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quinta-feira, 7 de julho de 2011

Esperança no combate à malária

Correio Braziliense. Brasília-DF, 07 de julho de 2011
Saúde
Pesquisadores testam droga no Senegal e conseguem reduzir em 75% a população de mosquitos infectados pelo Plasmodium. Próximo passo será examinar o efeito do remédio na diminuição de contaminações
Max Milliano Melo

Todos os anos a malária ou paludismo — doença infecciosa causada pelo parasita Plasmodium e transmitida pelo mosquito-prego, do gênero Anopheles — causa pelo menos 1 milhão de mortes, por ano, com 300 milhões de novos casos, em todo o mundo. Considerado uma doença da pobreza — que contamina 50% da população de 109 países — o mal permanece praticamente sem merecer atenção de nações ricas e soluções globais efetivas que barrem a epidemia. Com picos de infecção em massa sobretudo nas estações chuvosas, quando o mosquito se prolifera com mais velocidade, a doença atinge com maior agressividade crianças menores de 5 anos e mulheres grávidas — principalmente em países africanos, asiáticos e latino-americanos.

Uma boa notícia, porém, deve ser divulgada, em meio a panorama tão dramático, e soa como um sinal de alerta sobre a real possibilidade de se conseguir, finalmente, reduzir os índices de morbidade e de mortalidade da malária. Uma pesquisa da Universidade de Colorado, nos Estados Unidos, e do Departamento de Saúde Pública do Senegal, na África, publicada na edição de hoje do Jornal Americano de Medicina Tropical e Higiene, mostrou que o uso de uma substância conhecida como ivermectina consegue diminuir a população de mosquitos infectados em 75% (veja arte). A novidade pode ser uma importante arma na prevenção da segunda doença mais frequente em todo o mundo, perde apenas para a Aids.

Análise de insetos
A ivermectina é uma substância bastante barata, comumente usada no tratamento de ácaros e carrapatos em seres humanos e animais. Durante o estudo, todos os habitantes de três vilas do Senegal ingeriram comprimidos com a substância, que também é utilizado para tratar verminoses. Durante a administração do produto foram recolhidos exemplares do mosquito Anopheles na região. Após três dias, os especialistas voltaram à região e coletaram novos exemplares do mosquito. Após análises em laboratórios os pesquisadores compararam a quantidade de insetos contaminados pelo patógeno — e que, portanto, transmitiriam a doença para pessoas saudáveis — com a de mosquitos que não carregavam o Plasmodioum.

 Como se tratava do período de início das chuvas, era esperado que a população de mosquitos infectados tivesse crescido 246%. No entanto, para surpresa de todos, a quantidade desses insetos caiu 75%. “O efeito não é, necessariamente, que há menos mosquitos picando as pessoas, porque novas linhagens dos mosquitos estão surgindo todos os dias”, explicou ao Correio o pesquisador americano Brian Foy. “O que acontece é que há uma mudança na estrutura etária dos mosquitos, em que os mais jovens passam a predominar”, relata o americano.

A explicação para o fenômeno é simples. “Ao ingerir sangue com ivermectina o mosquito tem um ciclo de vida menor e não consegue transmitir a doença”, conta Foy. Os pesquisadores também acreditam na possibilidade de que uma dose subletal, ou seja, que não mate o mosquito, já seria eficiente. “Essa dose romperia a fisiologia do mosquito prevenindo ou retardando o tempo que leva para o parasita se desenvolver no mosquito”, conta o pesquisador.

Cautela e prevenção
O entomologista e pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz, do Rio de Janeiro, Ricardo Lourenço, adverte que, embora os resultados da pesquisa sejam animadores, é preciso ter cautela em relação a uma possível aplicação do mesmo método de prevenção no Brasil, onde a malária faz 300 mil vítimas por ano, especialmente na Região Amazônica. “A pesquisa mostrou resultados em uma espécie de Anopheles extremamente antropofílico, ou seja, que vive dentro das casas das pessoas e que se alimenta quase que exclusivamente de sangue humano”, explica o cientista. “No caso do Anopheles brasileiro, ele é de uma espécie que, embora entre nas casas e se alimente de sangue humano, ele não é tão antropofílico”, acrescenta.

Para ele, no entanto, o estudo pode trazer uma nova perspectiva para o controle da malária. “O caminho para conseguir eliminar o problema é aliar o tratamento da doença, que diminui a chance de contágio, com a eliminação do vetor, no caso, o mosquito do gênero Anopheles”, acredita o entomologista. “Essa nova abordagem poderia formar uma sinergia com as outras formas de controle da doença, atuando de maneira coordenada e potencializando os resultados”, completa o pesquisador.

O próximo passo dos pesquisadores é replicar os estudos em escalas maiores. “Todos os dados de que dispomos sugerem que todas as espécies do gênero Anopheles são igualmente sensíveis à ivermectina, não importa sua espécie e de que parte do mundo se originam”, explica Brian Foy, que inclui a espécie brasileira Anopheles darlingi. “No entanto, como é necessário que os pacientes tomem o medicamento com ivermectina pelo menos uma vez por mês, sabemos que essa é uma estratégia mais eficaz durante os períodos de chuva quando as populações do inseto aumentam”, conta.

Nessa nova etapa da pesquisa será possível mensurar o efeito da diminuição dos mosquitos contaminados e no surgimento de novos casos da doença. “Uma das dificuldades de se avaliar o impacto da substância sobre os novos casos de malária é que, na maioria das vezes, os casos recentes se confundem com casos antigos e recaídas”, observa Brian. “Vamos propor um ensaio clínico em que a ivermectina é administrada repetidamente ao longo da temporada de chuvas para podermos avaliar se a incidência da doença será reduzida na mesma proporção”, completa.

