Total de visualizações de página

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Grupo usa mosquitos geneticamente modificados para combater dengue

Inseto carrega gene que mata o filhote antes de chegar à vida adulta.
Técnica foi aplicada com sucesso pela primeira vez.

Tv Globo. Jornal Nacional, 31 de outubro de 2011.
 
Machos do 'Aedes aegypti' usados na pesquisa (Foto: Derric Nimmo/Oxitec Ltd)
Machos do 'Aedes aegypti' usados na pesquisa
(Foto: Derric Nimmo/Oxitec Ltd)

Mosquitos alterados em laboratório para carregarem um gene fatal para seus filhotes são a nova arma dos cientistas contra a dengue. Os resultados positivos da técnica foram apresentados pela primeira vez nesta semana, na edição online da revista britânica Nature Biotechnology.
O grupo da Universidade de Oxford, apoiado pela empresa privada Oxitec, soltou nas ilhas Cayman mosquitos Aedes aegytpi geneticamente modificados.
Esses insetos cruzaram com as fêmeas da espécie e produziram filhotes com um defeito genético que os fazia morrer antes de chegar à idade de reprodução.
Após a inserção dos mosquitos de laboratório, a população do A. aegypti no arquipélado caiu. Foi a primeira vez que a técnica, prevista na teoria, funcionou na prática, em ambiente selvagem.
Um problema da armadilha dos cientistas é que o sucesso dos insetos de laboratório na busca por uma parceira foi a metade do obtido pelos mosquitos selvagens, que seguem se reproduzindo normalmente.
A malária, que também é transmitida por mosquitos, também pode ser atacada com a técnica, acreditam os pesquisadores.
Não existe vacina contra a dengue. Até o momento, a única forma de evitar a doença é o controle do mosquito.

dengue (Foto: Arte/G1)
 

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Vida de Inseto

 A época de chuvas na Região Centro-Oeste coincide com o início da primavera e favorece a proliferação de besouros, cupins e formigas. Assim, por conta do período reprodutivo e da diminuição das áreas verdes, os bichos acabam dentro de casa, para desespero de muitos moradores
 
José Roberto Luz, da UnB: "É inevitável conviver com esses animais"

É só chegar o período de chuva em Brasília que a história se repete. Os insetos passam a ser personagens constantes no ambiente doméstico. À noite, eles fazem de tudo para arranjar um espaço quentinho. Vira e mexe, é possível flagrar um inquilino indesejável a voar pelos cômodos, a subir pelas paredes ou a rastejar pelo chão. Qualquer fresta de porta e de janela ou luminária acesa são motivos para a invasão. Besouros, cupins, formigas e cigarras se revelam os mais comuns nessa época, segundo especialistas. E a presença deles tem relação com o ciclo reprodutivo de cada espécie.

A professora do Departamento de Zoologia da Universidade de Brasília (UnB) Marina Frizzas diz que o período quente e úmido favorece o aparecimento desses insetos e coincide com o início da primavera, época de acasalamento. “Agora, é tempo de revoada para que eles se acasalem e coloquem os ovos. O fato de vermos em grande quantidade é também por conta dos hábitos noturnos. Assim, eles acabam indo para residências e comércios”, esclarece. “Obviamente, é tudo normal, cíclico. No entanto, a urbanização faz com que eles tenham cada vez menos áreas verdes e migrem.”

Embora boa parte dos insetos não seja nociva ao ser humano, eles causam incômodo e sujeira. Onde há alimento, então, é ainda mais comum encontrá-los. A dica para aqueles que não querem a convivência é fechar as portas e as janelas, além de apagar as luzes de casa quando o uso for desnecessário. Segundo a entomologista Marina, o horário de maior movimento desses pequenos invasores é das 19h às 21h. “Esse é o período de maior atividade deles, comprovado por estudos científicos”, explicou.

