentrando o maior número de registros da doença.
São 565 casos confirmados, o que representa 38,5% do total da cidade no ano.
Em segundo lugar, aparece a distrital oeste, com 280 confirmações, seguida pela região norte, com 274.
Apesar de quase 500 novos casos terem sido confirmados em uma única semana, a prefeitura afirma que o total atual está bem abaixo do registrado no mesmo período do ano passado -em janeiro e fevereiro de 2010 foram 5.846 casos.
Em 2010, Ribeirão teve a pior epidemia da doença na história, com 30.086 casos.
Embora o total de casos seja inferior em 2011, uma morte já foi registrada. No último dia 28, a auxiliar de enfermagem Flávia Patrícia Quirino, 36, morreu e o resultado do exame feito pelo Instituto Adolfo Lutz foi positivo para a dengue.

USP faz campanha contra os casos de abandono de animais

São Paulo, quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
 



CRISTINA MORENO DE CASTRO
DE SÃO PAULO

Quem entra na USP, no Butantã, na zona oeste de São Paulo, vê a imagem do olho de um cão e o alerta: "Abandono de animais é crime. Estamos de olho."
Há dez anos, a universidade vem se empenhando para proteger os animais abandonados, desde que o programa USP Convive foi criado.
Nesse período, a iniciativa conseguiu a adoção para cerca de 2.000 animais.
Os outdoors "ameaçadores", instalados no ano passado, surtiram algum efeito: em vez de 30 cães abandonados no fim de ano, que é a época em que os casos mais ocorrem, foram cerca de dez.
Mas o campus não para de receber os despejos, que são feitos por pessoas que levam os animais escondidos no porta-malas dos carros.
"Já deixaram até coelhos, patos, galinhas, maritacas", afirma Elizabeth Rabóczkay, uma das voluntárias que trabalham no canil-destino dos cães abandonados.
À medida que os animais são entregues para adoção -cerca de dez por mês- novos hóspedes recebem comida e são vacinados, castrados e vermifugados.
Eles costumam ser abandonados quando já estão velhos ou doentes, e muitos morrem atropelados ou vitimados por tiros, venenos, esfaqueamentos e água quente jogada por vândalos.
Quem se interessar em adotar um animal pode acessar o site Patinhas Online (www.patinhasonline.com.br), parceiro do programa, ou agendar uma visita ao canil por meio do telefone 0/xx/11/3091-4591.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Vacina antidengue pode chegar primeiro ao Brasil

Executivos da empresa Sanofi Pasteur vêm ao País em março para tentar fechar acordo com o governo federal que antecipe a distribuição do imunizante

O ESTADO DE SÃO PAULO, São Paulo, 22 de fevereiro de 2011 
 
Jamil Chade 
 
Noventa anos após iniciados os primeiros estudos, a vacina contra a dengue entra na fase final de preparação e o Brasil pode ser o primeiro país a recebê-la. Em março, executivos da empresa francesa Sanofi Pasteur desembarcarão em Brasília para propor ao governo federal um acordo para que o País tenha prioridade na distribuição do imunizante.
Hélvio Romero/AE
Hélvio Romero/AE
Agente da prefeitura identifica foco da dengue em SP
A corrida pelo Brasil não ocorre por acaso. Considerada uma vacina para atacar uma doença comum em países pobres, multinacionais buscam locais onde possam compensar seus investimentos. O Brasil, portanto, seria perfeito: no País a doença é endêmica e, ao contrário da África, possui recursos para a vacina.
Os testes da terceira fase do imunizante desenvolvido pela Sanofi serão iniciados neste ano, com 30 mil pessoas. O Brasil fará parte desses testes. Se a eficácia do produto for comprovada, o primeiro pedido de registro e autorização será feito em 2013. Para a Sanofi, a meta é a de ter o produto no mercado mundial já em 2015. "Caminhamos para o controle de mais uma doença. Para alguns países, isso será fundamental", afirmou o vice-presidente da Sanofi, Michael Watson.
Prazos menores. No caso do Brasil, a empresa quer negociar prazos menores para permitir que a vacina chegue à população. "O que vamos propor ao Brasil é que, se houver um compromisso político e um processo mais acelerado de aprovação, o produto poderá estar à disposição antes de 2015", disse Jean Lang, vice-presidente de pesquisa e chefe do programa de Dengue.
A Sanofi enfrenta um problema: o desenvolvimento de duas vacinas contra a dengue, uma por meio de uma parceria entre a multinacional GSK e a Fiocruz e outra, pelo Instituto Butantã. Por isso, a Sanofi quer propor que seu produto seja usado no Brasil enquanto o País não finalizar sua produção própria.
Segundo o Instituto Internacional de Vacinas, a Sanofi tem pelo menos quatro anos de avanço sobre os demais projetos.
Em um primeiro momento, nenhuma das empresas terá a capacidade de suprir todo o mercado. Em sua fábrica em Lyon, a Sanofi deve produzir 100 milhões de doses por ano - quantidade suficiente para vacinar apenas o Estado de São Paulo, já que cada pessoa precisa tomar três doses.