Três perguntas para

Brian Foy  Pesquisador da Universidade do Colorado


 A ivermectina poderia ajudar na diminuição de casos de malária em todos os contextos?
Sim, mas só se ela estiver em medicamentos de administração em massa. E apenas se essas administrações de drogas acontecerem repetidamente, talvez a cada mês, ou mais frequentemente, e durante toda a estação chuvosa que é a de maior transmissão da malária.
A malária é uma das chamadas doenças negligenciadas. O senhor acredita que com mais esforços e mais recursos poderiam encontrar a cura ou um tratamento mais efetivo?
Eu não acredito que há uma cura para a malária. Muitas ferramentas de controle devem ser implementadas de forma integrada, e por um longo período de tempo. Isso precisaria de muito mais dinheiro e esforço das autoridades de saúde em todo o mundo.
O senhor crê que os mesmos resultados encontrados no controle do vetor da malária serão alcançados no controle da doença em si?
Sim, mas primeiro precisamos provar que as administrações repetidas de ivermectina invertem a tendência de crescimento do vetor da malária. Só depois disso poderemos verificar se o resultado é o mesmo no surgimento de novos casos.

Mercado faz USP mudar curso de biologia

Folha de São Paulo. Ribeirão Preto, Quinta-feira, 07 de Julho de 2011

Alteração fará o curso ter, a partir de 2013, foco em três áreas: molecular e tecnológica, ambiental e evolutiva

Carreira passa a ter 60 vagas em Ribeirão, das quais 20 são novas; em 2018 haverá 90 vagas disponíveis no total


ELIDA OLIVEIRA
DE RIBEIRÃO PRETO

O apelo da sustentabilidade, a exigência de relatórios de impacto ambiental a cada novo empreendimento e um mercado propício ao desenvolvimento da biotecnologia.
A demanda do mercado impulsionou a criação de novas ênfases para o curso de graduação de biologia na USP (Universidade de São Paulo), em Ribeirão Preto.
A mudança passa a valer a partir de 2013, quando o curso será focado em três áreas: molecular e tecnológica, ambiental e evolutiva.
A alteração segue resolução do Conselho Federal de Biologia e vem sendo planejada há dois anos, conta o diretor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Carlos Martinez.
Com isso, o mercado de trabalho dos futuros biólogos será mais amplo. "Há engenheiros agrônomos, florestais e vários profissionais atuando na área de biólogos", disse Martinez.
Após a reformulação, o curso terá duas fases em cinco anos: os dois primeiros anos farão parte de um ciclo básico e, no terceiro, o graduando escolhe entre as três áreas possíveis.
Além disso, haverá um estágio profissional no último semestre do curso. "Para isso, vamos firmar parcerias entre empresas e entidades da região", afirmou.
Serão disponibilizadas 60 vagas -sendo 20 novas. A partir de 2018, o curso terá 90 vagas. Hoje, segundo Martinez, quem se forma entra no mercado após fazer outras especializações.
Para atuar com ambiente, por exemplo, é preciso pedir uma licença para não ficar ilegal. "A mudança abre um leque de formação para o estudante", disse Lígia Bertolino, 23, que se forma em biologia neste ano e quer trabalhar com fármacos.
Como não passou pela nova grade curricular, terá que fazer especializações, ou mestrado e doutorado.
"Tive aulas com conteúdos que não aproveitarei no futuro", disse Ian Linares, 21, de biologia, que quer trabalhar com transgênicos.
Para ele, a nova formulação não vai "queimar etapas" de formação, livrando os alunos das especializações, por exemplo, mas dará mais subsídios para o biólogo se aprimorar na área.
Até as mudanças entrarem em vigor, as novas disciplinas serão optativas.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Morcegos são essenciais à preservação do ecossistema

Silvia Pacheco

Correio Braziliense. Brasília-DF,  03/07/2011, Ciência.
Associados a seres mitológicos sombrios e doenças, os morcegos levam a fama — injusta — de serem criaturas que causam o mal, impressão estimulada por sua natureza noturna e o hábito, comum em algumas espécies, de se alimentarem de sangue. O que poucas pessoas sabem, no entanto, é que esses animais estão mais para Batman (o herói criado pelo cartunista americano Bob Kane, em 1939) do que para Conde Drácula.

Os morcegos desempenham um papel fundamental para a saúde dos ecossistemas terrestres. Para se ter uma ideia de sua importância, eles são os maiores reflorestadores naturais do planeta, além de predadores de um vasto números de pragas agrícolas e vetores de doenças. Não é à toa que o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) elegeu 2011 e 2012 Anos Internacionais dos Morcegos, numa tentativa de informar melhor a população e juntar esforços científicos em torno desses mamíferos voadores.

Presentes na Terra há pelo menos 50 milhões de anos, eles estão em todos os continentes, exceto nas regiões polares. Desempenham um papel importantíssimo na delicada rede da vida, contribuindo para o equilíbrio da fauna e da flora de maneira única. “A sociedade deve estar informada sobre a importância desses animais e sua preservação”, opina Ludmilla Aguiar, representante do Programa para a Conservação de Morcegos na América Latina, ligado ao Pnuma.

Por conta da dieta baseada principalmente em frutas e por seus voos noturnos, os morcegos são importantes polinizadores e dispersores de sementes. Cumprem esse papel de forma mais eficiente que as aves. “Isso é essencial para garantir a saúde e a diversidade da flora e da fauna”, explica ao Correio Andreas Streit, secretário executivo do Programa para a Conservação das Populações de Morcegos na Europa (Eurobats), na Alemanha.

Diversas espécies com as quais os morcegos interagem têm importância econômica e, de graça, prestam serviços ambientais que, se cobrados, custariam uma fortuna. Durante os voos, ao defecar sementes ingeridas, ajudam a plantar uma floresta. Numa única noite, algumas espécies podem dispersar mais de 60 mil grãos. “São as sementes dispersadas por eles que ajudam no processo de recuperação de áreas desmatadas ou na regeneração da vegetação de morros e encostas”, esclarece Ludmilla Aguiar, que também é professora do Departamento de Zoologia da Universidade de Brasília (UnB).