Em Brasília, dois tipos de besouros predominam no período de chuva. Um deles tem chifres. “Eles pertencem a duas famílias: a Scarabaeidae e a Melolonthidae. Popularmente, são conhecidos como rola-bosta”, explica o também professor do Departamento de Zoologia da UnB José Roberto Pujol Luz. “No caso das formigas, as mais presentes nas residências, atualmente, são as chamadas formigas-doceiras —, além das saúvas, conhecidas como formigas-cortadeiras, e das içás (fêmeas das saúvas, que têm asas)”, revela.

Luz explica ainda que, quanto mais próximo de áreas verdes, mais fácil é para se encontrar insetos. “Acontece que estamos no meio do cerrado. Por isso, é inevitável conviver com esses animais. O homem não tem o que temer, precisa apenas adotar simples cuidados”, aponta. “Normalmente, as pessoas associam o aparecimento de insetos às pragas, mas não é bem assim. O fato de uma grande quantidade entrar em residências também não está associada a nenhum desequilíbrio.”

Incômodo

A dentista Arlete Antunes, 55 anos, mora em Samambaia e convive com insetos. “Eu moro em casa e, sempre que saio, deixo uma luz acesa na varanda. Quando eu chego, o chão está infestado de besouros pretos e uns bichinhos com asas que não sei exatamente quais são. Incomodam bastante e não adianta o que eu faça”, reclama.

Diferentemente dela, o bancário Almir Silveira, 26 anos, sabe bem o que fazer para manter os bichos afastados. Ele é morador do Recanto das Emas e instalou telas em algumas janelas de casa para evitar a presença dos invasores. “Na minha região, inseto é o que mais tem. Se não me protegesse assim, a minha casa estaria infestada. Tenho um filho pequeno, também por isso procuro evitar o contato”, contou.

A professora e pesquisadora do Departamento de Biologia da Universidade Católica de Brasília (UCB) Cristiane de Assis sinalizou que os insetos mais preocupantes nesse período são os vetores de doenças, como os mosquitos. “Esses também estão presentes na época das chuvas, não podemos esquecer. A sugestão é manter a casa limpa, sem amontoado de lixo e evitar deixar água parada ou acumulada”, detalha
» MARIANA LABOISSIÈRE

Correio Braziliense. Brasília-DF,  20 de outubro de 2011. Cidades, pág. 40.

Vulnerabilidade genética

Thais de Luna

Correio Braziliense. Brasília-DF,  20 de outubro de 2011. Saúde, pág. 27

Cientistas de Cingapura e do Vietnã revelam como alterações em dois genes tornam algumas pessoas mais suscetíveis à síndrome do choque da dengue, a forma mais grave da doença.
fico

Basta haver chuva e um recipiente a céu aberto e está pronto o lugar ideal para que o Aedes aegypti deposite seus ovos na água parada. A presença do mosquito é um perigo para a população, que corre o risco de ter dengue, já que o Aedes aegypti é o transmissor do vírus. A doença infecciosa, comum nesta época — já atingiu 715,6 mil brasileiros só em 2011 —, pode ocorrer de forma mais leve, com sintomas semelhantes aos da gripe, ou mais grave, na forma hemorrágica. Um estudo publicado esta semana na revista especializada Nature Genetics, feito por pesquisadores de Cingapura e do Vietnã, revela que uma mutação nos genes MICB e PLCE1 torna as pessoas mais vulneráveis a desenvolver a síndrome do choque da dengue, que é a forma mais grave da dengue hemorrágica.

A síndrome, segundo o epidemiologista Pedro Tauil, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB), é caracterizada pela diminuição da pressão arterial; pela redução do volume do sangue — o que dificulta seu fornecimento pelo coração para todo o corpo —; pela perda de líquido e aumento da permeabilidade dos vasos sanguíneos; e, principalmente, por hemorragias. É um quadro gravíssimo, que pode levar o paciente à morte.

