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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Confraternização de fim de ano dos bibliotecários da Rede de Bibliotecas Setoriais da SES


Bibliotecários da REBIS


Gisele (HRAN), Viviany (FEPECS), Warley (HRAN).



Gisele/HRAN; Eduardo/DIVAL; Lidiane/FEPECS; Eldisa/HRS, Catherine/HBDF; Viviany/FEPECS; Warley/HRAN; Débora/LACEN; Denilúcia/HRS; Lucimara/HRAS; karla/FEPECS; Nize/HRSAM; Marly/LACEN.
 

Eduardo (DIVAL) e Lidiane (FEPECS)


terça-feira, 13 de dezembro de 2011

AC: JN mostra diferenças no combate à dengue em duas cidades

JORNAL NACIONAL, Tv Globo. Edição do dia 13/12/2011

No Norte do Brasil, o percentual da população em áreas de risco é de 16,8%, mais que o triplo da média nacional. Equipe visitou duas cidades muito próximas, mas em situações bem diferentes.





A equipe do JN no Ar foi para o Acre investigar a situação da dengue, às vésperas do verão.

A equipe precisou ficar mais ou menos 12 horas nas ruas, porque precisava encontrar, em duas cidades diferentes, o que estava sendo feito pelas autoridades, e também o que não está sendo feito por elas, para combater o mosquito da dengue. Há muita coisa certa, e muita coisa nem tão certa assim. Mas o importante é mostrar para a população, não só do Acre, mas do Brasil inteiro, que ainda dá tempo de fazer muita coisa e o que pode ser feito. A reportagem foi feita com apoio da TV Acre.
Depois de três horas e cinquenta minutos pelos céus iluminados do Brasil, assim que se chega ao Acre, se descobre que o inimigo, no local, tem outro nome: “Outro dia eu matei uma carapanã da dengue lá em casa. Ela não é listrada assim, tem uma listrinha preta. A gente chama carapanã, mas é o mosquito!”, conta uma moradora.
Independentemente do nome ou do lugar, na hora em que o ele morde é o mesmo sai de baixo. “É uma doença horrível! Dói tudo, canto dos olhos, não podia nem mexer os olhos, fiquei toda empolada, coçando”, lembra a moradora.
Na região Norte do Brasil, o percentual da população em áreas de risco é de 16,8%, mais que o triplo da média nacional.
“Nós temos chuva em abundância, temperaturas altas, umidade relativa do ar altíssima. Graças a Deus, nós não estamos em epidemia. Mas, se nós não cuidarmos, podemos vir a ter epidemia, porque temos bastante mosquito distribuídos no meio ambiente”, destaca a secretária estadual de Saúde do AC, Suely Melo.
Portanto, questão importantíssima, por lá, é combater o maldito carapanã. “A bicha é perigosa, tem que procurar!”, avisa uma mulher.
Nessa batalha, o JN no Ar vai a duas cidades muito próximas, em situações bem diferentes.
Em Bujari, autoridades federais encontraram focos do mosquito em apenas 1,3% dos imóveis vistoriados. Situação de alerta, mas não de alto risco, como na quase vizinha Senador Guiomard, onde o índice de infestação de 8,9% é sinal de muito mosquito nas casas, quintais, terrenos baldios e lixeiras, risco altíssimo, com possibilidade de surto já nas próximas semanas, com um calor cada vez maior.
Por falar em calor e as piscinas? Não dá para dizer ao certo em que quantidade o mosquito da dengue prolifera em uma piscina abandonada visitada. Mas é possível ver, a olho nu, que virou um criadouro de sapos e basta pegar um pouquinho de água para ver a quantidade de larvas.
A área pertencia a um clube particular que ficou abandonado durante anos e foi desapropriado pela prefeitura há seis meses. A prefeitura diz que vem tomando as medidas necessárias para evitar a proliferação do mosquito da dengue. Mas isso já faz seis meses.
A secretária diz que técnicos estaduais colocaram produtos químicos para matar as larvas do mosquito da dengue.
No município de Bujari, onde o mosquito dá um pouco mais de descanso, é prática frequente levar às escolas palestras de esclarecimento. Será que as ruas e praças de lá são sempre limpas? “Sabiam que vocês vinham e a cidade tinha que estar limpa”, revela uma mulher.
Pendurar enfeites de Natal que acumulam água e servem de criadouro não parece um bom caminho para manter o perigo distante.
Às 10h da manhã no Acre, meio-dia no horário de Brasília, apenas três horas depois que a equipe do JN no Ar passou pelo clube abandonado, a prefeitura conseguiu seis funcionários para fazer a limpeza das piscinas. Coincidiu com a visita o chamado arrastão contra a dengue em Senador Guiomard. Agentes municipais e estaduais bateram nas portas de várias casas dando orientações e procurando o mosquito onde quer que ele estivesse.
Por todo o país, 742 mil já pegaram dengue este ano. Mesmo com uma redução no número de casos, foram 456 mortes. É uma questão nacional que merece atenção de todos os brasileiros.
“A gente olha tudo, caixa d’água, balde, vasilha de cachorro, tampinha de garrafa. Desde o ovo até a fase a adulta, são de 7 a 15 dias”, explica o agente de vigilância de saúde Rodrigo de Almeida.
É tão rápido que operária Marluce não fazia ideia da criação de mosquitos no quintal de casa.
“Tenho cinco netos. Eu não, eu já estou velha, mas e os netos? É um perigo”, diz.
Para não ter mais dúvida, Marluce prometeu seguir os conselhos dos agentes de saúde e acabou com o tal do carapanã da dengue com as próprias mãos.
“E eu tenho legítima certeza que eu digo para vocês: de hoje para frente vocês não encontram isso aqui, porque agora eu sei o que é”, avisou.
A população se mobiliza. Bastou chamar a atenção para o assunto, que todos começaram a se mexer, tirar água parada de dentro de casa e do quintal. E o JN vai continuar falando do assunto, não só no Acre, mas também em outras partes do Brasil.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Uso de inseticida contra Aedes aegypti pode atrapalhar no combate à dengue

JORNAL NACIONAL, Rede Globo de Televisão.  Edição do dia 08 de dezembro de 2011

Ele só funciona nos mosquitos mais fracos. E os que sobrevivem se reproduzem e transmitem essa resistência para os descendentes. Em pouco tempo, forma-se uma população de mosquitos que não sofrem os efeitos.








O Jornal Nacional mostrou, há dez dias, que a Prefeitura de Foz do Iguaçu, no Paraná, distribuiu inseticidas para a população como forma de reforçar o combate à dengue. Toda a cidade foi convidada a usar o spray, além, claro, de manter o cuidado de eliminar os focos de mosquitos, reservatórios de qualquer tamanho em que haja água parada.
Mas, depois que o JN mostrou essa iniciativa, o Ministério da Saúde divulgou uma nota sobre o assunto e informou que não existem evidências científicas sobre a eficácia da medida.
No Rio de Janeiro, a repórter Lília Teles foi à fundação Oswaldo Cruz e ouviu, dos pesquisadores, por que o uso do inseticida contra o Aedes aegypti pode até atrapalhar o combate à doença.
O ano que se aproxima traz previsões alarmantes para a epidemia de dengue. Os brasileiros ainda não conseguiram controlar a doença, e não é por falta de conhecimento no combate ao mosquito transmissor.
“Na minha casa todos os vasinhos têm terrinha embaixo”, conta uma senhora.
“Nas plantinhas não deixo água de jeito nenhum. Tenho pavor porque eu já tive. Tenho pavor da dengue”, garante outra senhora.
E alguns ainda vão além, para matar o mosquito: “Inseticida, sim. Nos quartos, na sala, na cozinhas, no banheiro”, revela uma mulher.
Mas inseticida é uma boa arma no combate à dengue? Ele consegue matar todos os mosquitos e evitar a epidemia da doença? A resposta é não! Isso é comprovado em laboratórios da Fiocruz em pesquisas feitas há mais de 12 anos. Os experimentos mostram o que acontece aos mosquitos quando se faz uso frequente do inseticida.
Os pesquisadores separaram dois grupos de mosquitos e aplicaram a mesma dose de inseticida nos dois. Um dos grupos é sensível, criado em laboratório e nunca teve contato com o veneno. O outro tem mosquitos retirados do ambiente, acostumados aos combates com remédio.
No grupo dos sensíveis, todos os mosquitos morreram, já no outro, o veneno fez pouco efeito e a maior parte dos insetos se manteve viva.
Segundo os pesquisadores, o mesmo acontece com o uso descontrolado do inseticida doméstico. Ele só funciona nos mosquitos mais fracos. Os insetos que sobrevivem se reproduzem e transmitem essa característica de resistência para os descendentes. Em pouco tempo, forma-se uma população de mosquitos que não sofrem o efeito do veneno.
“Se a gente usa o inseticida como a principal arma de controle de combate ao inseto, a gente vai fazer com que só os insetos resistentes sobrevivam . O que a gente tem que ter é a precaução de eliminar os criadouros”, explica Denise Valle, pesquisadora da Fiocruz.
A Prefeitura de Foz do Iguaçu informou, em nota, que recomenda o uso do spray com base em pesquisas dos hábitos do mosquito, feitas com dados da Fiocruz. E que a população foi orientada a utilizar corretamente o spray em horários e locais apropriados, e não indiscriminadamente, como vinha sendo feito.
A prefeitura ressaltou ainda que os outros métodos de combate à doença não foram abandonados.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Rio Branco, Porto Velho e Cuiabá correm risco de surto de dengue


Correio Braziliense-DF,  05 de dezembro de 2011. Brasil. 
 
Três capitais, Rio Branco (AC), Porto Velho (RO) e Cuiabá (MT), estão entre as 48 cidades com risco de surto de dengue, conforme mapa de infestação do mosquito Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, divulgado hoje (5) pelo Ministério da Saúde. Nas cidades, mais de 3,9% das casas e imóveis visitados foram encontrados larvas do mosquito, índice considerado preocupante pelo governo federal.

Para tentar conter o aumento de casos da doença em Rio Branco e em outras quatro cidades do estado, a Secretaria de Saúde do Acre decidiu conceder bônus para incentivar o trabalho dos agentes sanitários. Cada agente que diminuir em, pelo menos, 20% os criadouros do Aedes aegypti receberá um adicional de R$ 200 por mês, disse a diretora de Vigilância Epidemiológica do estado, Mônica de Abreu, à Agência Brasil. O programa, iniciado hoje (5), custará R$ 38 mil.