Quem gosta de pequi ou tequila também deve muito a esses bichos, pois eles são os principais polinizadores das plantas que produzem o fruto e a bebida (o agave). “O pequi só é polinizado pelos morcegos. Sem eles, a planta não produziria o fruto”, informa Enrico Bernard, professor do Departamento de Zoologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Outro serviço prestado é o controle de pragas e insetos transmissores de doenças. Os morcegos são conhecidos por consumir até o dobro do seu peso corporal em insetos durante uma noite. Isso os torna controladores naturais desses bichos, muitos dos quais pragas causadoras de danos à silvicultura e à agricultura. “Com a presença do morcego, a necessidade de utilizar pesticidas é significativamente reduzida, além da diminuição de mosquitos”, aponta Streit.

Medo de doenças
Segundo Bernard, a associação do morcego a seres sombrios foi herdada pelos colonizadores europeus. Ao chegarem aos trópicos, eles descobriram espécies que se alimentavam de sangue. “A partir daí, relacionaram os morcegos ao mito dos vampiros criado na Europa.” O que muitos desconhecem é que de 1.230 espécies descritas no mundo todo, apenas três seguem essa dieta. As demais comem frutos, sementes, roedores, peixes e pequenos pássaros.

Injustamente, os morcegos são acusados de serem pragas, de provocarem a morte de quem os toca, ou mesmo de trazerem azar, e são perseguidos e mortos indiscriminadamente. Uma das justificativas para a caça indiscriminada é a transmissão da raiva. Segundo Ludmilla, como qualquer mamífero, o morcego também transmite doenças. “Mas não são todos”, afirma. A bióloga explica que a raiva só é transmitida quando o morcego está doente. “É preciso descobrir o que desencandeia a doença nesses animais. Supõe-se que o estresse causado na população dos morcegos possa ser o gatilho para a manifestação do problema”, esclarece a especialista da UnB.

Os pesquisadores lembram que os maiores vetores da raiva eram os cães, mas nem por isso eles são mortos indiscriminadamente. “A transmissão foi reduzida pelas campanhas de vacinação. Com os morcegos, a redução aconteceria se não invadíssemos seu hábitat”, sugere Ludmilla. “E os pombos passam muito mais doenças para o homem, e nem por isso são caçados e mortos”, completa.

Para Bernard, quando se esclarece sobre a importância dos morcegos às pessoas, elas mudam sua percepção. “Trata-se de um animal interessante, com características que despertam curiosidade”, analisa o especialista. Para começar, não há apenas morcegos pretos, como se imagina. Há espécies brancas, marrons e até vermelhas. “Sem falar que são os únicos mamíferos que voam”, acrescenta. Além disso, eles representam quase um quarto das espécies de mamíferos do mundo. Segundo Andreas, um quinto das populações está criticamente em perigo. As maiores ameaças são provocadas pela ação dos homems, como o desmatamento de florestas fragmentadas, que geram perda de hábitats naturais e áreas de alimentação.

Com cerca de 170 espécies descritas, o Brasil ocupa o segundo lugar em riqueza de morcegos no mundo, ficando atrás apenas da Colômbia. No entanto, sabe-se muito pouco dos animais que habitam o país. Menos de 10% da área total do Brasil foi bem estudada e 60% ainda não têm sequer um único registro científico de uma espécie. Isso demonstra que é cada vez mais clara a importância da manutenção da biodiversidade, tanto para o bem-estar humano quanto para o clima do planeta. “O papel ecológico e funcional que os morcegos desempenham mostra-se essencial para a manutenção da qualidade do ambiente em que vivemos”, afirma Ludmilla.

Humanidade estará sempre exposta a novos surtos, diz infectologista


Correio Braziliense. Brasília-DF,  05/07/2011, Ciência. 
"O Brasil mestá num ótimo caminho, mas precisa investir muito mais ainda em saúde", explica Mendes
Na história da humanidade, são muitos os capítulos dedicados às guerras contra micro-organismos patógenos. Desde que o Homo sapiens se fixou no campo e domesticou os animais, bactérias e vírus encontraram um novo hospedeiro que, despreparado imunologicamente, tornou-se presa fácil.

As bactérias já dominavam a Terra há bilhões de anos, sobrevivendo às mais inóspitas condições, enquanto que aquela nova espécie tinha acabado de concluir seu processo de evolução. Era uma luta desigual.

Fósseis pré-históricos não deixam dúvidas de que, quando não morriam em acidentes, os primeiros homens modernos eram vitimados por infecções. As marcas podem ser observadas em ossos e dentes consumidos por micro-organismos. A cosmopolita Roma derrotava impérios, mas não conseguiu enfrentar seres invisíveis. Com um fluxo enorme de estrangeiros e uma população confinada em habitações imundas, a cidade eterna foi um centro mundial de epidemias.

A espada do bravo Marco Aurélio, célebre filósofo e estadista destemido, não conseguiu atingir o micro-organismo que o matou, em 180 d.C. Não se sabe o nome da doença, mas, pela descrição do médico Claudio Galeno, tratava-se de uma infecção que devastou Roma por 15 anos.

Na Idade Média, aumentaram os aglomerados urbanos e, com eles, a suscetibilidade a doenças patógenas. Pessoas amontoadas em péssimas condições de higiene e nenhum saneamento eram um convite a vírus, fungos e bactérias. Nenhuma epidemia foi tão terrível quanto a peste negra, que surgiu em 1347 e tomou conta da Europa em pouco tempo.

Nada menos que um terço da população do continente morreu. Os que sobreviveram tinham de lidar com outra ameaça: a hanseníase, então chamada de lepra.

Não houve Renascimento, Iluminismo e Revolução Industrial que colocasse fim à batalha dos homens contra as pragas. A penicilina, descoberta por acaso pelo microbiologista Alexander Fleming, no início do século 20, mudou, contudo, o placar. A humanidade, enfim, parecia estar no controle. Ninguém mais morreria de infecções ou doenças como tuberculose, sífilis e pneumonia.