Fungos podem ser usados na prevenção da malária, diz pesquisa

Proposta é usar esporos flutuantes para matar as 

larvas dos mosquitos antes que elas possam transmitir a doença

O ESTADO DE SÃ PAULO, São Paulo, 22 de fevereiro de 2011
 
Agência Fapesp

Um estudo que será publicado na revista Parasites and Vectors indica um método que usa fungos patogênicos como alternativa para prevenir a proliferação da malária. A proposta é usar esporos flutuantes para matar as larvas dos mosquitos antes que elas possam transmitir a doença.
James D. Gathany/Divulgação
James D. Gathany/Divulgação

A Organização Mundial de Saúde registra mais de 200 milhões de casos de malária a cada ano e a doença foi responsável por cerca de 780 mil mortes em todo o mundo em 2009. No Brasil, são cerca de 500 mil casos por ano. A malária é transmitida por mosquitos que procriam em corpos d’água e passam boa parte de seu estágio larval se alimentando de fungos e de outros microrganismos presentes na superfície da água.
O plasmódio, parasita que causa a malária, é transmitido para os humanos junto com a saliva do mosquito (geralmente do gênero Anopheles) durante a picada. No corpo humano, o parasita invade o fígado e atinge as hemácias.
Uma vez infectado, é difícil para o hospedeiro humano se recuperar porque algumas espécies de plasmódio são capazes de permanecer dormentes e evitar as drogas contra a malária. Esses parasitas também estão se tornando resistentes às drogas tomadas para evitar infecções.
De acordo com Tullu Bukhari e sua equipe do Laboratório de Entomologia da Universiidade Wageningen, na Holanda, um modo alternativo para reduzir o risco de infecção por malária é matar os mosquitos. Fungos, como as espécies M. anisopliae e B. bassiana, causam uma doença conhecida como muscardina nas larvas dos mosquitos, levando à morte dos insetos antes que eles se desenvolvam até o estágio adulto.
Os cientistas empregaram um óleo sintético como base para dispersar esporos fúngicos na superfície da água. Segundo eles, o óleo melhora a dispersão de esporos e o preparo aumenta tanto a persistência como a eficácia dos esporos. Nos testes feitos pelo grupo, no Quênia, houve morte de 50% mais larvas do que com esporos sem óleo e uma redução de 20% nos estágios de desenvolvimento dos mosquitos.

Pesquisa testa vacina contra a dengue produzida a partir de feijão

ão Paulo, sábado, 19 de fevereiro de 2011



DE FORTALEZA - A Uece (Universidade Estadual do Ceará) está desenvolvendo o que pode vir a ser a primeira vacina de origem vegetal contra a dengue.
O imunizador, que deverá ser testado em humanos nos próximos meses, já se mostrou eficaz em camundongos, que conseguiram produzir anticorpos contra a doença.
O feijão-de-corda (Vigna unguiculata) ou feijão-fradinho -utilizado no preparo do acarajé baiano- serviu de base para a produção da vacina.
Os cientistas conseguiram o feito com a inserção de genes do vírus na planta.
Entre as vantagens da vacina vegetal estão o baixo custo de produção (já que uma única planta pode gerar até 50 doses) e a redução do risco de reações alérgicas.
""O custo de prevenção pode ser menor que o de tratamento", avalia a bioquímica responsável pela pesquisa, Isabel Florindo Guedes.
Mesmo antes dos testes em humanos, o Núcleo de Inovação Tecnológica da universidade cearense já trabalha na transferência da tecnologia da vacina para o mercado.
A dengue matou 1.167 pessoas em 2010 na América Latina, onde foram registrados 1,8 milhões de casos, segundo dados da Opas (Organização Pan-Americana da Saúde).

Manaus tem surto de "primo" da dengue

São Paulo, sábado, 19 de fevereiro de 2011



Vírus semelhante provoca febre alta e dores fortes nas articulações e pode se espalhar pelo país com o "Aedes"

Epidemia saiu das áreas ribeirinhas amazônicas, espalhou-se pela capital e preocupa pelo risco de adaptação às cidades

JULIANA COISSI
DE RIBEIRÃO PRETO

O mayaro, um vírus semelhante ao da dengue e ao do chikungunya, que provoca febre alta e dores fortes nas articulações, saiu do isolamento de áreas ribeirinhas amazônicas e já causou uma epidemia em Manaus.
E existe risco real de que ele se espalhe para o país e se adapte ao mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, já bem adaptado ao ambiente urbano.
Essas são as principais conclusões de uma pesquisa do infectologista Luiz Tadeu Moraes de Figueiredo, coordenador do Centro de Pesquisa em Virologia da USP de Ribeirão Preto, em parceria com o Instituto de Medicina Tropical do Amazonas.
O estudo deve ser publicado ainda neste ano, segundo o pesquisador, na "Vector Borne and Zoonotic Disease", uma das principais revistas sobre doenças transmitidas por vetores, da Universidade do Texas (EUA).
A pesquisa analisou 600 amostras de sangue de moradores de Manaus que estavam com febre alta. Em 33 casos, foi constatada a presença do vírus mayaro -o que caracteriza a epidemia, segundo Figueiredo.
Quatro pacientes tiveram hemorragia leve. "Isso nunca havia sido descrito até hoje no mayaro", disse.