Segundo a diretora, outra ação em andamento é a distribuição de capas para cobertura das caixas d'água das casas. “Nas escolas municipais estão sendo feitas oficinas para conscientização das crianças”, acrescentou. Além de Rio Branco, as cidades acrianas de Brasileia, Epitaciolândia, Porto Acre e Senador Guiomard também correm risco de surto de dengue.

O mapa de infestação mostrou ainda que mais de 47% dos municípios nessa situação estão na Região Nordeste. Pernambuco tem o maior número de cidades com chances de enfrentar um surto de dengue, sete no total. São elas: Afogados da Ingazeira, Araripina, Arcoverde, Camaragibe, Floresta, Garanhuns e Santa Cruz do Capibaribe.

Em nota, a Secretaria de Saúde de Pernambuco anunciou um investimento, este ano, de R$ 4,4 milhões para a compra de 33 veículos, a contratação de 660 agentes e 35 sanitaristas para apoiar as prefeituras no combate à doença. O estado notificou 34.907 casos de dengue em 2011, ante 57.785 no mesmo período de 2010.

DF está em alerta para ocorrência de surto de dengue, diz Ministério

Correio Braziliense-DF, 05 de dezembro de 2011. Cidades.

Larissa Leite
O ministro Alexandre Padilha durante a divulgação do levantamento Rápido de Infestação por Aedes Aegypti (Liraa), do Ministério da Saúde (Marcello Casal Jr./ABr)
O ministro Alexandre Padilha durante a divulgação do levantamento Rápido de Infestação por Aedes Aegypti (Liraa), do Ministério da Saúde
O Distrito Federal é uma das 14 capitais do país em estado de alerta para a ocorrência de surto de dengue. O dado integra o Levantamento Rápido de Infestação por Aedes Aegypti (Liraa), do Ministério da Saúde, divulgado nesta segunda-feira (5/12). A ferramenta aponta a ocorrência de focos de reprodução do mosquito transmissor em 1,1% das residências do DF. Em 2010, o percentual era de 0,6% – quando a situação local era classificada como satisfatória.

De acordo com o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, os locais em estado de alerta devem ficar atentos à proliferação do mosquito transmissor. "Como as chuvas se intensificam em janeiro, fevereiro, mesmo quem está em alerta está suscetível a um surto e precisa ficar mais próximo da comunidade, orientar a população", disse. Segundo o Ministério da Saúde, a maior parte dos focos da região Centro-Oeste estão relacionados ao abastecimento de água – são encontrados em poços, caixas d'água e tambores.

No país, 48 municípios brasileiros estão em situação de risco para ocorrência de surto de dengue. O levantamento foi realizado entre os meses de outubro e novembro deste ano, em parceira com as secretarias municipais de saúde. Nos municípios em situação de risco, mais de 3,9% dos imóveis pesquisados apresentaram larvas do mosquito. Ao todo participaram 561 cidades

Brasília em alerta contra a dengue

A capital federal e mais 283 cidades apresentam índices insatisfatórios de focos do mosquito transmissor da doença, segundo o governo
Larissa Leite

Correio Braziliense-DF,  06 de dezembro de 2011. Brasil, p. 07.

Agente de saúde procura foco do mosquito da dengue em casa do Distrito Federal: maior incidência da doença ocorre no verão  (Rafael Ohana/CB/D.A Press - 5/10/10)
Agente de saúde procura foco do mosquito da dengue em casa do Distrito Federal: maior incidência da doença ocorre no verão

Mais da metade dos municípios do país avaliados pelo Ministério da Saúde (MS) estão em situação de alerta ou risco para a ocorrência de surto da dengue. O risco iminente, calculado quando pelo menos quatro de 100 residências apresentam focos de reprodução do mosquito transmissor da doença, atinge cerca de 4,6 milhões de pessoas em 48 cidades brasileiras. Já a situação de alerta — observada quando a infestação ocorre em percentual que varia de 1% a 3,9% dos domicílios — afeta 236 cidades, sendo 14 capitais. Brasília não apenas está entre elas, como teve piora no índice deste ano, quando comparado ao do ano passado. Em 2010, o Distrito Federal tinha um índice de 0,6%, considerado satisfatório. Neste ano, subiu para 1,1% — valor maior do que o observado em Campo Grande (1%) e um pouco inferior ao de Goiânia (1,2%). Os índices mais altos entre as capitais foram observados em Salvador (3,5%), Palmas (3,1%) e Recife (3,1%).

Para chegar aos dados, o ministério avaliou 561 cidades em outubro e novembro deste ano por meio do Levantamento de Índice Rápido de Infestação por Aedes aegypti (LIRAa 2011). Com a ferramenta, é possível gerar um mapa no qual pode-se identificar a concentração das larvas do mosquito transmissor da dengue. Ao anunciar os dados, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, ponderou que eles não representam “o risco de uma epidemia”, que “deve combinar o foco do mosquito e o aparecimento no número de casos”. Mas o secretário de Vigilância em Saúde da pasta, Jarbas Barbosa, reiterou a necessidade de vigilância para as cidades que receberam uma mancha vermelha no mapa da dengue. “Há uma correlação entre índice de infestação alto e risco de epidemia, isso é comprovado cientificamente.” Ainda segundo o secretário, a combinação da “mobilização da comunidade e um efetivo trabalho de campo dos agentes de saúde” pode melhorar a situação das cidades ainda neste ano.

O secretário exemplificou a necessidade do reforço no combate ao foco do mosquito com a realidade da capital federal: “Em Brasília, como em outros municípios, temos uma situação muito desigual entre bairros da cidade. Se um bairro determinado está com índice alto agora e nada for feito, isso vai se espalhar para os outros lugares e aí você vai ter muitas novas áreas com risco para dengue quando chegar o verão”. O coordenador-geral do Programa de Prevenção e Controle de Dengue da Secretaria de Saúde do DF, Ailton Domicio da Silva, adiantou ao Correio que 20 regiões do DF mantêm os índices de infestação abaixo de 1%, ou seja, satisfatórios. No entanto, pelo menos cinco regiões contribuem para elevar o índice geral da região: Colônia Agrícola Samambaia (4,5%), Recanto das Emas (de 1,1% a 2,6%), São Sebastião (2,4%), Guará I (2,3%) e Lago Norte (2%).

Segundo Ailton Domicio, em Brasília, os principais criadouros do mosquito da dengue estão localizados em recipientes móveis. “No Lago Norte, por exemplo, 66,7% dos casos de focos são em vasos de plantas, bebedores de animais, pequenos depósitos, objetos que acumulam água por descuidos do morador.” O tal descuido é apontado por Ailton como um dos possíveis motivos para o aumento do índice de foco do mosquito em Brasília. “A explicação desse aumento é difícil de ser dada, já que as ações de prevenção e mobilização aumentaram. Quando o agente passa e encontra uma situação de risco, ou ela é eliminada ou tratada com inseticida. E ela vem acompanhada de orientação, mas, se o morador não incorpora a orientação, fatalmente a situação poderá se repetir”, afirmou.

Ailton reforça, no entanto, que o aumento no percentual dos focos não representa diretamente o aumento de casos. Em 2009, o DF teve 463 ocorrências confirmadas de janeiro a novembro. No mesmo período de 2010, 12.426. Até 3 de dezembro deste ano, 1.469. “Em 2010, tivemos um surto. Neste ano, não conseguimos equiparar nosso números com os de 2009, mas esse é o objeto para o verão 2011-2012”, afirmou. Ainda neste ano, o Ministério da Saúde repassará R$ 2,2 milhões ao DF para a ampliação das ações contra a dengue na região.

Colaborou Renata Mariz

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Mortes de animais com leishmaniose deixam moradores do Lago Sul em alerta

 Após a morte de animais no bairro, a comunidade se mobiliza para evitar novas contaminações. Até setembro, 296 casos da doença foram registrados no Distrito Federal


Correio Braziliesne-DF, 26 de novembro de 2011, Cidades, p. 40.

Ariadne Sakkis

Natália acompanhou o sofrimento de sua labradora, que definhou em apenas dois meses e foi sacrificada (Adauto Cruz/CB/D.A Press)
Natália acompanhou o sofrimento de sua labradora, que definhou em apenas dois meses e foi sacrificada


Diversas pessoas perderam animais de estimação por causa da leishmaniose na QI 25 do Lago Sul nas últimas semanas. Apenas no Conjunto 7, em menos de dois meses, três cães foram sacrificados. A comunidade cobra do poder público mais informações e ações preventivas, a exemplo das campanhas de combate à dengue. A leishmaniose já contaminou 296 animais entre janeiro e setembro deste ano. O último boletim epidemiológico divulgado pelo Núcleo de Controle de Endemias, Doenças Transmissíveis e Emergentes contabilizou 28 casos confirmados da doença em humanos no DF. Desse total, apenas três pessoas contraíram a doença na capital.

A médica Graça Martins, 64 anos, teve de sacrificar os dois cães da família em apenas um mês. O último foi encaminhado para eutanásia há 15 dias. Na clínica veterinária, ela descobriu a ocorrência de três outros casos. Preocupada, ela procurou a Diretoria de Vigilância Ambiental (Dival) para notificar o incidente e pedir ajuda. No Centro de Controle de Zoonoses de Brasília, a médica descobriu que o seu era o primeiro caso registrado na região. “Isso não é verdade. Apesar de a notificação ser compulsória, na prática, poucos avisam. A pior consequência dessa conduta é o risco para as pessoas. A leishmaniose é uma doença terrível, mas muita gente não sabe que o homem também pode se contaminar”, alerta.

Para conscientizar os vizinhos, ela distribuiu panfletos pedindo que os donos de cães avisassem as autoridades em caso de diagnóstico positivo para a enfermidade. Graça pediu também que a Dival faça o mapeamento da área para conhecer a real situação da QI 25. Até o momento, no entanto, a pesquisa ainda não foi iniciada. O veterinário da Dival Laurício Monteiro afirmou que a diretoria tem intensa atuação nas regiões onde a doença é considerada endêmica e que o Lago Sul faz parte da rotina de visitas de orientação. A QI 28 foi a primeira a ter registros de leishmaniose na cidade este ano.

Em agosto, a funcionária pública Natália Soares Carreiro, 46 anos, levou os dois cachorros para vacinar e o veterinário notou nódulos próximos aos olhos da labradora Mel, o que despertou a suspeita de leishmaniose. Em dois meses, veio a confirmação. A cadela definhou: perdeu peso e pelos, as unhas cresceram rapidamente, ficou com feridas abertas e os olhos enegreceram. “Quando chegou o resultado, não foi difícil sacrificá-la, já que ela estava passando por tamanho sofrimento”, lembra.

