Segundo a protetora Conceição Aparecida Vigliotti, os cães idosos
sempre são deixados de lado em feiras de adoção e acabam muitas vezes passando
a vida toda em Ongs e lares temporários, sem saberem o que é ter uma família de
verdade. Ela aponta que apenas 1% dos cães idosos resgatados por ela, são adotados.
Para que os
demais velhinhos não fiquem sem saber o que é um lar, Conceição os adota e os
trata como filhos - um deles foi deixado com 9 anos em seu portão e viveu até
23. "Os adotantes não olham com os mesmos olhos para um cão que já tem
entre 4 e 5 anos, eles acham que são velhos demais, que não são bonitinhos como
os filhotes e que não se acostumarão com uma nova casa". Este tipo de
atitude acontece pois nem todo mundo possui o discernimento de como é bom ter
um cão idoso em casa. Eles são tão amáveis quanto filhotes e adultos, e possuem
muitas vantagens, confira algumas delas.
1.
Personalidade definida
Muitos cães filhotes podem se tornar agressivos ou extremamente ciumentos
quando crescem. Isto acontece devido à criação, muitas vezes, inconscientemente,
mimamos os nossos pets de maneira exagerada, o que pode acarretar em um cão
adulto que apresenta agressividade e ciúmes de outros animais, pessoas ou até
crianças. Cães idosos já passaram por esta parte e não trarão surpresas
comportamentais.
2. Nada de
estripulias e objetos roídos:
Os cães idosos não possuem a mesma energia dos cães filhotes e adultos. Em sua
grande maioria, passam a maior parte do tempo quietinhos e fazendo companhia
aos donos. Estes velhinhos adoram passeios calmos, 'assistir' TV na sala ou
deitar no pé da cama na hora de dormir. Por isso não vão roer seu celular novo
ou a ponta do seu sapato preferido.
3. Passeios
com tranquilidade
Os cães mais velhos passeiam com mais calma e tranquilidade, não puxam e nem
'arrastam' quem está na guia e 15 minutos diários já são suficientes para
deixá-los felizes e contentes! Dê preferência para o período da manhã (até as
10:00) para que o cão pegue o sol, pois a radiação solar na pele estimula a
produção da Vitamina D antirraquítica e colecalciferol: ótima para os ossos.
4.
Brincadeiras e aprendizados
Está enganado quem acha que cães idosos não brincam ou aprendem
truques. A idade não interfere em nada na inteligência do cão, na verdade o
aprendizado do que pode e o que não pode na casa, é mais fácil com cães que não
são filhotes.
5.
Companheiros de primeira:
Os velhinhos possuem uma alta sensibilidade emocional, por isso não vão pedir
para brincar se perceberem que seu dono está cabisbaixo ou triste. Muitos donos
de cães idosos dizem que, nestes casos, o comum é que eles deitem perto do seu
dono e façam companhia.
6.
Expectativa de vida alta:
Cães vira-latas em geral possuem uma alta expectativa de vida, chegando
normalmente aos 17 anos de vida ou mais. Há registros de uma cadelinha, chamada
Bella, que viveu 29 anos e faleceu em 2003 de ataque cardíaco na cidade inglesa
de Lincolnshire, seus donos a adotaram quando ela tinha 3 anos de idade e
viveram 26 ao lado dela.
E para te
inspirar, leia o relato de Ana Paula Tolentino, uma adotante de um cão idoso:
Amo cães,
todos são lindos: desde aquele com a raça mais pura até os bons e fiéis
"vira-latas". Desde o "mais bebezinho" que faz gracinhas e
chama a atenção de todos até os de muita idade. O meu amor é verdadeiro em
qualquer dos casos, mas confesso que tenho apreço especial justamente pelos
últimos: velhos, abandonados, desprezados, doentes ou jogados à própria sorte.