SAINDO DA SELVA
No Brasil, circulam 210 tipos diferentes de arbovírus, que são aqueles transmitidos por mosquitos e outros artrópodes. O mayaro é o quarto em número de infectados, depois da dengue, da febre amarela e do oropouche (também na região amazônica), de acordo com o Instituto Evandro Chagas, do Pará.
Seu primeiro registro foi em 1955, numa epidemia no Pará. Até hoje, foram notificados mil casos, nunca antes em regiões metropolitanas.
Neste ano, o mayaro foi incluído pelo Ministério da Saúde na lista de doenças de notificação compulsória -aquelas que devem ser comunicadas obrigatoriamente diante de suspeitas.
Apesar de não haver registro de mortes por mayaro, os sintomas em alguns casos provocam mais sofrimentos do que no doente de dengue.

ALCANCE
DOENÇA AINDA ESTÁ RESTRITA, DIZ MINISTÉRIO

O Ministério da Saúde disse que, por enquanto, os casos de mayaro continuam restritos à região amazônica e que não vê um risco de que ele se espalhe pelo país. Segundo o coordenador do Programa Nacional de Controle da Dengue, Giovaninni Coelho, a doença ainda é específica e não tem registro de mortes. Em São Paulo, o Instituto Adolfo Lutz não tem registros de mayaro, segundo a Secretaria de Estado da Saúde.
 

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O saneamento e a dengue

O ESTADO DE SÃO PAULO, São Paulo, 17 de fevereiro de 2011. Opinião.
 
A relação entre falta de abastecimento de água e alta ocorrência de casos de dengue no Brasil foi comprovada pelo último Levantamento Rápido de Infestação por Aedes aegypti (LIRAa) de 2010, um mapeamento realizado pelo Ministério da Saúde para identificar regiões em que é maior a presença do mosquito. Sem água nas torneiras ou submetidos a rodízios frequentes no abastecimento, moradores de várias regiões do País apelam para o estoque de água - em caixas ou outros sistemas improvisados e sem segurança.
No Nordeste, por exemplo, 72% dos focos de mosquito encontrados estavam em depósitos de água; no Norte, 48% dos criadouros encontravam-se em tonéis, tambores e poços. Os antigos focos - vasos, lajes, piscinas, pneus, entre outros - aparecem bem pouco nas estatísticas. No Norte, apenas 22,6% dos criadouros estavam nesses pontos.
Tão importante quanto as campanhas de conscientização e a vigilância nos focos de mosquito é, portanto, investir em obras de saneamento, e em ritmo acelerado. Embora haja recursos disponíveis, isso não tem ocorrido. A falta de projetos de qualidade impede que Estados e municípios se habilitem a receber verbas federais que poderiam financiar obras de abastecimento de água, esgotamento sanitário, manejo da água das chuvas, coleta e destinação de resíduos sólidos, além da preservação dos mananciais. Em 2010, pelo menos R$ 900 milhões deixaram de ser distribuídos pelo Ministério das Cidades. Do total de R$ 4,6 bilhões, R$ 3,7 bilhões foram contratados por meio do Programa Saneamento Para Todos, incluído no PAC.
Nenhum centavo deveria ser desprezado, pois em 16 Estados é alto o risco de surto de dengue, conforme o Ministério da Saúde: Acre, Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Sergipe e Tocantins. Em São Paulo, o risco é considerado moderado. Mas representantes do Ministério afirmam que a alocação de recursos esbarra na pouca capacidade de endividamento das companhias estaduais de abastecimento e nas falhas graves dos projetos apresentados. Em 2011, o programa colocará à disposição de prefeituras e governos estaduais R$ 4,8 bilhões para obras de saneamento, recursos que, na maior parte, vêm das contas do FGTS.
Há dias, em entrevista à Rádio Nacional, o superintendente executivo da Associação das Empresas de Saneamento Básico Estaduais, Walder Suriani, explicou que o principal entrave para o setor é a burocracia. Segundo ele, é antiga a luta das estatais para que a União torne mais ágil a concessão dos financiamentos para obras de saneamento. Simplificar as exigências não significa abolir as garantias para que o dinheiro público seja bem aplicado. Significa adotar o ritmo de que o País precisa para resolver os problemas de saneamento que tanto afetam a saúde pública.
A Organização da Sociedade Civil de Interesse Público Trata Brasil reúne estudos que avaliam o esforço necessário para universalizar os serviços de água e esgoto no Brasil. Ela estima que são necessários investimentos de R$ 270 bilhões nesse setor nos próximos anos. Somadas as suas duas fases já apresentadas, o PAC prevê um total de R$ 85 bilhões em recursos para o saneamento. Embora ainda fique aquém do necessário, o esforço do governo federal deve ser reconhecido. Nas últimas décadas, o maior investimento realizado em saneamento atingiu R$ 3 bilhões por ano. Hoje, o total de recursos destinados a esse fim é mais do que o triplo. Mas é preciso que tanto as empresas de saneamento quanto o governo federal encontrem o melhor caminho para fazer uso dessas verbas.
Em janeiro, foram registrados mais de 26 mil casos de dengue em todo o País, sendo 10 mil deles na Região Norte. No ano passado, 1 milhão de brasileiros sofreram com a doença. Este quadro não deixa dúvida de que é urgente assegurar o acesso aos recursos, reduzindo a burocracia e garantindo apoio a quem tem a competência técnica para elaborar e executar bons projetos de saneamento.


terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Guerra (limpa) aos insetos

São Paulo, terça-feira, 15 de fevereiro de 2011




EMPÓRIO
Nutrição, receitas, escolhas saudáveis

EM CASA
Esses insetos que se multiplicam nas nossas casas, especialmente no verão, são inofensivos. Mas os venenos para combatê-los, não. Antes de passar para a artilharia pesada, tente espantar os hóspedes indesejados com soluções naturais, que não ameaçam a saúde das crianças ou dos animais domésticos. O entomologista Carlos Alberto Brandão lembra que alguns insetos até ajudam a manter outros longe. As formiguinhas, comuns em apartamentos, ajudam controlar as baratas, porque comem seus ovos.
Pernilongos
O cheiro da casca da laranja, do cravo, do limão, do manjericão e da citronela espanta os pernilongos. Para fazer um repelente, misture 100 gramas de folhas de manjericão, 100 gramas de citronela e um litro de álcool no liquidificador. Bata tudo, coe e coloque em um recipiente vedado. Uma vez por dia, pulverize o ambiente.
No lugar daqueles refis em pastilha dos aparelhos elétricos contra insetos, experimente usar um pedaço de casca da laranja ou de limão-siciliano.
Para fazer um repelente corporal, mergulhe um pacote de cravos no álcool por 30 dias. Depois, coe a mistura e junte 50 ml de óleo de amêndoas. Pode passar na pele, que é bom. Outra opção é misturar 200 ml de óleo mineral com 30 ml de óleo de andiroba e 30 ml de óleo de citronela -à venda em lojas de produtos naturais
Traças
Para exterminar traças e seus ovos de livros e pequenos objetos coloque-os dentro do freezer, em sacos plásticos vedados, por dois dias.
Sachês com folhas secas de lavanda, pimenta caiena, casca de cedro ou sálvia também espantam traças.
Passar óleo de lavanda nas superfícies onde ficam os livros também ajuda a manter as bichas longe dos armários
Carunchos
Os carunchos conseguem entrar em caixas de cereais e pacotes. Uma forma de evitar que isso aconteça é armazenar os alimentos que são alvo desse bichinho ( arroz, trigo e feijão) com algumas folhas secas de louro. Uma medida preventiva é colocar os pacotes recém-comprados dentro do congelador por dois dias. Isso vai matar ovos que possam já estar dentro da embalagem
Formigas
Cheiro de cravo, limão-siciliano e louro tem bons resultados para espantar formigas. Outro aroma do qual elas não gostam é o do vinagre branco. Misture o vinagre em partes iguais com água e pulverize no caminho das formigas. Para evitar ataques à comida dos animais de estimação, ponha a tigela em uma bandeja com água. Para que elas não subam até as folhas da sua árvore, envolva o tronco com fita adesiva dupla face até a altura de 7 cm
Baratas
Armadilha atóxica: besunte vaselina sólida nas paredes internas de um vidro. Dentro, coloque dois dedos de cerveja, pedaços de frutas e gotas de extrato de amêndoa. As baratas vão ficar presas no vidro. Depois, jogue água fervendo e despeje na privada. Outras opções: misture açúcar e bicarbonato de sódio (que mata os bichos) e espalhe em vasilhas pela casa; ou pingue óleo essencial de alecrim e eucalipto em algodão e distribua nos cômodos

Médicos acham casos "silenciosos" de dengue

Ribeirão Preto, Terça-feira, 15 de Fevereiro de 2011



Pacientes com febre baixa ou dor fraca também podem ter a doença

População tende a registrar casos mais graves por causa da reintrodução do vírus tipo 1, diz especialista