Ao comentar com outras pessoas sobre o caso, Natália constatou que muitos vizinhos haviam perdido animais por causa da doença. Ouviu também donos de cães com diagnóstico positivo afirmarem que não os sacrificariam. “É um absurdo. As pessoas precisam estar conscientes de que manter um cachorro neste estado representa um risco não só a outros animais, mas, principalmente, aos seres humanos”, lamenta a funcionária pública. Depois da morte de Mel, ela não pretende comprar outro cachorro. Agora, só há espaço para o gato, Beto.

Somente depois da experiência, Natália descobriu que o ideal é que o canil seja mantido em local ensolarado, seco e que folhas e frutas sejam recolhidas do jardim. A Dival realizou, em 2008 e em 2009, uma pesquisa por amostragem no Lago Norte e constatou que a média é de 1,14 mosquito por casa. A veterinária Maria do Socorro Laurentino de Carvalho, especialista no vetor da leishmaniose, explica que a época de chuvas e de temperaturas altas aumenta a infestação do inseto, portanto, o cuidado deve ser reforçado.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Moradores de Foz do Iguaçu se unem para combater a dengue

Jornal Nacional - Rede Globo de Televisão. Edição do dia 28/11/2011

População local vai aplicar inseticida nas próprias casas. Objetivo é matar a fêmea do mosquito e dimunuir a proliferação da doença.

Moradores de Foz do Iguaçu, no Paraná, participam de uma campanha inédita na noite desta segunda-feira (28).

Esta campanha de combate a dengue é diferente porque, além da orientação básica de não deixar água parada, foram distribuídos 8 mil frascos de inseticida. Até sexta-feira (2), a população deve aplicar a inseticida em casa. A recomendação é de que sejam jatos curtos, principalmente em locais escuros, como embaixo de armários e mesas.
“A ideia dessa campanha é criar uma consciência coletiva e mobilizar toda a sociedade de Foz do Iguaçu para matar a fêmea do mosquito, porque ela é que faz a multiplicação. Matando a fêmea, termos uma diminuição na população de mosquitos, e automaticamente a gente vai conseguir fazer com que haja menos transmissão de dengue em Foz do Iguaçu”, explica André de Souza Leandro, coordenador da campanha.
 

Aplicativo contra a dengue

Correio Braziliense-DF, 28 de novembro de 2011, Tecnologia, p. 14.
 
Daniel recebe prêmio da agência da ONU: reconhecimento pela inovação (Arquivo Pessoal)
Daniel recebe prêmio da agência da ONU: reconhecimento pela inovação

Foi com o objetivo de levar informação de qualidade à população que um jovem empreendedor de Goiânia criou um aplicativo para televisão digital, ensinando a combater a dengue, doença que costuma atacar no verão, com o aumento do calor. Daniel Alves, 28 anos, engenheiro da computação, ganhou um prêmio da União Internacional de Telecomunicações (ITU-T), agência das Nações Unidas que, em julho, lançou um desafio mundial. Os desenvolvedores precisavam criar aplicativos para a televisão digital, em qualquer área que quisessem. “Escolhi fazer um aplicativo sobre dengue, porque esse é um dos casos epidemiológicos mais graves no Brasil, e a falta de conhecimento aumenta a cada ano o número de infecções”, diz.

Ele desenvolveu o produto para a empresa IPTV, incubada na Universidade Federal de Goiás. “Criei o Dengue Combat com o objetivo de permitir a interatividade na TV digital”, diz Alves, lembrando que, no Brasil, a televisão está presente em quase todos os lares. Aplicativos para essa plataforma também podem ser acessados em celulares que têm sinal para a tevê digital que, em 2016, substituirá completamente a analógica.

A ideia do aplicativo é que, apenas com o controle remoto, o usuário tenha acesso a informações como prevenção, combate e até mesmo os postos de saúde mais próximos. Por enquanto, nenhuma emissora comprou o produto, premiado no fim de outubro, mas Daniel acredita que emissoras públicas, que têm caráter educativo, seriam os melhores veículos para divulgar o aplicativo. “Pelo compromisso social, acredito que seria fantástico se houvesse interesse”, diz.

Para Daniel, a televisão interativa oferece inúmeras oportunidades na área de prestação de serviço. Como exemplo, ele cita o governo eletrônico. “Pela tevê, a pessoa poderia, por exemplo, marcar a consulta no hospital público. As possibilidades são bem amplas”, diz o engenheiro. (PO

Dengue 4 ronda o DF

Correio Braziliense-DF, 28 de novembro de 2011, Visão do Correio, p. 10.
 
A época da chuva constitui fator de preocupação no Distrito Federal. O Aedes aegypti responde pelo desassossego. Transmissor da dengue, o mosquito encontra terreno fértil na capital. De novembro a dezembro de 2010, a Secretaria de Saúde registrou 12.421 casos. Nos 11 primeiros meses de 2011, 1.457. Este ano, notícia da chegada do sorotipo 4 do transmissor aos arredores do DF traz apreensão adicional. Não se pergunta se ele atravessará o limite de Goiás. Pergunta-se quando o fará.

Duas pessoas notificaram a contaminação pelo vírus. Uma em Aparecida de Goiânia e outra em Goiânia. O hospedeiro circula há quase 30 anos no território nacional. Em 1982 apareceu pela primeira vez em Boa Vista, capital de Rondônia. Em 2010, voltou ao mesmo local. A livre circulação de pessoas e cargas facilitou a disseminação do inseto. Mas só agora ele ronda perigosamente nossas cidades.

Áreas nobres ou menos privilegiadas contribuem igualmente para o aumento do risco. Basta oferecer condições capazes de transformar residências em criadouros. Hábitos inocentes tornam-se arma apontada contra a população. Água acumulada em vasos de flores, reservatórios destampados de prédios, canaletas de escoamento de água, piscinas descobertas, cascatas e laguinhos decorativos — tudo pode se transformar em ambiente acolhedor para o Aedes aegypti.

Não só. O lixo moderno faz gol contra a população. Garrafas, tampas, pneus, brinquedos, lixeiras, embalagens, sacos plásticos, casca de ovo, cacos de vidro, restos de móveis, copos, colheres e pratos descartáveis abrigam água e podem, se não forem recolhidos em tempo hábil, tornar-se foco do inseto que não poupa ricos ou pobres, adultos ou crianças, poderosos ou desvalidos.

Talvez em nenhuma outra situação a solidariedade seja tão necessária. Ninguém pode impedir a chegada do Aedes aegypti ao Distrito Federal. Mas todos podem — e devem — evitar que o inseto encontre ambiente propício para se reproduzir. Impõe-se orientar a população e fiscalizar possíveis focos do inseto transmissor.

Campanhas educativas que atinjam todos os públicos precisam ser intensificadas. A visita dos agentes de Vigilância Ambiental tem de abranger o maior número possível de residências. A mobilização de igrejas, escolas, clubes de serviços, redes de relacionamentos, meios de comunicação de massa constitui passo importante que não pode esperar. O mosquito voa.

Cientistas conseguem barrar contaminação do parasita da malária no sangue

Correio Braziliense-DF, 10 de novembro de 2011, Saúde, p. 29 

Há pelo menos 50 mil anos, a humanidade é ameaçada pelo parasita causador da malária. Fósseis e múmias estudados por cientistas mostram que o plasmódio tem sido implacável ao longo dos séculos e, diferentemente de doenças que há muito foram vencidas, até hoje não se sabe como eliminá-la. Estima-se que 1 milhão de pessoas morram anualmente em consequência da doença — a maioria, crianças da África subsaariana —, mas um anúncio feito hoje na revista Nature traz a esperança da erradicação total da malária, graças a uma descoberta de pesquisadores do Wellcome Trust Sanger Institute, na Inglaterra.

Pela primeira vez em cinco décadas de busca por uma vacina eficaz, os cientistas conseguiram identificar o mecanismo exato que faz com que o parasita entre na corrente sanguínea. É no momento em que sai do fígado e invade as células vermelhas que o plasmódio provoca os sintomas da doença, como febre alta, náuseas e hemorragias. Interromper essa etapa do ciclo de transmissão significa que, mesmo picada pelo mosquito transmissor, o Anopheles, a pessoa não ficará doente — ainda que passe a ser portadora do parasita. “Estamos extremamente empolgados. Acredito que esse é um avanço revolucionário”, disse um dos pesquisadores, Julian C. Reyner, durante uma teleconferência de imprensa.

Reyner explicou que, embora existam vacinas contra a malária, nenhuma conseguiu completo sucesso até agora. “Os cientistas já sabem que o problema está no processo de interação entre o plasmódio e as proteínas das células de defesa, mas esse é um mecanismo muito complexo, que as tecnologias, até agora, não conseguiram afetar. O que fizemos foi usar uma nova técnica, chamada Avexis, que identificou a chave por trás do processo”, disse.

O Avexis, que consiste em um método de escaneamento intracelular, foi criado pela equipe do cientista Gavin Wright. “Essa interação que ocorre entre o plasmódio e a superfície da célula é muito frágil e, por isso, difícil de detectar em laboratório”, disse. Ele compara a ligação entre o parasita e os glóbulos vermelhos (veja infografia) a um pedaço de velcro. “Se você olhar atentamente para o velcro da sua mochila, vai ver que são vários ‘pelinhos’ que ligam um lado ao outro, de maneira extremamente forte. A nossa tecnologia conseguiu justamente identificar como esses ‘pelinhos’ agarram-se uns aos outros. Acho que, finalmente, conseguimos encontrar o ‘calcanhar de aquiles’ da malária. É reconfortante imaginar que nossa técnica poderá resolver importantes problemas biológicos e ser a base para novas terapias.”

Velcro
Quando uma pessoa é picada pelo mosquito transmissor da malária, o parasita migra para o fígado, onde se reproduz de forma assexuada. Ele fica dentro do órgão durante alguns dias e, depois, passa para os glóbulos vermelhos, que estouram, fazendo com que o plasmódio se espalhe por todo o organismo. Os cientistas do Wellcome Trust Sanger Institute descobriram como o parasita se encaixa na superfície das células sanguíneas. Isso ocorre porque uma proteína chamada PfRh5, existente no plasmódio, parece ter sido feita sob medida para se ligar a uma determinada enzima dos glóbulos vermelhos. Como um ímã, elas se atraem, fazendo a junção necessária para que a malária tome conta do organismo.