Um dos autores da pesquisa, Khor Chiea Chuen, médico e cientista do Instituto Genoma de Cingapura, explicou ao Correio que o gene MICB em seu estado normal age a partir das células exterminadoras naturais, para controlar a resposta do organismo à infecção causada pelo vírus. Se esse gene sofre alterações, pode afetar a ação de células do sistema imunológico. “Já o PLCE1 está ligado ao desenvolvimento e à multiplicação celular. Quando sofre mutação e o crescimento das células é afetado, o PLCE1 facilita a ocorrência da síndrome, devido à hemorragia que ocorre nos vasos sanguíneos (veja infografia)”, conta.

O cientista de Cingapura afirma que foi surpreendente observar a ligação entre a síndrome do choque da dengue e as células exterminadoras naturais, um fator sobre o qual havia pouco conhecimento. “Acreditávamos que os culpados pela suscetibilidade à doença seriam outros componentes do sistema imunológico, como os linfócitos T ou os linfócitos B”, admite. Ele acrescenta que essa descoberta é um passo significativo para ajudar a compreender por que algumas pessoas ficam mais vulneráveis a desenvolver a forma mais grave da dengue e outras, não. “De acordo com nossos dados, parece que é uma progressão em duas etapas para a doença”, relata. Segundo essa avaliação, a pessoa teria problemas em controlar o vírus devido à mutação no MICB, desenvolvendo a dengue. Como ela também estaria propensa a ter hemorragias, pela alteração no PLCE1, o problema de saúde se agravaria até tornar-se a síndrome do choque da dengue.

Busca incessante

Tauil vê o estudo como importante, mas ressalva que ele precisa ser validado por outras pesquisas na área. “A medicina não teria praticamente nada a fazer para modificar este suposto fator de risco genético”, lamenta. A infectologista do Grupo Acreditar Maria Aparecida Teixeira, por sua vez, acredita que pesquisas na área de infectologia “podem antecipar o comportamento de doenças em determinadas pessoas”, o que auxilia médicos e cientistas a desenvolverem medidas de prevenção ou mesmo curas por meio da terapia genética. “A terapia genética é uma promessa impactante em diversas áreas da medicina e da biologia, mas ainda inacessível para a maioria da população”, pondera.

“Driblar todas as agressões infecciosas é impossível e também indesejável, já que nosso repertório de resposta imunitária é montado a partir dos agentes que provocam as doenças. Caso contrário, seríamos indefesos e teríamos curta vida na terra”, avalia a infectologista. “Alguns indivíduos, no entanto, não podem ‘se dar ao luxo’ de entrar num embate com um vírus, por exemplo, devido a algumas características genéticas, herdadas ou não seus pais. Essas características podem significar resposta imunitária exagerada ou insuficiente, levando a quadros igualmente desfavoráveis”, conta a médica.

Vacina

O epidemiologista da UnB destaca o avanço nas pesquisas de uma vacina, até o momento considerada segura, contra os quatro tipos de dengue. “Essa pode ser uma grande arma para reduzir a incidência da doença, pois a luta contra o mosquito, até o momento o único elo vulnerável da cadeia de transmissão, é muito difícil e pouco eficaz”, completa. Maria Aparecida discorda da ineficácia do combate ao vetor da doença. “Mesmo levando em conta toda a importância dos avanços científicos acerca da dengue, nossa longa convivência com o vírus — 30 anos — já nos permite interferir no processo de transmissão com mais sabedoria e bom senso”, ressalta a infectologista. Segundo ela, deve-se combater primeiro o mosquito o Aedes aegypti, e não o vírus.

Chuen destaca que pretende usar as informações obtidas nesse estudo, em especial sobre o gene MICB, para elaborar um projeto de vacina contra a dengue. “No mínimo, vamos nos esforçar para compreender qual é, exatamente, o efeito dessas variações genéticas sobre como o corpo humano controla e mata o vírus da dengue no processo de infecção.”