A sensação de vitória, porém, era falsa. Logo surgiram vírus letais como o HIV e o H1N1, para novamente desafiar a medicina. Em maio, uma velha conhecida, a E.coli, surpreendeu o mundo. Uma cepa raríssima matou 47 pessoas na Europa e pode não estar restrita ao Velho Continente. Na quinta-feira, a Agência Europeia de Segurança Alimentar (EFSA) divulgou um comunicado afirmando que a origem do surto pode estar em sementes importadas do Egito.

Em entrevista ao Correio, o especialista em superbactérias Guilherme Mendes, da Life Technologies, empresa que sequenciou o genoma da E.coli, com a Universidade de Münster, na Alemanha, afirma que surtos semelhantes podem voltar a surpreender a humanidade.

O que fez essa cepa ser tão letal? É possível que outras cepas da E. Coli também surjam no futuro?
O processo que gerou essa cepa tão agressiva, na verdade, ocorre naturalmente por meio da recombinação de parte do material genético (DNA) de duas ou mais cepas distintas. O que fez dessa cepa tão patogênica e letal foi a combinação genética final que ela adquiriu. Esse processo ocorre naturalmente e é uma das maiores fontes geradoras de variabilidade desses micro-organismos. Por se tratar de um processo frequente e natural, é possível, sim, que surjam outras cepas de E. coli e que voltem a nos surpreender.

De que forma a genética está ajudando a combater os micro-organismos?

A maioria dos micro-organismos não precisa ser combatida, muito pelo contrário, dependemos deles em vários processos e muitas vezes eles são os responsáveis pela nossa defesa. Por exemplo, a nossa microbiota intestinal, popularmente conhecida como “flora intestinal”, impede que muitos micro-organismos causadores de doenças se instalem no nosso organismo. Com relação aos micro-organismos patogênicos, os métodos genéticos estão intimamente ligados à identificação desses micro-organismos, entendimento do seu comportamento, sua virulência e, finalmente, sua origem. Recentemente, grupos de pesquisa, apoiados pela Life Technologies, utilizaram testes genéticos em tempo recorde, apenas três dias, para identificar (sequenciar) e desenvolver testes ainda mais rápidos (PCR em tempo real: Polymerase Chain Reaction, Reação em Cadeia da Polimerase em português) para a detecção das cepas de E. coli responsáveis pelo surto na Europa. Essa medida foi fundamental para a contenção do surto, que poderia tomar proporções globais.

Cada vez mais, as bactérias mostram-se resistentes a antibióticos. Não está na hora de a indústria farmacêutica buscar uma nova substância capaz de combatê-las com eficácia?
A busca por antibióticos e novas drogas movimentam bilhões de dólares por ano. Existem centenas de grupos de pesquisa trabalhando nisso, no entanto o desenvolvimento dessas drogas não é trivial. É difícil pensar em um antibiótico definitivo, mesmo porque existe a evolução desses micro-organismos com o uso dessas drogas. Há algumas décadas, a ampicilina era a solução para quase todos os problemas de infecção, hoje, já observamos muitos casos de micro-organismos resistentes a ela e seus derivados. Nesse sentido, o melhor mecanismo para contenção de surtos como o que ocorreu na Europa é ter um teste rápido, preciso e acessível para identificar novos micro-organismos e tomar as providências cabíveis. O uso do sequenciador Ion Torrent Personal Genome Machine possibilitou a identificação da superbactérica E. coli.

Muitas pessoas têm medo de hospitais hoje em dia por causa de infecções. Esse temor procede?

Nos hospitais, o uso de antibióticos é frequente e, por esse motivo, os micro-organismos que sobrevivem neste ambiente são aqueles adaptados aos antimicrobianos, ou seja, são as cepas resistentes. Os indivíduos sadios que frequentam um hospital têm baixíssimo risco de serem infectados por essas cepas resistentes, pois elas têm baixa capacidade de profileração, são fracas, quando comparadas às cepas que já habitam a flora natural de um indivíduo saudável. Essa “competição pelo domínio da flora” é a seleção natural, onde vence o mais forte. Os pacientes imunocomprometidos e em tratamento com antimicrobianos possuem a flora natural debilitada, pois são sensíveis ao tratamento, o que propicia um ambiente favorável para que as bactérias resistentes ganhem essa competição. Os indivíduos sadios não devem temer o ambiente hospitalar.

Dos micro-organismos que hoje ameaçam a saúde, quais são os mais preocupantes?
Existem muitos micro-organismos que podem vir a ser uma ameaça, dentre eles podemos citar alguns vírus como influenza (vírus causador da gripe) devido à alta taxa de mutação, rápida proliferação e diversidade de vias de contaminação. Tem a Salmonella enterica e a E.coli, que são organismos relacionados a saneamento básico, e os Enterococcus spp e Staphylococcus spp, que estão muito relacionados à multirresistência a drogas e são causadores de grandes casos de infecção hospitalar.

Quando houve o surto do vírus H1N1, o Brasil conseguiu responder rapidamente. O senhor acha que o país está bem preparado para enfrentar epidemias?
Uma epidemia nada mais é do que uma guerra e para enfrentá-la precisamos de um bom exército, boas armas e fundamentalmente uma boa inteligência para articular estratégias. Muito já se avançou, mas o Brasil ainda precisa investir nessas ferramentas que capacitarão nossos profissionais a enfrentar, de forma rápida e efetiva, essas ameaças. Os investimentos devem contemplar não apenas as ferramentas mas também a formação dos profissionais da saúde, pesquisadores e administradores para que se tenha uma equipe integrada, preparada e capacitada para grandes desafios. Certamente, com esses investimentos, o Brasil estará muito bem preparado para qualquer batalha.

A história da humanidade é marcada por períodos de epidemias devastadoras. O senhor acredita que um dia será possível se livrar dessas?