JULIANA COISSI
DE RIBEIRÃO PRETO

Febre alta, forte dores nas articulações e vômito são sinais claros de dengue. Mas médicos de Ribeirão Preto estão se deparando também com pacientes com sintomas mais leves, e que se confirmam vítimas da doença.
As manifestações clínicas da dengue em algumas pessoas mostram-se diferentes das habituais, segundo o diretor-clínico da unidade de emergência Unimed 24 Horas, Roberto Nakao.
"Temos encontrado paciente sem febre, sem dor e que está com dengue. Ou então ele só chega com uma pequena dor muscular, sem febre ou vômito, e que depois de investigarmos confirmamos que era dengue."
A Vigilância Epidemiológica de Ribeirão Preto diz não ter um levantamento estatístico para saber se há ou não um aumento de casos não tradicionais de sintomas.
Segundo o médico epidemiologista do órgão Cláudio Souza de Paula, a alteração de sintomas é característico na evolução da doença.
"Isso é esperado para a dengue. Na medida em que a doença sensibiliza as pessoas, há a tendência de aparecerem formas mais raras."
O mais comum é a manifestação de sintomas combinados, como a febre persistente, dor nos olhos, nos músculos e nas articulações, mas acontece de pacientes só apresentarem um deles, e com menor intensidade.
Para alertar sobre as mudanças da doença, a secretaria tem pedido que médicos de hospitais públicos e particulares redobrem a atenção com a doença. Uma reunião deve ser marcada ainda neste mês pela vigilância.
Segundo o epidemiologista Roberto Medronho, da UFRJ, a dengue é uma doença complexa que pode reunir uma variação do sintomas ou até não ter sintoma nenhum.
O mais comum atualmente, de acordo com o especialista, é a evolução para casos mais graves. Uma das razões é a reintrodução do vírus tipo 1, ao qual as pessoas estão mais suscetíveis.

SERTÃOZINHO
Com 61 casos positivos, a Secretaria da Saúde de Sertãozinho deve contratar mais 30 agentes para ajuda no combate à dengue.
A proposta, segundo o coordenador do Núcleo de Controle de Vetores, Ademar Prudente Correa, é que eles atuem orientando a população sobre a doença.
A cidade já tem 62 agentes para eliminar focos do mosquito Aedes aegypti. Sertãozinho, vizinha de Ribeirão, teme uma epidemia -em 2010, a cidade teve 497 casos.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Brasil se arma contra doenças na Copa


CORREIO BRAZILIENSE, Brasília-DF, 14 de fevereiro de 2011

Ministério da Saúde antecipa ações de prevenção direcionadas ao Mundial de 2014 e ativa Laboratórios Nível de Biossegurança 3 nos estados para barrar epidemias graves
Laura Valente
 
Beto Magalhães/EM/D.A Press %u2013 29/11/10
Para o infectologista Carlos Starling, estrutura epidemiológica é fundamental, mesmo sem grandes eventos, visto que a globalização permitiu grande movimentação de pessoas pelo mundo, criando oportunidade de transmissão de agentes infecciosos
Belo Horizonte — Um país aberto aos turistas, mas que pretende manter portas fechadas para os males que a concentração de torcedores do mundo inteiro pode trazer: vírus, bactérias e outros agentes patológicos, alguns causadores de doenças desconhecidas ou já erradicadas no Brasil, como o sarampo. Sim, ainda faltam mais de três anos para a Copa do Mundo de 2014. No entanto, várias ações do Ministério da Saúde (MS), projetos que começaram antes mesmo de o país ser escolhido para sediar o Mundial, já estão saindo do papel e servirão para proteger a população e os visitantes no período em que o país deve receber pelo menos 300 mil estrangeiros — fluxo de visitantes na África do Sul em 2010.

Um dos projetos prestes a ter início é em Belo Horizonte. A Fundação Ezequiel Dias (Funed) prevê para março a inauguração do primeiro laboratório do estado habilitado em termos de biossegurança para isolar e investigar agentes exóticos e/ou com alto poder de contaminação. O objetivo da monitoração é dos mais importantes: permitir que órgãos oficiais e agentes de saúde tenham resposta rápida frente ao risco de proliferação de doenças, principalmente as endêmicas e pandêmicas, e criem mecanismos de contenção e bloqueio, como a produção de vacinas.

NB3 Denominado Laboratório Nível de Biossegurança 3, ou NB3, a unidade de Belo Horizonte integra uma rede que deve ter mais 11 unidades nacionais e está em fase de certificação de equipamentos para entrar em funcionamento. Segundo declaração do ministério, “a capacidade de realizar diagnósticos é de extrema importância, principalmente sobre doenças cujo grau de risco biológico é desconhecido. Nesses casos, os Laboratórios NB3 são imprescindíveis, pois garantem o nível de segurança biológica adequada à manipulação para confirmação do diagnóstico desses agentes”.

Entre as doenças infecciosas mais preocupantes estão dengue, malária, febre amarela, influenza por H5N1 e H1N1, rubéola e sarampo, meningites, síndromes gastrointestinais, leptospirose, hepatites agudas e aquelas provocadas por bioterrorismo (com transmissão intencional de agentes normais ou modificados).

Além dos laboratórios, o MS já inaugurou 23 unidades dos Centros de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (Cievs), como parte de uma iniciativa mundial para compor uma Rede Global de Alerta e Resposta a Emergências de Saúde, principalmente no caso de eventos de massa. “Hoje, existem centros estruturados em todas as secretarias estaduais de Saúde e em 23 das 26 capitais”, diz nota do ministério. Entre essas unidades estão o Laboratório de Saúde Pública do Distrito Federal, os da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) de Pernambuco, do Rio de Janeiro e da Bahia, o Instituto Adolfo Lutz e o Pasteur, ambos em São Paulo, entre outros.