 Sintomas

Veja os principais sinais da síndrome do choque da dengue.
» Queda da pressão arterial.

» Queda acentuada do número de plaquetas no sangue (identificada em exames).

» Sangramentos espontâneos, como da gengiva, ou provocados, identificados no teste chamado prova do laço. Esse teste, no qual se observa o surgimento de pontos de sangramento na pele do braço, é feito com o aparelho de medir a pressão arterial.

» Aumento da viscosidade do sangue, que perde plasma (medido em exames).

» Pulsação rápida.

» Pele pegajosa e fria.

» Redução do nível de consciência, que pode indicar choque circulatório — quando o coração e os vasos sanguíneos não conseguem irrigar todos os tecidos do corpo.

Fonte: Maria Aparecida Teixeira, infectologista do Grupo Acreditar

As cidades crescem, as tragédias também

Saneamento

Juliana Braga
Paula Filizola

Correio Braziliense. Brasília-DF, 20 de outubro de 2011. Brasil.

Levantamento do IBGE mostra o efeito da ocupação desordenada do solo nas áreas urbanas. Mais de 40% dos municípios brasileiros sofrem com inundações

Inundação em condomínio de Vicente Pires destrói ruas: segundo especialistas, falta planejamento na ocupação do solo (Rafael Ohana/CB/D.A Press)
Inundação em condomínio de Vicente Pires destrói ruas: segundo especialistas, falta planejamento na ocupação do solo

“Lá vem a chuva de novo”, constatou aflito o síndico da Chácara 43, na Rua 3 de Vicente Pires, Jarbas Paes Leme, ao ver, ontem, o céu de Brasília escurecer. Há mais de três anos à frente da administração do terreno, que abriga 120 famílias, ele já conhece a rotina devastadora das águas na região. Basta percorrer as ruas para reparar que quase todas têm o solo destruído. “A água da chuva forma um rio que desce com muita força e leva tudo por onde passa”, afirma. Devido aos temporais dos últimos dias, Jarbas contabilizou um prejuízo de R$ 150 mil para recolocar todos os bloquetes soltos do piso, além de reconstruir muros e meios-fios. Segundo ele, os moradores se recusam a pagar taxa extra na fatura do condomínio porque sabem que não adianta consertar o local sem um projeto de melhoria que tenha a participação do governo.

Dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que o problema das inundações não é exclusivo de Vicente Pires. Pelo contrário, é cada vez mais comum e grave no país. De acordo com o Atlas do saneamento, dos 5.564 mil municípios brasileiros, 40,8% enfrentavam o problema nos cinco anos anteriores ao levantamento, feito com dados de 2008. Pior, em 30% deles foram alagadas áreas nas quais isso não costumava acontecer.

O relatório do IBGE também aponta que, em 45% das cidades, os alagamentos foram associados à obstrução de bueiros e de bocas de lobo, enquanto em 43%, o problema é a ocupação intensa e desordenada do solo (veja quadro). Vicente Pires está na segunda categoria. “É preciso que as cidades planejem quais serão os espaços de pavimentação e quais locais devem permanecer gramados”, sustenta o especialista em engenharia sanitária e professor da Universidade de Brasília (UnB) Sérgio Koide. Segundo ele, em determinadas regiões, mesmo que sejam feitas obras para melhorar as condições de saneamento, as iniciativas seriam apenas “tapa-buraco”. “Não tem como fazer escoamento em beira de rio, por exemplo. Há áreas em que não deveria morar gente”, diz.

Koide avalia que, por mais que tenham ocorrido mudanças climáticas nos últimos tempos, a principal causa do problema é a intervenção humana. “As mudanças climáticas são sentidas mais a longo prazo. Com certeza, a área impermeabilizada do solo cresce muito mais rápido do que o volume das chuvas”, diz. A situação ainda é agravada, segundo o especialista, porque o poder público não prioriza essas obras, que costumam ser caras.