A velocidade e facilidade de deslocamento no mundo hoje permite, por exemplo, que uma pessoa pegue um avião no Brasil e em menos de 24 horas esteja do outro lado do mundo, ou ainda que em menos de quarenta e oito horas estejamos consumindo no Brasil uma hortaliça produzida por um agricultor no interior da Europa. Isso sem dúvida é fantástico, porém, gera um alerta, pois, com essa rapidez, aumenta também a velocidade de propagação de doenças. Os micro-organismos estão evoluindo conosco há milhares de anos, desenvolvendo mecanismos de sobrevivência e nós, mecanismos de defesa, no entanto algumas vezes essa relação se desequilibra. Acredito que epidemias devastadoras possam diminuir e até mesmo serem controladas mais rapidamente devido a essa velocidade de comunicação.

Qual o papel da prevenção nas epidemias? O Brasil consegue
fazer bem esse trabalho?

A prevenção é sempre a melhor estratégia e deve ser prioridade em qualquer gestão de saúde pública. O governo brasileiro tem desenvolvido um bom trabalho na prevenção de algumas doenças, com importantes campanhas de vacinação e ações de divulgação, mas muito ainda precisa ser feito e não apenas por parte do governo, mas principalmente por parte da população. Por exemplo, basta vermos que por mais propagandas e ações que sejam tomadas, a dengue está aí todos os anos matando e adoecendo a população. O Brasil está num ótimo caminho mas precisa investir muito ainda em saúde, tecnologia e principalmente, educação.

Carrapatos infestam canil dos bombeiros e deixam animais doentes e isolados

 
Heróis de outros dias, os cães do Batalhão de Busca e Salvamento do Corpo de Bombeiros estão abandonados. Sem acompanhamento médico desde janeiro e com um canil infestado de carrapatos, parte dos animais não pode participar de operações ou treinamentos por suspeita de estarem doentes. Para piorar a situação, no último dia 19, Dartagnhan, 8 anos, um dos melhores cachorros de resgate do país, morreu com indício de ter contraído uma hemoparasitose.

O cabo Daniel Barrela, adestrador de Dartagnhan, contou ao Correio que o antigo parceiro, famoso na corporação pela força física e agitação, mudou de comportamento em apenas dois dias. Barrela explicou que durante uma caminhada matinal, o cachorro se mostrou abatido, começou a urinar uma cor mais escura e na hora da refeição não quis comer. “Imaginei que alguma coisa estava errada porque ele comia muito bem. No outro dia, liguei para o doutor Gustavo, veterinário que fazia o acompanhamento dos cães da corporação, e ele me disse que Dartagnhan precisava de uma transfusão de sangue. Levei o animal até uma clínica particular, mas ele não resistiu e morreu durante a madrugada”, lamentou.

O Correio conversou com o médico veterinário Gustavo Carvalho de Araújo e, segundo ele, o cachorro estava com dificuldade de respirar, urinava sangue, estava com a mucosa da gengiva e dos olhos amarelada e havia perdido 11 quilos. Na avaliação de Araújo, as características clínicas indicam que o animal estava com uma doença transmitida por carrapato conhecida como babesiose. “Esse mal deixa os cães amarelados e ele estava com a virilha desse jeito. Não o reconheci quando o encontrei, porque sempre foi muito agitado e brincalhão”, relembrou o veterinário.

Desleixo
A reportagem também visitou o canil dos bombeiros na Vila Planalto, às margens do Lago Paranoá, e encontrou uma situação precária. Dos 11 boxes que existem no local, um está com o portão quebrado e o outro sem trinco. A presença de carrapatos é comum e o terreno vizinho está abandonado, com mato alto. As paredes estão rachadas ou quebradas, o piso esburacado e as telhas furadas. Além disso, não existe uma área de isolamento para os animais que chegam das operações e a mesa usada para refeições dos oficiais também serve de maca para os cachorros.

 Atualmente, a corporação conta com nove cães. Desses, três estão em adestramento, uma cadela acabou de dar cria e outros cincos são treinados para operações de busca e salvamento. Segundo o cabo Barrela, os animais especialistas em regaste estão afastados de atividades porque aparentam estar doentes. “Eles estão ótimos para brincar, parecem saudáveis, mas quando fazem algum esforço físico ficam muito cansados, ofegantes e não conseguem latir”, detalhou.

Para piorar a situação, os bombeiros não contam com um médico veterinário no corpo de servidores. O contrato com uma clínica particular venceu em janeiro e não foi renovado. Em último caso, os cães são atendidos no Hospital Veterinário da Universidade de Brasília (UnB), mas não há um convênio assinado entre as duas instituições. A veterinária da UnB Dalila Nunes, que atendeu os animais entre fevereiro e abril, explicou que durante esse período detectou que quatro cachorros estavam com hemoparasitose, mas dois não chegaram a concluir o tratamento. “Existe um histórico de infestação de carrapatos no local. Todos os animais precisam ser reavaliados”, alertou.

Morosidade
O comandante do grupamento terrestre do Batalhão de Busca e Salvamento e chefe do canil, major Rômulo Quinhones, admitiu que o local precisa de melhorias. Segundo Quinhones, já existe um projeto que prevê novas instalações, enfermaria, sala de reunião, área de isolamento para cães que chegarem de operações e boxes mais confortáveis para os cães. Entretanto, por ocupar mais espaço que o atual, a legislação de edificações não permite que o novo alojamento seja construído na sede do batalhão na Vila Planalto.

Uma segunda opção seria transferir o canil para o posto avançado do batalhão no Setor de Clubes Sul, próximo à Ponte JK, mas o terreno pertence à Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) e ainda não foi transferido para o Corpo de Bombeiros.

“No início do ano, lançamos uma licitação para contratar uma nova empresa veterinária particular, mas nenhuma apresentou os requisitos mínimos. Agora já encontramos duas clínicas que têm interesse em participar do processo e, assim que acharmos uma terceira, lançaremos o edital. Acreditamos que até o fim do ano estaremos com o serviço normalizado”, explicou Quinhones.