Descobrir esse mecanismo já teria sido um grande avanço, mas a equipe de Reyner e Wright foi além. “Conseguimos fazer uma coisa muito difícil, que foi isolar a proteína do plasmódio e fazer uma cultura in vitro. Então, no laboratório, injetamos anticorpos nos glóbulos vermelhos e alcançamos o que desejávamos: a interação entre o parasita e a célula foi completamente interrompida”, contou Wright. “A grande esperança, agora, é a fabricação de uma vacina para ser usada em humanos.”

Segundo Julian C. Reyner, dois pontos principais podem ser destacados na experiência. Em primeiro lugar, o fato de os cientistas terem conseguido bloquear a interação entre o plasmódio e as células. Em segundo, depois de testar mais de 15 tipos de cepas do parasita Plasmodium falciparum, o mais perigoso de todos, eles descobriram que os anticorpos conseguem combatê-los igualmente. “Essa vacina, quando pronta, será universal”, afirmou.

Em um comunicado, o Wellcome Trust afirmou que a vacina contra a malária será o modo mais simples e econômico de proteger a população contra a doença. “Para uma abordagem como essa poder trabalhar em escala populacional, contudo, a vacina precisa ser extremamente eficiente. Essa pesquisa identificou um candidato em potencial para isso.” O professor Adrian Hill, pesquisador sênior do instituto, também está bastante entusiasmado. “Ultimamente, temos visto resultados positivos nas pesquisas que testam vacinas contra a malária na África, mas nenhuma delas consegue, de fato, erradicar a doença. A descoberta de um simples receptor que pode ser atingido de forma a evitar a infecção das células vermelhas oferece a esperança de uma solução muito mais efetiva”, comentou

Chegada de mais um tipo de Aedes aegypti põe Distrito Federal em alerta

Correio Braziliense-DF, 25 de novembro de 2011,Cidades,  p. 29. 
Prevenção e orientação: agentes da Vigilância Ambiental estiveram na Estrutural na última segunda-feira (Carlos Moura/CB/D.A Press)
Prevenção e orientação: agentes da Vigilância Ambiental estiveram na Estrutural na última segunda-feira
Os moradores do Distrito Federal estão ameaçados por mais um tipo de mosquito da dengue. O sorotipo 4 do Aedes aegypti foi encontrado em Goiás, e o coordenador-geral do Programa de Prevenção e Controle da Dengue da Secretaria de Saúde do DF, Ailton Domício, admitiu que é uma questão de tempo até o inseto chegar à capital do país. Até agora, duas pessoas foram diagnosticadas com o vírus, uma em Aparecida de Goiânia e outra em Goiânia. Domício explicou que o hospedeiro circulou no país em 1982, em Boa Vista (RR), e apareceu outra vez, em 2010, na mesma cidade. “Com a capacidade de circulação de pessoas e de cargas, o quarto vírus se espalhou. Isso nos coloca em estado de alerta.”

Segundo ele, o novo tipo não tem maior ou menor intensidade do que os demais, assim como as manifestações clínicas se revelam semelhantes. No entanto, a probabilidade de mais casos serem registrados é maior, pois o sorotipo nunca circulou na capital do país.

Os brasilienses devem redobrar os cuidados com a chegada das chuvas (leia arte). Para evitar o aumento na quantidade de vítimas — de janeiro a novembro do ano passado, houve 12.421 —, a Secretaria de Saúde iniciou no último sábado a terceira semana de prevenção. O órgão mobilizou os 737 agentes de Vigilância Ambiental para orientar os moradores de Samambaia, de São Sebastião, do Paranoá, do Itapoã, da Estrutural, de Ceilândia e do Plano Piloto a combater os focos do Aedes aegypti e explicar os sintomas da enfermidade.

Domício, também coordenador do programa de prevenção brasiliense, explicou que, nos 11 primeiros meses de 2011, foram confirmados 1.457 casos no DF. Desse total, 889 foram contraídos internamente e outros 568 acabaram importados. “Estamos em uma situação melhor do que no ano passado, mas a nossa meta é atingir padrões encontrados em 2009, quando apenas 426 pacientes foram diagnosticados com o vírus da dengue de janeiro a novembro”, detalhou.

Os moradores da Estrutural começaram a ser orientados pelos agentes de Vigilância Ambiental na última segunda-feira. A dona de casa Aleciane da Silva, 27 anos, recebeu a equipe da Secretaria da Saúde, que encontrou alguns possíveis pontos de foco do mosquito. Ela foi incentivada a retirar de casa pedaços de madeira e de canos, pois podem acumular água. “Tenho o cuidado de deixar viradas latas e garrafas. Tenho medo da dengue e não quero ficar doente. Vou prestar mais atenção dentro de casa”, disse.

Entorno vulnerável

Ana Pompeu


De 19 municípios do Entorno, cinco estão classificados como de alto risco pelo número de casos de dengue notificados em 2011. Luziânia lidera o ranking na região. É a segunda cidade de Goiás com a maior incidência da doença (1.941 casos a cada 100 mil habitantes), com 8,7% do total de vítimas no estado vizinho ao DF. Houve quatro mortes. Santo Antônio do Descoberto e Alexânia tiveram uma cada, segundo boletim divulgado pela Secretaria de Saúde goiana.

De janeiro até 12 de novembro, foram notificadas 24 mortes ligadas à dengue em Goiás, uma a mais do que os dados divulgados até 5 de novembro. A redução no número de casos é de 63,6% em relação ao mesmo período do ano passado. Ainda assim, 84 municípios goianos têm alto risco de epidemia. Em 2010, Goiás enfrentou a pior crise por causa da doença em 10 anos.

Segundo o secretário de Saúde de Luziânia, Felipe Alves Cesário, a alta incidência na cidade em relação às outras pode significar subnotificação. “Como no Entorno todos os municípios são encostados um no outro, é difícil que aqui tenha mais casos que nos outros. Nós notificamos toda suspeita de dengue”, disse. Cesário marcará na próxima semana uma reunião emergencial sobre a chegada de um novo tipo de mosquito Aedes aegypti à região. Segundo ele, a região mais crítica é o Jardim Ingá.

Para a superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria de Saúde de Goiás, Tânia da Silva Vaz, Luziânia pecou por negligenciar as visitas aos domicílios. “O ideal é que pelo menos 60% dos imóveis sejam visitados. Até agosto, o município atingiu o número, mas, a partir de setembro, 35% desse valor deixou de ser visitado”, alertou Tânia


Antonio Temóteo

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Veneno de aranha mais potente que morfina, indica pesquisa realizada em MG

 Pesquisa desenvolvida em MG indica que toxina da espécie armadeira é melhor que o derivado do ópio, mesmo em doses cinco vezes menores, para minimizar a dor. A substância também demonstra manter-se eficaz durante mais tempo

Correio Braziliense. Brasília-DF,  05 de novembro de 2011. Saúde, p. 21.

 (Fotos: Marcos Michelin/Em/D.A Press)


Belo Horizonte —
Uma descoberta importante para minimizar a dor de pacientes com câncer e Aids, por exemplo. Uma forma de equilibrar um coração com arritmia. Uma chance de proteger e recuperar as células atingidas por isquemias cerebral e na retina. Tudo isso são possibilidades surgidas do uso de toxinas das aranhas-armadeiras, animais peçonhentos que não fazem teia e se encontram facilmente em bananeiras e buracos na terra e debaixo de folhas secas ou entulhos de obra. Em estágio avançado, pesquisas feitas em Minas Gerais sobre o tema já foram patenteadas, receberam apoio de instituições renomadas do país e, em aproximadamente cinco ou seis anos, os testes passarão a ser feitos em humanos.

O trabalho para desvendar o veneno da Phoneutria nigriventer começou nos laboratórios da Fundação Ezequiel Dias (Funed), em Belo Horizonte. Aranhas de campo e algumas criadas em cativeiro são induzidas a liberar o veneno, usado especificamente para imobilizar suas presas ou para sua defesa em situações de risco. A cada dois meses, os técnicos anestesiam o aracnídeo com gelo seco e dão choques nas quelíceras das aranhas — articulações localizadas do lado da boca, onde ficam as garras, que servem para apanhar as presas e injetar o veneno —, conseguindo assim extrair 10 microlitros do composto.

Depois disso, a farmacêutica com doutorado em bioquímica Marta do Nascimento Cordeiro, que coordena o estudo, separa cada uma das substâncias até torná-las puras. O processo passa pelo congelamento do veneno para remoção da parte líquida (liofilização), desidratação semelhante àquela usada para preservar alimentos perecíveis. Assim, a parte sólida é examinada pelas máquinas, que fazem a leitura e o registro dos pelo menos 80 componentes do veneno. Para identificar a pureza, retira-se também o sal dessas substâncias.

A pesquisa começou em 1963, mas, à época, não era possível purificar as moléculas na quantidade necessária. Com equipamentos mais modernos, os estudos avançaram. “Nosso objetivo era saber qual componente evidenciava cada sintoma em casos de picada”, explica a pesquisadora. A lista dos efeitos da picada observados em animais e humanos é longa: dor pungente e imediata, que irradia; cãibras dolorosas; tremores musculares; convulsões; paralisia; sudorese; priapismo; perturbações cardíacas; e distúrbio visual.

“Essa é uma aranha errante, que precisa caçar porque não faz teia. Como todo animal peçonhento, a aranha só ataca para se alimentar ou ao se sentir ameaçada, para sua própria defesa. Houve um caso recente de um adulto picado em Campinas, em 2008. Ele foi atingido na nuca, uma área sensível, mas sobreviveu. Crianças e idosos são mais frágeis e, nesses casos, o risco é maior”, explica Marta.

Resultados
A primeira fase é essencial para as análises biológicas feitas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pelo Instituto de Ensino e Pesquisa da Santa Casa, colaboradores da pesquisa. Os testes em casos de dor mostraram que uma das toxinas da aranha é mais efetiva que a morfina — e em doses cinco vezes menores. Segundo o coordenador da pesquisa de toxicologia, Marcus Vinícius Gomez, os efeitos do veneno da aranha duram 24 horas, enquanto o efeito da morfina desaparece em apenas quatro. Outra vantagem é que as toxinas não desenvolvem tolerância, como a droga.

