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quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Vida de Inseto

 A época de chuvas na Região Centro-Oeste coincide com o início da primavera e favorece a proliferação de besouros, cupins e formigas. Assim, por conta do período reprodutivo e da diminuição das áreas verdes, os bichos acabam dentro de casa, para desespero de muitos moradores
 
José Roberto Luz, da UnB: "É inevitável conviver com esses animais"

É só chegar o período de chuva em Brasília que a história se repete. Os insetos passam a ser personagens constantes no ambiente doméstico. À noite, eles fazem de tudo para arranjar um espaço quentinho. Vira e mexe, é possível flagrar um inquilino indesejável a voar pelos cômodos, a subir pelas paredes ou a rastejar pelo chão. Qualquer fresta de porta e de janela ou luminária acesa são motivos para a invasão. Besouros, cupins, formigas e cigarras se revelam os mais comuns nessa época, segundo especialistas. E a presença deles tem relação com o ciclo reprodutivo de cada espécie.

A professora do Departamento de Zoologia da Universidade de Brasília (UnB) Marina Frizzas diz que o período quente e úmido favorece o aparecimento desses insetos e coincide com o início da primavera, época de acasalamento. “Agora, é tempo de revoada para que eles se acasalem e coloquem os ovos. O fato de vermos em grande quantidade é também por conta dos hábitos noturnos. Assim, eles acabam indo para residências e comércios”, esclarece. “Obviamente, é tudo normal, cíclico. No entanto, a urbanização faz com que eles tenham cada vez menos áreas verdes e migrem.”

Embora boa parte dos insetos não seja nociva ao ser humano, eles causam incômodo e sujeira. Onde há alimento, então, é ainda mais comum encontrá-los. A dica para aqueles que não querem a convivência é fechar as portas e as janelas, além de apagar as luzes de casa quando o uso for desnecessário. Segundo a entomologista Marina, o horário de maior movimento desses pequenos invasores é das 19h às 21h. “Esse é o período de maior atividade deles, comprovado por estudos científicos”, explicou.

Em Brasília, dois tipos de besouros predominam no período de chuva. Um deles tem chifres. “Eles pertencem a duas famílias: a Scarabaeidae e a Melolonthidae. Popularmente, são conhecidos como rola-bosta”, explica o também professor do Departamento de Zoologia da UnB José Roberto Pujol Luz. “No caso das formigas, as mais presentes nas residências, atualmente, são as chamadas formigas-doceiras —, além das saúvas, conhecidas como formigas-cortadeiras, e das içás (fêmeas das saúvas, que têm asas)”, revela.

Luz explica ainda que, quanto mais próximo de áreas verdes, mais fácil é para se encontrar insetos. “Acontece que estamos no meio do cerrado. Por isso, é inevitável conviver com esses animais. O homem não tem o que temer, precisa apenas adotar simples cuidados”, aponta. “Normalmente, as pessoas associam o aparecimento de insetos às pragas, mas não é bem assim. O fato de uma grande quantidade entrar em residências também não está associada a nenhum desequilíbrio.”

Incômodo

A dentista Arlete Antunes, 55 anos, mora em Samambaia e convive com insetos. “Eu moro em casa e, sempre que saio, deixo uma luz acesa na varanda. Quando eu chego, o chão está infestado de besouros pretos e uns bichinhos com asas que não sei exatamente quais são. Incomodam bastante e não adianta o que eu faça”, reclama.

Diferentemente dela, o bancário Almir Silveira, 26 anos, sabe bem o que fazer para manter os bichos afastados. Ele é morador do Recanto das Emas e instalou telas em algumas janelas de casa para evitar a presença dos invasores. “Na minha região, inseto é o que mais tem. Se não me protegesse assim, a minha casa estaria infestada. Tenho um filho pequeno, também por isso procuro evitar o contato”, contou.

A professora e pesquisadora do Departamento de Biologia da Universidade Católica de Brasília (UCB) Cristiane de Assis sinalizou que os insetos mais preocupantes nesse período são os vetores de doenças, como os mosquitos. “Esses também estão presentes na época das chuvas, não podemos esquecer. A sugestão é manter a casa limpa, sem amontoado de lixo e evitar deixar água parada ou acumulada”, detalha
» MARIANA LABOISSIÈRE

Correio Braziliense. Brasília-DF,  20 de outubro de 2011. Cidades, pág. 40.

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