Esta matéria tem: (25) comentários

Autor: Juliana SilveiraHá soluções dentro da lei, o que falta é iniciativa e compromisso do servidor público. Vão esperar licitação e contratação? Até o final do ano, os cães já morreram. Essa tragédia poderia ter sido evitada, e o povo de Brasília não precisava de mais essa vergonha no serviço público!!! | Denuncie |

Autor: Juliana SilveiraSr. Jefferson Lima, não estamos falando mal da corporação como um todo, mas da falta de iniciativa dos responsáveis pelo menos pelo canil. Comprar os medicamentos é barato e podia ser feito, dentro da lei, como compra de pequeno valor e pagamento direto! Resolveria rápido! | Denuncie |

Autor: jefferson limaComo fazer o controle de carrapatos nas áreas de cerrado e outras matas, Sr Samuel Sousa? Ambiente de treino e atuação destes cães. Basta uma picada de um carrapato contaminado para ocorrer a infecção . | Denuncie |

Autor: jefferson limaConheço o serviço destes militares,e posso dizer que se não fossem eles ,nem existiria o seviço de busca e resgate com cães em brasília. Militares que arregaçam as mangas, em dias de folga e férias para cuidarem dos cães. Tratamento medico e medicamentos bancado por eles . | Denuncie |

Autor: Fabiana CastrilhoFazer uma arrecadação e comprar medicamentos? Quantos não gastam por aí R$27,00 com besteiras? Se cada um desse esse valor, muitos estariam bem. | Denuncie |

Autor: Fabiana CastrilhoE sendo assim, não poderiam vcs por conta própria comprar medicamentos para combater carrapatos? Não são caros. Na faixa de R$10,00 para limpeza do ambiente e R$17,00 para medicar os doentes. Triatox e Doxiciclina respectivamente. A vida e sofrimento deles não conta numa hora dessas? | Denuncie |

Autor: Marcos CorreiaMeus caros não tenham duvidas que amamos nossos cães, quando aposentados eles são adotados pelos próprios tratadores até o fim de suas vidas. mas infelizmente na administração pública nem sempre conseguimos contratar o serviço que desejamos. Maj Gomes CBMDF | Denuncie |

Autor: rodrigo dutraparabens ao Correio Brasiliense por dar voz ao pedido de socorro desses animais e é sempre bom lembrar que mau trato de animais é crime previsto em lei. | Denuncie |

Autor: Rosemary Martins de OliveiraPuxa!,logo os bombeiros?!!!,ah! havia me esquecido,os bombeiros são de Brasília,que andam com carrões zero,moram bem e não estão nem ai para quem realmente precisa,esses cães não foram alistados por conta própria,pegaram eles e o treinaram,e na hora que eles mais precisam são abandonados,ABSURDO!. | Denuncie |

Autor: José JúniorSerá que entre um incêndio e outro não dava para algum "voluntário" ir lá dar uma ajuda aos cães? Ou será que eles acham que é "desvio de função"? Lastimável! | Denuncie |

Autor: José JúniorO problema não é do governo, é do ser humano. Somos um fracasso. Não temos vergonha na cara. É a falência do gênero humano. | Denuncie |

Autor: Tony ZuccoOs cães heróis do Batalhão de Busca e Salvamento do Corpo de Bombeiros já foram objeto de várias matérias e reportagens que trouxeram orgulho para todos nós. É um absurdo os PM Bombeiros deixarem a situação chegar a este ponto. Por que não falaram antes? PM Bombeiros comandantes irresponsáveis! | Denuncie |

Autor: Samuel SouzaJá tive cães que contraíram hemoparasitoses e não é difícil de perceber. Faltou ATENÇÃO aos cães, e fazer o controle dos carrapatos no ambiente é coisa que qualquer um consegue fazer. Essa manutenção custa pouco, ainda mais se comparada ao valor dos cães. Falta VONTADE de fazer. | Denuncie |

Autor: Cleverson SérgioA copa do mundo esta chegando, vamos precisar desses e muitos mais animais, para salvamento e prevenção contra explosivos, a propósito como anda o canil da PM? La também não tem veterinário, não dar para fazer uma parceria? | Denuncie |

Autor: Leo nardo mariosEsses animais trabalham duro, arriscam suas vidas, qualquer hora do dia ou da noite, dia de semana ou qualquer outro dia. Não cobram um real por isso, apenas um carinho o minimo para sobreviver com saúde. Nem isso eles tem!! Nunca vi tanto descaso.. tenho vergonha de ser brasileiro | Denuncie |

Autor: Gustavo CarvalhoSó o Dartagnhan encontrou 35 corpos em Nova Friburgo, que jamais seriam encontrados sem o trabalho do cão farejador!!! A história está bem contada, o dificil é acreditar que isso seja verdade... E saber que até o fim desse ano "provavelmente" os cães vão receber um tratamento correto, é de doer!!! | Denuncie |

Autor: Elen CarolinaOh, governador!! Olhe por nossos animais... Esses cães salvam vidas! Isso pode ser denunciado para autoridades competentes por descaso com os cães. E o órgão que treina labradores para pessoas com deficiência visual também está abandonado por falta de recursos. Nossa Brasília continua sem progresso! | Denuncie |

Autor: Fábio HeerApenas um comentário: está comprovado que o BUTOX não tem ação em todas as fases do desenvolvimento do carrapato transmissor da babesiose e erliquiose. O indicado para pulverizar ambientes é o AMITRAZ (TRIATOX). | Denuncie |

Autor: Fábio HeerA morte deste animal não está bem explicada. Os responsáveis tomaram providências somente após o animal perder 11 Kg? Se realmente a causa foi babesiose transmitida por carrapatos, outros sintomas são facilmente detectáveis. Acho um grande descaso com esses animais que ajudam a comunidade. | Denuncie |

Autor: Cesar RochaQue vergonha viver nesse paisinho.... Depois ainda adotam um lema que diz ser um País Rico, sem pobreza... Rico em corrupção e exploração... | Denuncie |

Autor: Juliana SilveiraEstou entristecida e horrorizada de conhecer esta notícia. Notadamente, é um caso de negligência. Carrapato não é difícil de combater e prevenir é tudo! Simples aplicações de produtos como Butox são aconselhados na limpeza das baias. Essa tristeza poderia ter sido evitada! Que mau exemplo! | Denuncie |