Os estudos sobre a Phoneutria nigriventer foram feitos paralelamente a um trabalho desenvolvido nos Estados Unidos e na Europa com o caramujo-marinho, e chegaram a conclusões muito parecidas. Desde 2006, as toxinas do caramujo já são usadas em medicamentos contra dor, cujo produto comercial chama-se Prialt, que chegou ao mercado quatro anos depois dos testes em humanos. De acordo com Gomez, as toxinas da aranha são ainda mais potentes que as do caramujo-marinho e, principalmente, apresentam menos efeitos adversos.

“Percebemos que elas pertenciam à mesma estrutura química (proteínas) e a toxina da aranha repetia os efeitos do caramujo. Então, resolvemos testá-la para dor também, e descobrimos que ela ainda é mais potente, mais capaz de reverter a dor, com menos efeitos adversos. Outro detalhe é que as toxinas não causam alergia e, por isso, podem ser testadas em humanos. Não tínhamos ilusões para aplicações terapêuticas, só queríamos saber como elas agiam nos canais de cálcio (canais iônicos encontrados em células excitáveis)”, conta o professor.

Três toxinas da aranha estão em estudo. Uma delas atua contra dores do câncer e de complicações da Aids, cirúrgicas e químicas; contrações abdominais; e contra o sofrimento relacionado à remoção do nervo ciático. As outras duas têm efeitos contra as isquemias cerebral e na retina e contra a arritmia. A dificuldade, segundo o pesquisador, é a obtenção e produção de grandes quantidades do veneno. Por isso, as moléculas estão sendo recombinadas (clonadas). Uma empresa em Campinas já trabalha na formação dessas mesmas cadeias em laboratório. Para o especialista, em quatro ou cinco anos já será possível pedir licença para usar as toxinas contra a dor nos testes em humanos.

Coração
As experiências em ratos e camundongos mostraram que a toxina age recuperando o equilíbrio na batida do coração. Avaliado in vitro, o coração fica isolado numa solução nutridora e sua artéria é amarrada com um pequeno fio. Quando ela é solta, o coração trabalha em desequilíbrio, mas a ingestão da toxina aumenta a liberação de acetilcolina, substância que atua como neurotransmissora e falta quando há arritmia. Até o fim do ano, os testes serão feitos em animais vivos. Nos casos de isquemia, as toxinas protegem as células, o que foi comprovado em testes in vitro e já nos animais vivos.

“Essa é a que tem mais potencialidade, por causa disso. Conseguimos comprovar que a toxina era capaz de proteger a região mais afetada no choque isquêmico até duas horas depois. Levamos para a retina e, nesse caso, o tempo é de 90 minutos. Só que ela consegue recuperar as células que já estavam morrendo. Simulamos uma isquemia cerebral com o hipocampo in vitro, sem oxigênio e glicose e, depois, nos ratos. Precisávamos clonar essas substâncias em grande quantidade, mantendo sua eficiência, e isso já está sendo feito”, diz. Ele comemora: “Já publicamos esse trabalho em revistas especializadas internacionais e os cientistas, em suas análises, chamam de ‘uso fascinante de toxinas com provável aplicação clínica’”. As pesquisas sobre as toxinas que atuam contra a dor estão patenteadas nos Estados Unidos, no Canadá, no Brasil e na Europa. Já as usadas para o controle das isquemias e taquicardia estão patenteadas no Brasil.

Papoula-do-orienteA morfina é uma substância com grande poder analgésico. Ela é originária da planta Papaver somniferum, conhecida popularmente como papoula-do-oriente. Ao se fazerem cortes na cápsula da papoula, quando ainda verde, obtém-se um suco leitoso, o ópio (a palavra ópio, em grego, quer dizer suco). Quando seco, esse suco passa a se chamar pó de ópio. Nele, existem várias substâncias com grande atividade. A mais conhecida é a morfina, palavra que vem do deus da mitologia grega Morfeu, o deus dos sonhos.

Fonte: Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas da Universidade Federal de São Paulo (Cebrid/Unifesp

Entrevista com a bióloga Maria Léa Salgado-Labouriau

Carlos Tavares
 
 
Quando a maioria dos colegas afirmava que o cerrado era uma vegetação secundária decorrente da queima e da destruição de matas feitas pelo homem pré-colombiano, a bióloga Maria Léa Salgado-Labouriau, da Universidade de Brasília (UnB), usava o pólen das plantas cristalizado por milhares de anos para descrever outro tipo de paisagem. Graças à palinologia (estudo dos pólens), ela mostrou que, no lugar onde estão Goiás e Distrito Federal, as savanas já tinham aparência semelhante à atual há cerca de 34 mil anos.

Membro da Academia Brasileira de Ciências, da Academia de Ciências de Nova York e fellow da Fundação Guggenheim, Maria Léa ajudou a montar o primeiro Laboratório de Palinologia e Paleoecologia do Centro-Oeste e é autora de vasta produção científica, incluindo quatro livros fundamentais no ensino da paleoecologia. O primeiro deles — Contribuição à palinologia do cerrado, de 1971 — é apreciado também por médicos alergistas. No campo da aerobiologia, o pólen é uma excelente pista para que o médico acerte o alvo da alergia de seus pacientes.

Maria Léa nasceu em agosto de 1931, no Rio de Janeiro, mas ainda criança passou a viver com a família em Minas Gerais, onde o pai, o engenheiro civil Oscar Salgado, ocupava um cargo de diretor de mina, em Ouro Preto. Primeiro ela queria ser engenheira de minas, mas logo desistiu da ideia. Mudou-se para Belo Horizonte, onde se formou em história natural. Depois, já casada com o botânico Luiz Fernando Gouvêa Labouriau, passou a ensinar na UnB, mas logo veio a ditadura e o casal foi banido do país. Os dois viveram 17 anos na Venezuela com os quatro filhos e só voltaram ao Brasil em 1988. Acompanhe a seguir os principais trechos da entrevista que a bióloga concedeu ao Correio, em sua casa, na Asa Norte.

A senhora estuda o passado por meio de microfósseis de pólen para entender melhor o presente. O que causa mais decepção, o passado ou o presente?
A tendência dos mais velhos é dizer que, no seu tempo, as coisas, a vida eram melhores, mas é mentira. Todas as épocas têm suas vantagens e desvantagens, têm o que há de melhor e o que há de pior. Agora, você precisa ver de que ponto de vista estamos falando. Por exemplo, para a mulher, está muito melhor do que no meu tempo. Naquele tempo, era como um reitor da Escola de Minas de Ouro Preto me disse: “Vá para casa, vá lavar roupa no tanque e cuidar dos filhos”.

Em que contexto ele disse isso?
Eu era a única mulher que, naquela época, menina ainda, queria fazer cursinho preparatório para passar no vestibular de engenharia de minas. Mas não pude, porque no segundo dia de aula o reitor me viu e perguntou o que eu estava fazendo ali. Eu disse que estudava no cursinho, e ele disparou: “O quê? Vá embora para casa, que lugar de mulher é no tanque”. Aí eu saí de lá uma fera e, quando cheguei em casa, contei a meu pai. Ele me acalmou, mas disse que eu não podia mesmo fazer engenharia de minas, porque mulher não podia entrar em minas. Não pode até hoje. Eles dizem que, se uma mulher entrar em uma mina, o ouro desaparece (risos).

E do ponto de vista ecológico, o planeta melhorou?
Pelos estudos que faço, o clima da Terra está oscilando dentro do normal. Com relação ao homem e à natureza, também essa relação está melhorando. Você pode ver que fazendeiros que cortaram a mata até a beira do rio estão sendo obrigados a plantar de novo. Quero dizer que está havendo uma conscientização maior da sociedade. Uma coisa é você ter os professores na universidade, o mundo da academia, mas quem faz as mudanças é o povo. Quem fez a Revolução Francesa foi o povo que gritava na praça, saía nas ruas.

É verdade que a Terra está esquentando?
Realmente está um pouco mais quente. Mas essas coisas são oscilações: um ano ou outro está mais quente, um ou outro está mais frio, mas isso são oscilações. Com o meu trabalho, eu ainda não vi nada, até agora, que pudesse atestar que a Terra está aquecendo. Mudança climática é de eras glaciais para interglaciais, e a última glaciação começou há 14 mil anos, e é provável que tenhamos outra daqui a 5 mil anos. Mas essas oscilações existem, são normais e não vejo nenhuma razão para o planeta aquecer ou ficar seco.

Alguns cientistas afirmam que os polos estão aquecendo, as geleiras derretendo…
É. Mas isso sempre houve. O que acontece é que, muitas vezes, essas estimativas são feitas por pessoas que não têm perspectiva do tempo geológico. Vi uns estudos sobre derretimento da calota polar e sobre o crescimento das geleiras, que vão derreter e depois retroceder. Diante disso, parece que está havendo mesmo um aquecimento, mas não sabemos até quando. A tendência no momento é de oscilação e não de mudança climática.

Como a senhora começou a se interessar pela palinologia?
Olhe, meu pai tinha uma visão muito ampla do mundo e me incentivava a estudar. Foi ele quem me apontou, de certa maneira, esse caminho. A questão é que, depois da experiência em Ouro Preto, eu resolvi fazer história natural em Belo Horizonte, na Universidade Federal de Minas Gerais. Naquele tempo, em história natural você estudava geologia e biologia. Eu estava sempre com um olho em geologia, mas minha ênfase maior foi para a biologia, na qual me especializei. Dentro da biologia, eu conheci a botânica e as plantas, e depois fui para o pólen. Mas essa minha história com o pólen vem do estudo das plantas. Eu percebi que o pólen se conservava e que podia ser usado para medir a idade do planeta por milhares e milhares de anos (grãos de pólen fossilizados são encontrados nas rochas desde aproximadamente 1,4 bilhão de anos atrás, na primeira idade da Terra, até ao presente).