“Esse projeto não foi criado para a Copa do Mundo, mas veio em uma ótima hora”, avalia Sônia Conceição Machado Diniz, bióloga especialista em diagnóstico laboratorial de doenças tropicais e responsável pelo Serviço de Virologia e Riquetsioses (doenças transmitidas por carrapatos) da Funed. “Aumentamos em muito nossa capacidade de prevenção, inclusive contra agentes desconhecidos que já deram trabalho, como o H1N1, da gripe suína, e o antraz, temido à época do atentado às Torres Gêmeas”, lembra.

Globalização Até a Copa de 2014, muito trabalho será realizado nos NB3 brasileiros. Na lista de ações imediatas, a bióloga de Minas relaciona a investigação de agentes transmissores de dengue (eles já estudam o tipo 4), febre amarela e tuberculose. Vale ressaltar que o laboratório da Funed não produz vacinas, função de outros setores da fundação, localizada no Bairro Gameleira, região oeste de Belo Horizonte, e das demais entidades que trabalham com vigilância epidemiológica, mas é a partir do trabalho deles que a Secretaria de Estado de Saúde e outros órgãos de saúde pública são acionados em caso de riscos. “Não há vigilância epidemiológica sem laboratórios especializados. Os investimentos nesse tipo de infraestrutura representam uma tranquilidade para todos nós, além de minimizar riscos para a população em geral, profissionais envolvidos e meio ambiente”, afirma Sônia Diniz.

Presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, o médico Carlos Starling explica que a demanda existiria mesmo se o país não fosse sediar o Mundial. “Toda grande movimentação de pessoas pelo mundo cria a oportunidade de transmissão de agentes infecciosos de uma região para outra. A Copa do Mundo é um desses megaeventos, com riscos de mão dupla. Mas não podemos esquecer que mesmo o fluxo de viajantes normal é gigantesco. Portanto, a circulação de agentes infecciosos é uma realidade.”

Entre os principais agentes infecciosos Starling destaca o vírus da gripe, “que circula pelo mundo todos os anos e sofre mutações frequentes, exigindo uma monitorização constante para que as vacinas sejam produzidas a tempo”, além daqueles que transmitem malária, dengue, leishmaniose, doença de Chagas e febre maculosa, entre outros. “Todos são exemplos de doenças que podem circular de uma região para outra por meio de pessoas, vetores e animais infectados. Vírus, bactérias, fungos e parasitas viajam pelo mundo de uma forma tão dinâmica quanto as pessoas”, ressalta.

PrevençãoO médico diz que a troca de informações é fundamental como mecanismo de prevenção e destaca a importância das iniciativas do Ministério da Saúde. “A vigilância epidemiológica é a principal arma que dispomos para detecção precoce de casos de doenças infecciosas e de possíveis surtos. Quanto mais rápido o problema for detectado, maior é a possibilidade de controle e bloqueio do agente infeccioso, surtos e epidemias”, defende. “Nesse sentido, a criação dos Cievs é muito importante, para detectar de maneira precoce o aparecimento de uma doença e disseminar informações que possam levar ao seu controle.”


MANUAL DA SAÚDE NA COPA

Por que o cuidado?Megaeventos podem trazer riscos à saúde pública, com a rápida disseminação de doenças infecciosas “importadas” de seus locais de origem ou pelo adoecimento de pessoas não imunes ou “adaptadas” às doenças ditas locais. Deve-se considerar que, quando uma doença é introduzida em um país ou uma zona até então livres do mal, ela se apresenta normalmente com um quadro mais grave, devido à existência de primoinfectados (pessoas infectadas pela primeira vez).

Doenças que podem aparecerServiços de assistência e vigilância à saúde devem estar em alerta para a possibilidade de ocorrência de doenças incomuns e inesperadas ao país. As mais conhecidas são: dengue 4, sarampo, rubéola, poliomelite, além de novos subtipos de influenza, febres hemorrágicas africanas e doenças endêmicas, como malária, febre amarela e outras arboviroses.

O que tem sido feitoA Secretaria de Vigilância em Saúde enviou técnicos para as Olimpíadas de Inverno 2010, em Vancouver, no Canadá, e para a Copa do Mundo da África do Sul para acompanhar as experiências desses países. Material didático da Organização Mundial de Saúde sobre eventos de massa tem sido adequado para a realidade brasileira. Já foram iniciados os estudos de Planos de Prontidão e Resposta para Possíveis Emergências em Saúde. Secretarias de Saúde de cidades-sede da Copa do Mundo estão em fase de realização de planos específicos e de capacitação profissional para a prontidão e a resposta a possíveis emergências.