Autor: LINCOLN LINCOLN SANTOSFUI UM DOS FUNDADORES DESTE CANIL EM 1992 ,HOJE NÃO TRABALHO MAIS NESTA ÁREA DENTRO DA COORPORAÇÃO PENSO QUE DEPOIS DESTA REPORTAGEM O CANIL DO CBMDF VAI MELHORAR. 2º SARGENTO LINCOLN ´´BOMBEIROS NOSSO LEMA É VIDAS ALHEIAS E RIQUEZAS´´ . | Denuncie |

Autor: alexandre galhenoDe que adianta pagar bem os bombeiros e esquecer dos animais que os ajudam a fazer um bom serviço, Brasília acorda animais não são objetos de escritorio. | Denuncie |

Autor: edilson edilsonjmrA melhor corporação de Bombeiros do Brasil e os seus cães vivem na miséria. Cade a sociedade protetora dos animais. Cade o Governo que não toma uma providência por esses cães indefesos. Quantas vidas eles já salvaram e quantas deixarão de salvar. SOS cães dos bombeiros do DF. | Denuncie |

Autor: Beatriz BSBQue vergonha! os bichinhos servem por toda a vida e não ganham nem o atendimento veterinário adequado...

Antonio Temóteo
Correio Braziliense. Brasília,  04/07/2011, Cidades.

Metade da frota da Vigilância Ambiental vira sucata em estacionamento

Os veículos foram doados pelo governo federal: deficit prejudica trabalho dos agentes (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Os veículos foram doados pelo governo federal: deficit prejudica trabalho dos agentes
Quase metade da frota da Diretoria de Vigilância Ambiental (Dival), órgão ligado à Secretaria de Saúde do Distrito Federal, virou sucata no estacionamento da unidade. A maior parte dos 30 veículos parados foi cedida pelo governo federal e hoje não roda mais por falta de manutenção ou porque tem mais de 10 anos de uso. Enquanto a Dival não encontra uma destinação para os carros, eles se acumulam no pátio da diretoria.

Além de a maioria estar enferrujada, em muitos deles faltam peças. Atualmente, apenas 34 carros dão suporte ao trabalho de todas as equipes da unidade. Dessa forma, o trabalho de combate à hantavirose e à leishmaniose, doenças que registram aumento durante o período de seca, fica prejudicado.

A falta de carros atrapalha o trabalho diário dos agentes da Dival no controle de vetores de doenças e animais domésticos. Os 34 veículos atendem as oito unidades de vigilância ambiental localizadas em Ceilândia, Taguatinga, no Guará, no Núcleo Bandeirante, no Gama, no Plano Piloto, em São Sebastião e Sobradinho. “Às vezes, deslocamos os carros, mas um setor sempre fica descoberto”, reclama o vice-presidente do Sindicatos dos Agentes de Vigilância e Agentes Comunitários de Saúde do Distrito Federal (Sindvacs), Aldemir Domicio da Silva.

O vice-presidente do Sindvacs explica que, para algumas atividades realizadas pelos agentes, o carro é fundamental. “As equipes especiais precisam deslocar as bombas de fumacê para o controle da dengue e, cada uma delas com 40kg, são muito pesadas”, conta. Segundo ele, alguns servidores usam o próprio automóvel para fazer o trabalho. “Essa situação ocorre tanto na área rural quanto na área urbana, sem contar que carregamos uma bolsa pesada e precisamos de material de apoio, como escadas, para verificar as caixas d’água”, disse.

Reforço na frota
Para ele, são necessários, pelo menos, três carros para atender cada unidade. A diretora de Vigilância Ambiental, Regina Scala, admitiu a falta de veículos e anunciou a compra de mais 40, que devem chegar no próximo semestre. “Sabemos que a nossa frota não é ideal, talvez não tenhamos metade do que é necessário. Mas estamos correndo atrás para comprar outros carros. Para isso, precisamos de um planejamento, fizemos o que era possível com o orçamento de 2011”, afirmou. “Não havia investimento para a aquisição de novos carros nem para a contratação de pessoas nos anos anteriores”, revelou.

Quanto aos veículos parados no estacionamento da Dival, Regina adiantou que eles devem ir a leilão, mas para isso é preciso autorização do governo federal. “Como os carros são do Ministério da Saúde e da Funasa, precisamos transferir para o GDF e só depois colocarmos à venda”, explicou. Enquanto isso, ela garantiu que há um controle semanal rigoroso nos automóveis para evitar o surgimento de focos de doenças, como a dengue. Além da compra de mais veículos, a diretora da Vigilância Ambiental anunciou a contratação de 500 agentes até o fim deste ano.

Thaís Paranhos
Correio Braziliense. Brasília,  30/06/2011, Cidades.

Bicheira sob controle

BICHOS
Os vermes vão minando a saúde dos pets bem devagar. Saiba eliminá-los sem fragilizar ainda mais os mascotes
Correio Braziliense. Brasília,  24/06/2011, Revista do Correio. 
 (As calopsitas de Márcia Garcia passam por vermifugação periódica)
 
A advogada Márcia Garcia, 51 anos, divide a casa com dois casais de calopsitas. Como parte da rotina de cuidados, a cada três ou quatro meses, de acordo com as recomendações do veterinário, os animais são vermifugados. Mesmo assim, a advogada observa cuidados especiais antes de submetê-los ao tratamento. “Espero os 21 dias de chocagem, mais os 30 ou 40 dias que passam até os filhotes começarem a comer sozinhos e a criar penas, porque a vermifugação pode atrapalhar nesse período”, conta.
Aves, roedores, répteis, cães e gatos — o veterinário Pedro Henrique Siqueira explica que todos os animais devem ser vermifugados, em qualquer idade, a partir de 30 dias de vida. Os cães e gatos de rua são os mais acometidos por vermes, mas isso não significa os domésticos estão livres do problema. “Quando voltamos da rua, trazemos sujeira para casa, que pode contaminar os animais”, afirma o especialista. “Além de proteger a saúde dos pets, o tratamento protege a saúde da família.”
Cada vermífugo é indicado para uma espécie diferente de animal. Um exemplo são os para gatos. Heloísa Justen, professora de patologia animal da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, explica que, no caso dos felinos, os princípio ativos do medicamento são absorvidos rapidamente através da pele, entrando na circulação sistêmica e exercendo seus efeitos farmacológicos diretamente sobre os parasitas-alvo.
Apesar das diferenças, é possível agrupar os medicamentos em dois grupos. Pedro Henrique ensina que os de uso oral matam apenas os vermes adultos, deixando as larvas vivas. Por isso, depois de um período de 15 dias, é necessário aplicar uma dose de reforço. O outro tipo é tópico e elimina tanto os adultos quanto as larvas. Este último combate também pulgas e sarnas. Além do tratamento contra vermes, o profissional aconselha o combate às pulgas, já que as duas ocorrências costumam estar relacionadas.