Que conclusões a senhora destaca nos estudos sobre o cerrado?
Começamos por Lagoa Santa, em Minas Gerais, e conseguimos recuperar a paisagem de 4,5 mil anos atrás para cá e também mostramos que o homem viu a formação da lagoa. Era o que chamamos de o Homem da Lagoa Santa. Aquilo lá era um vale. Mas, quando começou um período de chuvas fortes, houve deslizamentos de barreiras e com isso o vale foi vedado e surgiu a lagoa. Outra etapa desses estudos com o pólen ocorreu em Águas Emendadas, nas lagoas Feia e Bonita (a 40km de Brasília). Concluímos que isto aqui (Goiás, DF e regiões vizinhas) sempre foi uma região de cerrado. Há cerca de 34 mil anos já era assim. Houve épocas de cerrado mais e menos denso, mas isso aqui não era área de floresta, como afirmavam certas teorias que caíram por terra. Uma dessas teorias dizia que o cerrado era uma mata secundária dessas florestas devastadas pelo homem, mas isso não ocorreu. Outra constatação do estudo com pólen indica a ocorrência de queimadas por causas naturais, aqui no cerrado, há mais de 10 mil anos. Mas não era o homem que fazia aquilo, era fogo natural. A cultura dos índios que viviam aqui no Período Paleolítico era muito simples. Eles não interferiam na natureza, não agrediam o meio ambiente. A interferência do homem no interior só começou há cerca de 500 anos. É muito pouco, do ponto de vista geológico. Concluímos ainda que, entre 10 mil e 7 mil anos, começou um período de seca, tanto que Águas Emendadas (que abriga as nascentes das bacias Amazônica e Platina) secou.

Em que outras investigações científicas a palinologia pode ser usada?
Ah, é um universo imenso. Serve para uma série de coisas, desde para confirmar a pureza do mel até para investigações policiais. Pode ser usada ainda para fazer estudos genéticos e evolucionários, identificar as plantas disponíveis em tal e tal período, e, na aerobiologia, serve para monitorar a dispersão do pólen na atmosfera. Veja, para os médicos alergistas, esses estudos são muito importantes, porque podemos identificar o tipo de pólen que causa alergia.

Qual dos seus trabalhos a senhora considera mais importante?
Gosto muito dos livros que escrevo, porque você para tudo e faz sozinho. Os artigos que escrevo para revistas especializadas são importantes, mas escrevo-os sempre em inglês ou em francês, ao contrário dos livros, que faço questão de escrever em português. Veja, A história ecológica da Terra está na sétima edição, escrevi ele numa linguagem simples, e por isso os estudantes gostam, procuram e entendem. Eu escrevo e publico os livros no Brasil porque eu acho que devo isso ao meu país. El médio ambiente paramo, eu escrevi em espanhol porque estava na Venezuela, mas os outros três são todos em português. Estou escrevendo meu quinto livro, que se chama A interferência humana na natureza, no qual vou mostrar que essa interferência pode ser tanto para melhor ou pior.

Quando a senhora pretende publicar o livro?
Não estou muito preocupada com isso. Já terminei o livro, mas estou fazendo uma revisão de dados, pois há coisas recentes, de 2010, 2008, que tenho de conhecer. Eu dividi os capítulos por continentes. O de número zero é a África. Isso porque, numa escala de tempo, há diferenças de continente para continente sobre a interferência do homem na natureza. Por exemplo, no Egito, há milhões de anos, o homem já estava construindo pirâmides. Aqui, nessa parte da América do Sul, no Brasil, tem menos de 10 mil anos. Então comecei o livro pela África, onde surgiu o Homo sapiens. Vê como somos importantes, nós somos muito sábios, viu? Por isso nos intitulamos de Homo sapiens (risos). Depois da África, o homem foi para a Ásia e a Europa e assim por diante. Então, eu vou seguindo os passos da interferência do homem.

Como a senhora se sente ao completar 80 anos?
Muito bem, porque trabalho diariamente, estudo, escrevo meus livros. Olhe, em geral, as pessoas costumam sofrer um certo impacto quando fazem 40, 50, 70 anos. Cada vez que a dezena muda, você leva um susto, vem esse choque. Mas isso já passou, já estou acostumada com os meus 80 anos.

Corrio Braziliense. Brasília-DF,  01 de novembro de 2011. Ciência, p. 22.

Amizade entre cães e homens começou há 30 mil anos e influenciou a evolução

Carolina Vicentin

Correio Braziliense. Brasília-DF,  26 de outubro de 20111. Ciência, p. 18. 
 
Muito antes de os novíssimos cães de bolso ganharem fama, o melhor amigo do homem já fazia parte do cotidiano da sociedade. Em um estudo divulgado este mês, cientistas de três países analisaram fósseis caninos encontrados onde hoje é a República Tcheca e concluíram que os cachorros convivem com os humanos desde o Período Paleolítico, há cerca de 30 mil anos. A pesquisa confirma resultados de dois artigos anteriores e derruba a tese de que esses animais só teriam sido domesticados depois da última Era Glacial, 14 mil anos atrás. Mais que isso: os pesquisadores acreditam que, além de antiga, a relação com o companheiro de quatro patas foi essencial para a evolução do Homo sapiens.

Os cães pré-históricos foram encontrados em um sítio arqueológico da cidade de Predmosti, no leste da República Tcheca. O achado, na verdade, não é recente: as escavações do que pareciam ser esqueletos de cachorros ocorreram no fim do século 19 e no início do século 20, mas somente agora os cientistas se preocuparam em datar e identificar as ossadas. “A ideia geral era que os homens caçadores/coletores só tinham começado a domesticar os lobos no fim da Era Glacial. No entanto, o achado do cão de Goyet (na Bélgica), que tem cerca de 32 mil anos, indicou que esse processo teve início muito antes. O cachorro de Predmosti corrobora isso”, explicou ao Correio a pesquisadora Mietje Germonpre, do Instituto Real Belga de Ciências Naturais.

Os cachorros de Goyet (um dos mais antigos encontrados até agora) e de Predmosti (com idade estimada em 27 mil anos) eram muito maiores do que os bichos de estimação de hoje em dia, mas já tinham características semelhantes às de raças de grande porte. Os cães da República Tcheca pesavam cerca de 35kg e tinham uma largura de 61cm de um ombro a outro. “A forma do crânio se parece com a de um husky siberiano, embora os cães daquela época fossem bem mais pesados do que um husky moderno”, diz a pesquisadora. Esses animais eram descendentes de lobos e sua domesticação foi confirmada depois de uma série de comparações com espécies selvagens que viviam na região.

Os cientistas analisaram três crânios dos cães de Predmosti. “Eles têm a cabeça significativamente mais curta do que a dos fósseis de lobos e o focinho também é menor. Além disso, a caixa craniana e o palato são maiores em relação aos dos parentes selvagens”, descreve Mietje. O que mais comoveu os pesquisadores, no entanto, não foi a confirmação de que as ossadas eram de cachorros pré-históricos e sim a provável relação entre os animais e os humanos daquela época. Um dos bichos foi enterrado com um grande osso na boca, o que indica a prática de rituais com os amigos de quatro patas.

“Os elementos religiosos (que encontramos) apontam uma profunda conexão entre homens e cachorros”, comenta Mikhail Sablin, pesquisador russo que também participou do estudo.

Laços reforçados
Para a professora Susan Crockford, da Universidade de Victoria, no Canadá, essa amizade começou por interesse, mas se fortaleceu devido ao misticismo dos povos pré-históricos. Segundo Susan — que investigou ossadas caninas de 33 mil anos encontradas na Sibéria — os primeiros lobos domesticados eram bem-vindos, pois acabavam com resíduos deixados pelos homens e alertavam contra potenciais perigos, como a presença de ursos. “As pessoas também devem ter pensado que os primeiros cães tinham poderes mágicos. Para os anciãos da aldeia, que observavam os lobos selvagens se transformarem em amáveis bichos, era óbvio que um ser como esse teria poderes especiais”, supõe Susan.

Com o passar do tempo, a importância religiosa do melhor amigo do homem ficou ainda maior. Embora as ossadas do Período Paleolítico não tenham relação comprovada com outras encontradas anos depois, a conexão com os cães se manteve ao longo dos séculos. Depois da última Era do Gelo, por exemplo, era comum que as pessoas fossem enterradas com seus bichos de estimação. “A ideia dessa prática era prover o espírito do humano falecido com um espírito canino, que serviria como um ‘guia’ para a passagem ao outro mundo”, interpreta a professora da Universidade de Victoria.

Todas essas análises e observações, porém, não explicam por que os humanos deixaram que os primeiros lobos se aproximassem. Afinal, as duas espécies eram concorrentes na busca por alimentos — uma tarefa que não devia ser nada fácil no ambiente pré-histórico. A cientista Pat Shipman, da Universidade de Penn State, na Pensilvânia, credita o começo dessa relação ao conhecimento que os homens acumularam ao observar os animais e à confiança que eles adquiriram com esse aprendizado. “Acho que alguém, provavelmente, trouxe um filhote de lobo para casa, e isso deve ter acontecido várias vezes”, especula Pat, uma das maiores especialistas em ecologia de ambientes antigos. “Ninguém pensou em criar os bichos, mas, com o passar do tempo, surgiu um sistema no qual ‘bons’ filhotes, ou menos agressivos, passaram a ser alimentados e protegidos, enquanto os outros foram mortos e, talvez, comidos”, detalha.

A cientista vai ainda mais longe. Para ela, esses animais acabaram contribuindo para que os humanos desenvolvessem a linguagem. Em um artigo publicado em maio na revista New Scientist, Pat aponta que uma das primeiras formas de comunicação, a pintura rupestre, se concentrava em registrar momentos dos homens com seus animais domesticados — aí entram outros que surgiram depois, como ovelhas e bichos de carga, por exemplo. “A antiga associação entre o Homo sapiens e os cachorros foi um bom negócio para ambas as espécies. Mesmo que os animais não vivessem dentro de casa, mantê-los em assentamentos foi uma grande vantagem”, diz a especialista.

Pequenos e chiques
Nos últimos anos, muitas celebridades passaram a circular por aí com seus cãezinhos a tiracolo. São malteses, chihuahuas e yorkshires, entre outras raças, que cabem em qualquer lugar e não costumam fazer alvoroço. Mesmo fofos e quietinhos, esses bichos precisam de uma série de cuidados. Como são muito pequenos, costumam ser mais vulneráveis a doenças.

Fonte de história
O sítio de Predmosti é um dos mais ricos do mundo. Escavado desde meados de 1880, forneceu aos cientistas dezenas de esqueletos humanos — parte deles foi destruída em um incêndio durante a Segunda Guerra Mundial. Em Predmosti, também foram encontradas mais de mil ossadas de mamute, além de fósseis de cães.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Grupo usa mosquitos geneticamente modificados para combater dengue

Inseto carrega gene que mata o filhote antes de chegar à vida adulta.
Técnica foi aplicada com sucesso pela primeira vez.

Tv Globo. Jornal Nacional, 31 de outubro de 2011.
 