São exatamente eles que ganharam meu coração ao longo desses anos de amor
incondicional pelos cães. Dentre tantos que tive o prazer do convívio, uma em
especial abriu meu coração para o amor e dedicação de corpo e alma: Malu. Eu a
vi nascer, foi cria de uma Cocker perdida ou abandonada, idosa e cheia de
doenças, que recolhi das ruas numa noite de feriado de Finados. Apesar de todo
amor que tínhamos por ela, não pudemos evitar uma agressão que sofreu durante
uma invasão a nossa casa. Junto com a agressão vieram sequelas, tratamentos e
cirurgias, e aos 13 anos de idade, Malu precisou me deixar para alcançar o
paraíso merecido.
Dois anos
depois de muita dor e saudades, uma criatura de Deus foi abandonada quase em
frente a minha casa. Seus donos se mudaram e claro, não havia lugar pra ele na
mudança. Os vizinhos se incomodavam com a presença dele, atirando pedras,
jogando bombas e tentando agredi-lo. O recolhi em meio a uma discussão com um
vizinho que chamou o CCZ para recolher o cão. Bom, na presença da polícia e do
CCZ eu adotei aquele anjo, que era velho e vira-latas, quase sem dentes e nada
sociável por conta de todo o sofrimento vivido até ali, ninguém o queria.
"Creuzo", o feio mais lindo que eu tive a sorte de ter ao meu lado
por 2 anos, tinha aproximadamente 16 anos de vida e 2 anos foram repletos de cuidados,
carinho e amor que o transformaram numa criatura doce. Infelizmente após uma
internação urgente, ele também foi pro paraíso canino morar ao lado de tantos
outros seres de alma plena.
Um pouco
mais de mês de dor e o vazio, eu estava navegando nas redes sociais, quando vi
um pedido mais que especial. De alguma forma, após muitos compartilhamentos,
chegou até mim uma solicitação tocante feita por uma voluntária do CCZ de São
Paulo (hoje minha amiga) Keké Flores. Ela implorava a adoção um cão idoso, vira
latas de temperamento fácil, calmo, sofrido com sequelas de maus tratos, um
câncer de boca e abrigado há mais de 4 anos no CCZ. Ele era branquinho feito um
queijo japonês, por isso seu nome: Tofu. Chorei dias e noites seguidas me
lembrando de cada palavra que contava a história dele e prometi a mim mesma que
faria qualquer coisa para trazer ele pra mim. Deixei convite para ela me
aceitar como amiga, liguei em todos os telefones, deixei recados e no terceiro
dia de desespero ela me retornou. Pedi encarecidamente que não entregasse ele a
ninguém porque no dia seguinte eu iria buscá-lo. Mas enquanto conversava com
ela, visualizei outros posts com solicitação de adoção. Dentre eles, outro me
chamou a atenção: Bilu. Ele tinha uma história muito triste de abandono e 3
readoções. Não era velho, mas vi nele a esperança de trazer Tofu de volta pra
uma vida real. Quando cheguei no CCZ para buscar meu Tofu, eu me apaixonei pelo
Bilu também. Todos tinham a certeza de que Tofu era mudo, nunca havia latido,
só andava devagarinho, cabisbaixo. Mas com apenas 3 dias em casa, Bilu o
ensinou a latir e correr! Chorei muito...mandei vídeos pra Keké, que foi a
voluntária responsável pela adoção, para mostrar a todos do que o velho Tofu
era capaz!
Os dois se
amam, estão sempre juntos e tenho certeza - pela maneira que erguem os olhos
para mim - que são gratos pelo amor que compartilhamos. Nunca comprei um
cachorro, pois amigos verdadeiros não tem preço! E os animais idosos não são
dispensáveis e inúteis como a maioria dos seres desumanos julgam e por menos
tempo que tenham de vida, merecem saber como é ter um lar e uma família com
amor. Se adotados, serão criaturas verdadeiras, amáveis e eternas no coração de
quem os der abrigo e carinho.