O que a população pode fazerNão há motivos para alarde, desde que seguidas as orientações já conhecidas de higiene e prevenção de doenças. A agenda de vacinas deve estar em dia. Existe um planejamento em execução de todos os países perante a OMS, para que as equipes de vigilância em saúde estejam de prontidão durante o Mundial.

A Sudeco e a região solução


CORREIO BRAZILIENSE, Brasília-DF, 14 de fevereiro de 2011
RODRIGO ROLLEMBERG
Senador pelo PSB do DF
 
O Centro-Oeste já foi chamado de região solução. Numa época em que o país convivia com altas taxas de inflação e intensos desequilíbrios demográficos, as vastas fronteiras agrícolas da região, somadas ao imenso potencial de sua agroindústria, representavam perspectivas de solução dos problemas nacionais. Com efeito, propunha-se que o Centro-Oeste absorvesse o excedente de mão de obra, oriundo principalmente do Nordeste, e aumentasse
o excedente exportável, de modo a gerar divisas em moeda forte.

O Centro-Oeste cumpriu, em boa parte, tais funções. De fato, a região cresceu bem acima da média nacional. No início dos anos 1960, a economia da região contribuía com 2,4% do PIB nacional, sendo que, ao fim dos anos 1980, tal participação já havia chegado aos 8%. Ademais, a região absorveu grandes contingentes migratórios e a sua população se expandiu, entre 1970 e 2005, numa taxa média anual de 3%, bem acima da taxa de crescimento médio da população brasileira (1,9%).

Nesse processo de crescimento e de integração cada vez maior ao espaço nacional, a antiga Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco) teve participação relevante. Mesmo com suas limitações, a antiga Sudeco contribuiu para planejar o desenvolvimento do Centro-Oeste, aprimorar sua infraestrutura básica e estimular a agroindústria regional, agregando valor à produção primária.

Entretanto, a vitória do modelo neoliberal mudou radicalmente o contexto histórico do Brasil e da nossa região. A ideia de que o Estado deveria planejar os destinos do país e intervir para amenizar as desigualdades sociais e regionais foi substituída pelo paradigma do Estado mínimo, segundo o qual caberia ao mercado dirigir o desenvolvimento. Em consequência, os mecanismos de planejamento estatal foram enfraquecidos. A Sudeco e as outras superintendências de desenvolvimento regionais foram extintas.

A omissão estatal e a estagnação da economia brasileira levaram ao agravamento dos problemas nacionais e regionais. O Centro-Oeste diminuiu sua participação no PIB nacional de 8%, em 1989, para 6,5%, em 1995. Surgiu um cenário de deterioração, especialmente na região do Entorno do Distrito Federal, que passou a absorver as camadas mais pobres da capital, sem ter, em contrapartida, a infraestrutura necessária para cumprir tal função. A região solução transformou-se numa região problema.

Tal quadro de estagnação começou a mudar a partir de 2003. O governo Lula conseguiu combinar crescimento econômico com equilíbrio macroeconômico, geração de empregos, distribuição de renda e criação de um amplo mercado interno de consumo de massa. O social tornou-se o eixo do novo ciclo de desenvolvimento, o qual, combinado com o maior protagonismo internacional do país e a consolidação de sua democracia, mudou o patamar histórico do Brasil. Hoje, nossas perspectivas são amplas.

Nesse novo contexto, o combate às desigualdades regionais e o planejamento estratégico do espaço nacional têm de caminhar ao lado do esforço pela superação das desigualdades sociais. Por isso, decidiu-se recriar a Sudeco que, segundo o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, passará a funcionar brevemente. Trata-se de uma nova Sudeco, que, além de ter de persistir na solução dos históricos problemas de infraestrutura e sociais, tem dois novos desafios a enfrentar. O primeiro tange ao desenvolvimento sustentável. As mudanças climáticas impõem o abandono da atual economia carbonizada e a transição para a economia verde.

O Centro-Oeste, que tem três dos mais ricos biomas do planeta, o cerrado, a Amazônia e o pantanal, possui potencial gigantesco para basear seu desenvolvimento em áreas de grande futuro, como o turismo, a biotecnologia e a produção de energias limpas e renováveis. O segundo é o da implantação da sociedade do conhecimento, que gere educação de qualidade para todos, inclusive mediante a inclusão digital, e inovação tecnológica massiva, de modo a agregar valor à produção regional e aumentar nossa competitividade internacional.

Hoje, as fronteiras a serem desbravadas são as da sustentabilidade ambiental e da inovação tecnológica. A Região Centro-Oeste tem tudo para superar esses desafios históricos. Se assim o fizermos, com o apoio da nova Sudeco, temos tudo para ser, de fato, uma região solução, que se coloque na vanguarda do novo ciclo histórico de desenvolvimento nacional.