Machos do 'Aedes aegypti' usados na pesquisa (Foto: Derric Nimmo/Oxitec Ltd)
Machos do 'Aedes aegypti' usados na pesquisa
(Foto: Derric Nimmo/Oxitec Ltd)

Mosquitos alterados em laboratório para carregarem um gene fatal para seus filhotes são a nova arma dos cientistas contra a dengue. Os resultados positivos da técnica foram apresentados pela primeira vez nesta semana, na edição online da revista britânica Nature Biotechnology.
O grupo da Universidade de Oxford, apoiado pela empresa privada Oxitec, soltou nas ilhas Cayman mosquitos Aedes aegytpi geneticamente modificados.
Esses insetos cruzaram com as fêmeas da espécie e produziram filhotes com um defeito genético que os fazia morrer antes de chegar à idade de reprodução.
Após a inserção dos mosquitos de laboratório, a população do A. aegypti no arquipélado caiu. Foi a primeira vez que a técnica, prevista na teoria, funcionou na prática, em ambiente selvagem.
Um problema da armadilha dos cientistas é que o sucesso dos insetos de laboratório na busca por uma parceira foi a metade do obtido pelos mosquitos selvagens, que seguem se reproduzindo normalmente.
A malária, que também é transmitida por mosquitos, também pode ser atacada com a técnica, acreditam os pesquisadores.
Não existe vacina contra a dengue. Até o momento, a única forma de evitar a doença é o controle do mosquito.

dengue (Foto: Arte/G1)
 

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Vida de Inseto

 A época de chuvas na Região Centro-Oeste coincide com o início da primavera e favorece a proliferação de besouros, cupins e formigas. Assim, por conta do período reprodutivo e da diminuição das áreas verdes, os bichos acabam dentro de casa, para desespero de muitos moradores
 
José Roberto Luz, da UnB: "É inevitável conviver com esses animais"

É só chegar o período de chuva em Brasília que a história se repete. Os insetos passam a ser personagens constantes no ambiente doméstico. À noite, eles fazem de tudo para arranjar um espaço quentinho. Vira e mexe, é possível flagrar um inquilino indesejável a voar pelos cômodos, a subir pelas paredes ou a rastejar pelo chão. Qualquer fresta de porta e de janela ou luminária acesa são motivos para a invasão. Besouros, cupins, formigas e cigarras se revelam os mais comuns nessa época, segundo especialistas. E a presença deles tem relação com o ciclo reprodutivo de cada espécie.

A professora do Departamento de Zoologia da Universidade de Brasília (UnB) Marina Frizzas diz que o período quente e úmido favorece o aparecimento desses insetos e coincide com o início da primavera, época de acasalamento. “Agora, é tempo de revoada para que eles se acasalem e coloquem os ovos. O fato de vermos em grande quantidade é também por conta dos hábitos noturnos. Assim, eles acabam indo para residências e comércios”, esclarece. “Obviamente, é tudo normal, cíclico. No entanto, a urbanização faz com que eles tenham cada vez menos áreas verdes e migrem.”

Embora boa parte dos insetos não seja nociva ao ser humano, eles causam incômodo e sujeira. Onde há alimento, então, é ainda mais comum encontrá-los. A dica para aqueles que não querem a convivência é fechar as portas e as janelas, além de apagar as luzes de casa quando o uso for desnecessário. Segundo a entomologista Marina, o horário de maior movimento desses pequenos invasores é das 19h às 21h. “Esse é o período de maior atividade deles, comprovado por estudos científicos”, explicou.

Em Brasília, dois tipos de besouros predominam no período de chuva. Um deles tem chifres. “Eles pertencem a duas famílias: a Scarabaeidae e a Melolonthidae. Popularmente, são conhecidos como rola-bosta”, explica o também professor do Departamento de Zoologia da UnB José Roberto Pujol Luz. “No caso das formigas, as mais presentes nas residências, atualmente, são as chamadas formigas-doceiras —, além das saúvas, conhecidas como formigas-cortadeiras, e das içás (fêmeas das saúvas, que têm asas)”, revela.

Luz explica ainda que, quanto mais próximo de áreas verdes, mais fácil é para se encontrar insetos. “Acontece que estamos no meio do cerrado. Por isso, é inevitável conviver com esses animais. O homem não tem o que temer, precisa apenas adotar simples cuidados”, aponta. “Normalmente, as pessoas associam o aparecimento de insetos às pragas, mas não é bem assim. O fato de uma grande quantidade entrar em residências também não está associada a nenhum desequilíbrio.”

Incômodo

A dentista Arlete Antunes, 55 anos, mora em Samambaia e convive com insetos. “Eu moro em casa e, sempre que saio, deixo uma luz acesa na varanda. Quando eu chego, o chão está infestado de besouros pretos e uns bichinhos com asas que não sei exatamente quais são. Incomodam bastante e não adianta o que eu faça”, reclama.

Diferentemente dela, o bancário Almir Silveira, 26 anos, sabe bem o que fazer para manter os bichos afastados. Ele é morador do Recanto das Emas e instalou telas em algumas janelas de casa para evitar a presença dos invasores. “Na minha região, inseto é o que mais tem. Se não me protegesse assim, a minha casa estaria infestada. Tenho um filho pequeno, também por isso procuro evitar o contato”, contou.

A professora e pesquisadora do Departamento de Biologia da Universidade Católica de Brasília (UCB) Cristiane de Assis sinalizou que os insetos mais preocupantes nesse período são os vetores de doenças, como os mosquitos. “Esses também estão presentes na época das chuvas, não podemos esquecer. A sugestão é manter a casa limpa, sem amontoado de lixo e evitar deixar água parada ou acumulada”, detalha
» MARIANA LABOISSIÈRE

Correio Braziliense. Brasília-DF,  20 de outubro de 2011. Cidades, pág. 40.

Vulnerabilidade genética

Thais de Luna

Correio Braziliense. Brasília-DF,  20 de outubro de 2011. Saúde, pág. 27

Cientistas de Cingapura e do Vietnã revelam como alterações em dois genes tornam algumas pessoas mais suscetíveis à síndrome do choque da dengue, a forma mais grave da doença.
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Basta haver chuva e um recipiente a céu aberto e está pronto o lugar ideal para que o Aedes aegypti deposite seus ovos na água parada. A presença do mosquito é um perigo para a população, que corre o risco de ter dengue, já que o Aedes aegypti é o transmissor do vírus. A doença infecciosa, comum nesta época — já atingiu 715,6 mil brasileiros só em 2011 —, pode ocorrer de forma mais leve, com sintomas semelhantes aos da gripe, ou mais grave, na forma hemorrágica. Um estudo publicado esta semana na revista especializada Nature Genetics, feito por pesquisadores de Cingapura e do Vietnã, revela que uma mutação nos genes MICB e PLCE1 torna as pessoas mais vulneráveis a desenvolver a síndrome do choque da dengue, que é a forma mais grave da dengue hemorrágica.

A síndrome, segundo o epidemiologista Pedro Tauil, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB), é caracterizada pela diminuição da pressão arterial; pela redução do volume do sangue — o que dificulta seu fornecimento pelo coração para todo o corpo —; pela perda de líquido e aumento da permeabilidade dos vasos sanguíneos; e, principalmente, por hemorragias. É um quadro gravíssimo, que pode levar o paciente à morte.

Um dos autores da pesquisa, Khor Chiea Chuen, médico e cientista do Instituto Genoma de Cingapura, explicou ao Correio que o gene MICB em seu estado normal age a partir das células exterminadoras naturais, para controlar a resposta do organismo à infecção causada pelo vírus. Se esse gene sofre alterações, pode afetar a ação de células do sistema imunológico. “Já o PLCE1 está ligado ao desenvolvimento e à multiplicação celular. Quando sofre mutação e o crescimento das células é afetado, o PLCE1 facilita a ocorrência da síndrome, devido à hemorragia que ocorre nos vasos sanguíneos (veja infografia)”, conta.

O cientista de Cingapura afirma que foi surpreendente observar a ligação entre a síndrome do choque da dengue e as células exterminadoras naturais, um fator sobre o qual havia pouco conhecimento. “Acreditávamos que os culpados pela suscetibilidade à doença seriam outros componentes do sistema imunológico, como os linfócitos T ou os linfócitos B”, admite. Ele acrescenta que essa descoberta é um passo significativo para ajudar a compreender por que algumas pessoas ficam mais vulneráveis a desenvolver a forma mais grave da dengue e outras, não. “De acordo com nossos dados, parece que é uma progressão em duas etapas para a doença”, relata. Segundo essa avaliação, a pessoa teria problemas em controlar o vírus devido à mutação no MICB, desenvolvendo a dengue. Como ela também estaria propensa a ter hemorragias, pela alteração no PLCE1, o problema de saúde se agravaria até tornar-se a síndrome do choque da dengue.

Busca incessante

Tauil vê o estudo como importante, mas ressalva que ele precisa ser validado por outras pesquisas na área. “A medicina não teria praticamente nada a fazer para modificar este suposto fator de risco genético”, lamenta. A infectologista do Grupo Acreditar Maria Aparecida Teixeira, por sua vez, acredita que pesquisas na área de infectologia “podem antecipar o comportamento de doenças em determinadas pessoas”, o que auxilia médicos e cientistas a desenvolverem medidas de prevenção ou mesmo curas por meio da terapia genética. “A terapia genética é uma promessa impactante em diversas áreas da medicina e da biologia, mas ainda inacessível para a maioria da população”, pondera.

“Driblar todas as agressões infecciosas é impossível e também indesejável, já que nosso repertório de resposta imunitária é montado a partir dos agentes que provocam as doenças. Caso contrário, seríamos indefesos e teríamos curta vida na terra”, avalia a infectologista. “Alguns indivíduos, no entanto, não podem ‘se dar ao luxo’ de entrar num embate com um vírus, por exemplo, devido a algumas características genéticas, herdadas ou não seus pais. Essas características podem significar resposta imunitária exagerada ou insuficiente, levando a quadros igualmente desfavoráveis”, conta a médica.

Vacina

O epidemiologista da UnB destaca o avanço nas pesquisas de uma vacina, até o momento considerada segura, contra os quatro tipos de dengue. “Essa pode ser uma grande arma para reduzir a incidência da doença, pois a luta contra o mosquito, até o momento o único elo vulnerável da cadeia de transmissão, é muito difícil e pouco eficaz”, completa. Maria Aparecida discorda da ineficácia do combate ao vetor da doença. “Mesmo levando em conta toda a importância dos avanços científicos acerca da dengue, nossa longa convivência com o vírus — 30 anos — já nos permite interferir no processo de transmissão com mais sabedoria e bom senso”, ressalta a infectologista. Segundo ela, deve-se combater primeiro o mosquito o Aedes aegypti, e não o vírus.