Cuidados no tratamento
Na hora de vermifugar, alguns aspectos devem ser observados para garantir a saúde dos pets. Dependendo da patologia, as doses são administradas de acordo com o peso e do animal. Mas, cuidado: alguns cães são realmente intolerantes ao medicamento. Pessoas que cuidam de muitos animais em um mesmo ambiente também têm que tomar precauções. A veterinária Raquel Assunção Brozzon ensina que todos os animais da casa devem ser levados ao mesmo tempo para receber o medicamento. “Os vermes possuem dois ciclos: um interno e outro externo ao animal, quando são eliminados pelas fezes. Caso um dos bichinhos não tenha sido vermifugado, outro pode contrair os parasitas eliminados pelo companheiro”, detalha.
Se a quantidade de parasitas alojados no organismo do animal for muito grande, o remédio corre o risco de virar veneno, intoxicando o paciente. Por isso, é indispensável consultar um veterinário para avaliar a conveniência do tratamento. Para o veterinário Pedro Henrique, uma boa medida é aplicar o vermífugo oral a cada três meses. Produto tópico pede uma periodicidade diferente: uma vez por mês.

Agradecimentos: Point Animal e Bayer

Pesquisadores querem sequenciar genoma de 5 mil insetos e outros artrópodes

Max Milliano Melo

Correio Braziliense. Brasília,  16/06/2011, Ciência.

Desde 1869, quando o patologista suíço Friedrich Miescher descobriu o ácido desoxirribonucleico, conhecido pela sigla DNA, desvendar como essa molécula formadora de todos os seres vivos se organiza nas células tem sido um desafio para cientistas de todo o mundo. Depois que o código da vida do homem e de diversas outras espécies animais e vegetais foi desvendado, pesquisadores dos Estados Unidos e da Europa propõem um dos maiores projetos de sequenciamento genético desde que o Projeto Genoma Humano foi concluído, em 2000: desvendar, no prazo de cinco anos, o DNA de 5 mil espécies de artrópodes (filo que inclui cerca de 1 milhão de espécies de insetos, aracnídeos, crustáceos e outras formas de vida). Batizada de i5k, a iniciativa é um dos destaques da edição de hoje do periódico especializado American Entomologist.

O conceito básico do projeto é identificar os principais artrópodes que influenciam a vida do homem — seja transmitindo doenças ou prejudicando plantações, por exemplo — e inventariar totalmente o material genético deles. “O processo envolve a obtenção de DNA de grupos limitados de cada espécie, a montagem dos dados brutos, a descrição dos genes, além da identificação de padrões que se repetem em regiões reguladoras”, descreve em entrevista ao Correio Daniel Lawson, pesquisador do Instituto Europeu de Bioinformática, no Reino Unido.

De acordo com os pesquisadores, a agricultura, especialmente na produção de alimentos, será uma das áreas mais beneficiadas. “Com o conhecimento genético, poderemos descobrir a capacidade das espécies de metabolizar os inseticidas e criar novos produtos para os quais os insetos tenham pouca chance de se proteger”, explica Lawson. A criação de inseticidas específicos poderá ter um impacto positivo também em outras espécies. “Poderemos ter compostos que são eficazes contra as pragas, mas que não agridam espécies benevolentes, como as abelhas e outros polinizadores, fundamentais para uma grande quantidade de culturas agrícolas”, completa.

Muitas outras áreas serão beneficiadas pelo estudo, garantem os especialistas. “Haverá avanços em diversos setores. Desde biocombustíveis, que hoje sofrem com pragas, passando pelas mudanças climáticas, já que muitos insetos funcionam como sinalizadores de alterações no meio ambiente, até a segurança alimentar, no caso dos insetos patógenos”, enumera Kevin Hackett, diretor sênior do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, órgão público norte-americano que participa da empreitada. “Além disso, esperamos desenvolver ferramentas específicas para doenças endêmicas que têm insetos como vetor, que é o caso da malária, por exemplo”, acrescenta ao Correio.

Febre amarela
Os pesquisadores ainda estão fechando a lista dos 5 mil artrópodes a serem estudados, por meio de consultas na comunidade científica. Na lista de prováveis sequenciados está um velho conhecido dos brasileiros: o Aedes aegypti, propagador da dengue e da febre amarela, doenças que todos os anos atingem no mundo 100 milhões e 200 mil pes soas, respectivamente, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). O “parente” mais próximo do mosquito, o Aedes albopictus, que, além de transmitir a febre amarela, é vetor da chikungunya, já tem seu lugar garantido na lista dos insetos que terão seu DNA desvendado.

Para que, no entanto, o ambicioso projeto se concretize, os pesquisadores estão em busca de financiamento para os estudos. “Existem atualmente cerca de 30 genomas de insetos sequenciados, como o da mosca doméstica (Drosophila melanogaster). A economia do sequenciamento do genoma tem mudado dramaticamente nos últimos anos”, conta o britânico Lawson. “As tendências de cada vez melhores rendimentos nos experimentos e um custo cada vez mais baixo nos permitem prever que conseguiremos fazer o sequenciamento de muitos genomas nos próximos anos”, conclui o pesquisador.