Projeto cria grande centro de ciência fora do eixo Rio-SP

São Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 2011



Complexo idealizado por neurocientista no RN, que abrange de medicina a astronomia, tem apoio federal

Ministério da Ciência e Tecnologia, porém, terá corte de verba; cientista reclama da ausência do governo local

Divulgação/Universidade Duke

Macaco usado nas pesquisas de interface cérebro-máquina; área será destaque no instituto

GIULIANA MIRANDA
SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO

Um ambicioso projeto, com apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia, pretende transformar o Rio Grande do Norte em um dos maiores polos científicos nacionais.
Seria o maior complexo tecnocientífico fora do eixo Rio-SP: um parque tecnológico de ponta, com estudos avançados de neurociência, incluindo também centros de educação básica e de estudos de astronomia.
Além desses novos espaços, o projeto vai integrar também iniciativas que já existem ou que estão em fase de construção na região metropolitana de Natal.
O projeto está em fase de finalização dos detalhes e captação de recursos.
"Vamos trazer ao Brasil grandes pesquisadores internacionais para pensar projetos de futuro com mais liberdade e olhando lá na frente", disse à Folha o ministro Aloizio Mercadante.
O idealizador do complexo é o cientista brasileiro Miguel Nicolelis, chefe do departamento de neurociência da Universidade Duke (EUA).
Ele também participou da concepção de dois projetos que já estão funcionando no Estado: o Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra, com estudos de ponta na área, e duas escolas de educação científica para estudantes da rede pública.
"A escolha do Rio Grande do Norte não foi à toa. Queremos desenvolver uma região que normalmente não tem oportunidade. É uma chance incrível para desenvolver tanto economia quanto ciência, cultura e educação", afirmou Nicolelis.
Boa parte do complexo ficará em um terreno doado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, que ficou conhecido como "Campus do Cérebro".
Lá, já funciona um centro de saúde que, no ano passado, fez mais de 15 mil atendimentos às mulheres da região. Uma escola de ensino integral, com investimento de R$ 15 milhões, está em construção e deve ser inaugurada no ano que vem.

OBSTÁCULOS
Apesar de vários parceiros já terem demonstrado interesse, o financiamento para as obras do complexo, que deve custar R$ 2 bilhões, ainda não existe.
O MCT, que manifestou interesse em contribuir e atrair recursos, sofreu recentemente redução de cerca de 15% de seu orçamento.
No corte de gastos gerais de R$ 50 bilhões feito pela presidente Dilma Rousseff na semana passada, houve outra redução, superior a R$ 1 bilhão, nesse ministério.
Além da questão financeira, o projeto também vai ter de enfrentar a falta de infraestrutura na região.
Até hoje, parte do acesso ao Instituto Internacional de Neurociências não é asfaltada. Pesquisadores e autoridades por vezes precisam eventualmente enfiar o pé na lama para chegar até lá.
Nicolelis cobra enfaticamente mais ações do poder público local para resolver a questão, inclusive através de sua conta no Twitter.
"Entra e sai político e é tudo continua igual", diz. Apesar disso, ele se diz confiante que o complexo irá conseguir apoio público integral.
O interesse internacional, por outro lado, já chegou. Uma matéria na revista "Science", em dezembro do ano passado, abordou o projeto e destacou a iniciativa de tirar o foco científico exclusivamente do eixo Rio-SP.
"Depois da matéria, fui procurando por várias instituições internacionais que querem de alguma forma investir aqui", diz Nicolelis.
"É a prova de que é possível, sim, fazer ciência de alto nível e com inclusão social no Brasil", completa.

Centro já tem computador de US$ 20 mi

DE SÃO PAULO

O futuro Instituto de Estudos Avançados do Cérebro Alberto Santos Dumont é a maior aposta do complexo do Rio Grande do Norte.
"O objetivo é fazer no Nordeste as pesquisas de ponta que nós já fazemos nos Estados Unidos e na Europa e ainda ir além", diz o neurocientista Miguel Nicolelis, idealizador do projeto.
O local é concebido para permitir análises em tempo real de grandes dados da atividade do cérebro. Algo que demanda investimentos altíssimos em equipamento.
Embora o instituto ainda esteja no papel, o seu supercomputador já está garantido. A Escola Politécnica Federal de Lausanne, na Suíça, doou uma máquina com capacidade de processamento de 46 trilhões de operações por segundo.
O equipamento, que custou US$ 20 milhões (cerca de R$ 34 milhões) e pesa oito toneladas, já está no Rio Grande do Norte, à espera do início das atividades.

CÉREBRO-MÁQUINA
Nicolelis pretende usar o supercomputador para avançar em seus estudos sobre as interações cérebro-máquina.
O neurocientista é referência na área e já conseguiu fazer com que macacos controlassem um braço robô, além de outros dispositivos, usando a força da mente.
No Brasil, os estudos envolverão humanos, que participarão de um monitoramento indolor.
As pessoas se acomodarão em um dispositivo, parecido com os antigos secadores de cabelo dos salões de beleza, e controlarão um ambiente de realidade virtual apenas com seus pensamentos.
No plano virtual, poderão mexer em tudo.
Ao mesmo tempo, suas atividades serão recolhidas e processadas em tempo real pelo supercomputador.
"A quantidade de informação gerada será incrível. Acredito que teremos excelentes resultados", diz Nicolelis. (GM e SR)