Chuen destaca que pretende usar as informações obtidas nesse estudo, em especial sobre o gene MICB, para elaborar um projeto de vacina contra a dengue. “No mínimo, vamos nos esforçar para compreender qual é, exatamente, o efeito dessas variações genéticas sobre como o corpo humano controla e mata o vírus da dengue no processo de infecção.”

 Sintomas

Veja os principais sinais da síndrome do choque da dengue.
» Queda da pressão arterial.

» Queda acentuada do número de plaquetas no sangue (identificada em exames).

» Sangramentos espontâneos, como da gengiva, ou provocados, identificados no teste chamado prova do laço. Esse teste, no qual se observa o surgimento de pontos de sangramento na pele do braço, é feito com o aparelho de medir a pressão arterial.

» Aumento da viscosidade do sangue, que perde plasma (medido em exames).

» Pulsação rápida.

» Pele pegajosa e fria.

» Redução do nível de consciência, que pode indicar choque circulatório — quando o coração e os vasos sanguíneos não conseguem irrigar todos os tecidos do corpo.

Fonte: Maria Aparecida Teixeira, infectologista do Grupo Acreditar

As cidades crescem, as tragédias também

Saneamento

Juliana Braga
Paula Filizola

Correio Braziliense. Brasília-DF, 20 de outubro de 2011. Brasil.

Levantamento do IBGE mostra o efeito da ocupação desordenada do solo nas áreas urbanas. Mais de 40% dos municípios brasileiros sofrem com inundações

Inundação em condomínio de Vicente Pires destrói ruas: segundo especialistas, falta planejamento na ocupação do solo (Rafael Ohana/CB/D.A Press)
Inundação em condomínio de Vicente Pires destrói ruas: segundo especialistas, falta planejamento na ocupação do solo

“Lá vem a chuva de novo”, constatou aflito o síndico da Chácara 43, na Rua 3 de Vicente Pires, Jarbas Paes Leme, ao ver, ontem, o céu de Brasília escurecer. Há mais de três anos à frente da administração do terreno, que abriga 120 famílias, ele já conhece a rotina devastadora das águas na região. Basta percorrer as ruas para reparar que quase todas têm o solo destruído. “A água da chuva forma um rio que desce com muita força e leva tudo por onde passa”, afirma. Devido aos temporais dos últimos dias, Jarbas contabilizou um prejuízo de R$ 150 mil para recolocar todos os bloquetes soltos do piso, além de reconstruir muros e meios-fios. Segundo ele, os moradores se recusam a pagar taxa extra na fatura do condomínio porque sabem que não adianta consertar o local sem um projeto de melhoria que tenha a participação do governo.

Dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que o problema das inundações não é exclusivo de Vicente Pires. Pelo contrário, é cada vez mais comum e grave no país. De acordo com o Atlas do saneamento, dos 5.564 mil municípios brasileiros, 40,8% enfrentavam o problema nos cinco anos anteriores ao levantamento, feito com dados de 2008. Pior, em 30% deles foram alagadas áreas nas quais isso não costumava acontecer.

O relatório do IBGE também aponta que, em 45% das cidades, os alagamentos foram associados à obstrução de bueiros e de bocas de lobo, enquanto em 43%, o problema é a ocupação intensa e desordenada do solo (veja quadro). Vicente Pires está na segunda categoria. “É preciso que as cidades planejem quais serão os espaços de pavimentação e quais locais devem permanecer gramados”, sustenta o especialista em engenharia sanitária e professor da Universidade de Brasília (UnB) Sérgio Koide. Segundo ele, em determinadas regiões, mesmo que sejam feitas obras para melhorar as condições de saneamento, as iniciativas seriam apenas “tapa-buraco”. “Não tem como fazer escoamento em beira de rio, por exemplo. Há áreas em que não deveria morar gente”, diz.

Koide avalia que, por mais que tenham ocorrido mudanças climáticas nos últimos tempos, a principal causa do problema é a intervenção humana. “As mudanças climáticas são sentidas mais a longo prazo. Com certeza, a área impermeabilizada do solo cresce muito mais rápido do que o volume das chuvas”, diz. A situação ainda é agravada, segundo o especialista, porque o poder público não prioriza essas obras, que costumam ser caras.

No caso do condomínio de Jarbas, há um jogo de empurra porque, apesar do pagamento do IPTU, e da água e da luz, a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap)alega o fato de a ocupação ser irregular para não enviar equipes que possam reparar os estragos da chuva. “Eles dizem que não podem fazer nada porque o Ministério Público cobra explicações. Mas pagamos todos os impostos. Isso não faz sentido”, protesta Jarbas.

Loteamentos

A solução, de acordo com Koide, seria um planejamento eficiente da ocupação urbana. “Não se pode permitir que determinadas áreas recebam loteamento. É preciso estabelecer qual é a taxa máxima de ocupação dos lotes”, explica.

O IBGE apontou outro problema, que atinge 47,8% das cidades e que é negligenciado pelas prefeituras: a falta de rede de coleta de esgoto. Segundo a engenheira civil da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Eglê Novaes, essas não são obras complicadas de serem executadas, mas são dispendiosas. “Além de caras, elas ficam enterradas. Ou seja, não dá para colocar uma plaquinha para inaugurá-las. Muitos prefeitos se desinteressam”, explica.

Eglê explica que os altos custos envolvem todos os processos das obras. Em áreas já ocupadas, por exemplo, é necessário abrir as ruas, fazer as ligações do encanamento com os domicílios e, em alguns casos, fazer até estações elevatórias. Por lei, a tubulação precisa ficar entre 1,2m e 6m abaixo do solo, o que varia de acordo com a topografia. Ainda assim, segundo a especialista, as dificuldades são mais legais do que técnicas. “É necessário conseguir licenças e isso pode demorar”, explica

Problemas básicos


Em 40,8% das cidades houve inundações, sendo que em 30,6% delas o problema não ocorria antes.

Cerca de 45% dos municípios atribuíram as inundações à obstrução de bueiros e de bocas de lobo; e 43%, à ocupação desordenada do solo. Outras causas apontadas foram obras inadequadas, dimensionamento incorreto do projeto e lançamento de lixo.

Em todo o país, 33 municípios não têm rede de distribuição de água — 21 deles estão na Região Nordeste.

Só 55,1% das cidades têm rede de coleta de esgoto. No Centro-Oeste, apenas 28,3% dos municípios oferecem o serviço.

Apenas 33% das cidades descartam o lixo em aterros sanitários, considerados a melhor opção para evitar a infiltração do chorume. A maioria, 50,8%, ainda usa os lixões.

A precária política para o lixo


Além de contaminar os lençóis freáticos, os lixões são proliferadores de doenças (Breno Fortes/CB/D.A Press - 23/2/11)
Além de contaminar os lençóis freáticos, os lixões são proliferadores de doenças

Outra situação grave apontada pelo estudo do IBGE é a destinação do lixo, que, associada às inundações, causa um grave problema de saúde pública. Somente 33% das cidades descartam seus resíduos sólidos em aterros sanitários, considerados a forma adequada por garantir a impermeabilização do solo — o que evita contaminação dos lençóis freáticos — e por evitar a disseminação de doenças. A maioria dos municípios, 50,8%, ainda descarta os resíduos em lixões a céu aberto. Considerando o volume de lixo produzido no país, 183t por dia, pode-se ter uma ideia da dimensão do problema. Em 2000, o volume era de 58t diariamente.

Gerente da pesquisa do IBGE, Adma de Figueiredo acredita que falta articulação entre os municípios, que poderiam fazer convênios e dividir as responsabilidades. Segundo ela, não são todas as cidades que precisam ter um aterro. Por meio de parcerias, o problema poderia ser dividido. “Não é só uma questão técnica. É também um problema de articulação e de gestão política”, pondera. Em 2008, 116 municípios não adotavam estratégias de destinação aos resíduos sólidos, sendo que mais de 60% estavam na Região Sul. Nenhum deles no Centro-Oeste.

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, em entrevista à GloboNews destacou a importância de investimentos na área. Segundo ele, cada R$ 1 investido em saneamento gera economia de R$ 4 em saúde. Uma das principais doenças associadas à água contaminada e às inundações, a leptospirose, foi registrada em 12% das cidades brasileiras, sendo que em 3% houve óbitos.

Coleta seletiva

A reciclagem e a coleta seletiva também são formas de amenizar o problema e têm avançado no país. A porcentagem de municípios que executam a coleta seletiva, por exemplo, aumentou de 8,2%, em 2000, para 17,9%, em 2008. “O serviço chega a ser feito em quase todos os municípios, mas, em alguns, não é diário e, em outros, não atende áreas mais isoladas. Ainda há muito o que avançar”, detalha Adma de Figueiredo. (JB)


RACIONAMENTO

O relatório do IBGE revela ainda um paradoxo. Apesar de ser um dos países com maior reserva de recursos hídricos, o Brasil enfrenta racionamento de água em 23% dos municípios. Em 41% deles, o problema é constante, independentemente da época do ano. A situação se torna ainda mais grave se for levado em consideração que, em 60% das cidades com mais de 100 mil habitantes, o volume de água tratada que se perde entre a captação e o consumidor varia de 20% a 50%. Nas cidades com população inferior a essa, a perda é de cerca de 20%.

Oferta de água tratada
 
Em 2008, ano considerado pelo IBGE no Atlas do saneamento, em todas as regiões brasileiras, a água oferecida pelos governos recebia algum tipo de tratamento. Com exceção da Região Norte — com índice de 74,3% —, mais de 90% do líquido fornecido era tratado. O estudo revela também que 78% dos municípios brasileiros investem em melhorias na rede de distribuição de água. O destaque é para os do Sul, com o maior percentual de cidades (86,4%) que adotam esse tipo de prática.

Outra parte do processo de abastecimento que vem recebendo grande investimento dos governantes (67,8% das cidades) é o das ligações prediais. Em menor escala, também são registradas iniciativas de melhoria na captação (49,5% dos municípios brasileiro); no tratamento da água (43,7%); na reservação (36,1%) e na adução (19,9%). Ainda de acordo como o levantamento, em 64,1% das cidades brasileiras a água fornecida à população é obtida pela captação em poços profundos. Em 56,7%, pela captação superficial