No caso do condomínio de Jarbas, há um jogo de empurra porque, apesar do pagamento do IPTU, e da água e da luz, a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap)alega o fato de a ocupação ser irregular para não enviar equipes que possam reparar os estragos da chuva. “Eles dizem que não podem fazer nada porque o Ministério Público cobra explicações. Mas pagamos todos os impostos. Isso não faz sentido”, protesta Jarbas.

Loteamentos

A solução, de acordo com Koide, seria um planejamento eficiente da ocupação urbana. “Não se pode permitir que determinadas áreas recebam loteamento. É preciso estabelecer qual é a taxa máxima de ocupação dos lotes”, explica.

O IBGE apontou outro problema, que atinge 47,8% das cidades e que é negligenciado pelas prefeituras: a falta de rede de coleta de esgoto. Segundo a engenheira civil da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Eglê Novaes, essas não são obras complicadas de serem executadas, mas são dispendiosas. “Além de caras, elas ficam enterradas. Ou seja, não dá para colocar uma plaquinha para inaugurá-las. Muitos prefeitos se desinteressam”, explica.

Eglê explica que os altos custos envolvem todos os processos das obras. Em áreas já ocupadas, por exemplo, é necessário abrir as ruas, fazer as ligações do encanamento com os domicílios e, em alguns casos, fazer até estações elevatórias. Por lei, a tubulação precisa ficar entre 1,2m e 6m abaixo do solo, o que varia de acordo com a topografia. Ainda assim, segundo a especialista, as dificuldades são mais legais do que técnicas. “É necessário conseguir licenças e isso pode demorar”, explica

Problemas básicos


Em 40,8% das cidades houve inundações, sendo que em 30,6% delas o problema não ocorria antes.

Cerca de 45% dos municípios atribuíram as inundações à obstrução de bueiros e de bocas de lobo; e 43%, à ocupação desordenada do solo. Outras causas apontadas foram obras inadequadas, dimensionamento incorreto do projeto e lançamento de lixo.

Em todo o país, 33 municípios não têm rede de distribuição de água — 21 deles estão na Região Nordeste.

Só 55,1% das cidades têm rede de coleta de esgoto. No Centro-Oeste, apenas 28,3% dos municípios oferecem o serviço.

Apenas 33% das cidades descartam o lixo em aterros sanitários, considerados a melhor opção para evitar a infiltração do chorume. A maioria, 50,8%, ainda usa os lixões.

A precária política para o lixo


Além de contaminar os lençóis freáticos, os lixões são proliferadores de doenças (Breno Fortes/CB/D.A Press - 23/2/11)
Além de contaminar os lençóis freáticos, os lixões são proliferadores de doenças

Outra situação grave apontada pelo estudo do IBGE é a destinação do lixo, que, associada às inundações, causa um grave problema de saúde pública. Somente 33% das cidades descartam seus resíduos sólidos em aterros sanitários, considerados a forma adequada por garantir a impermeabilização do solo — o que evita contaminação dos lençóis freáticos — e por evitar a disseminação de doenças. A maioria dos municípios, 50,8%, ainda descarta os resíduos em lixões a céu aberto. Considerando o volume de lixo produzido no país, 183t por dia, pode-se ter uma ideia da dimensão do problema. Em 2000, o volume era de 58t diariamente.

Gerente da pesquisa do IBGE, Adma de Figueiredo acredita que falta articulação entre os municípios, que poderiam fazer convênios e dividir as responsabilidades. Segundo ela, não são todas as cidades que precisam ter um aterro. Por meio de parcerias, o problema poderia ser dividido. “Não é só uma questão técnica. É também um problema de articulação e de gestão política”, pondera. Em 2008, 116 municípios não adotavam estratégias de destinação aos resíduos sólidos, sendo que mais de 60% estavam na Região Sul. Nenhum deles no Centro-Oeste.

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, em entrevista à GloboNews destacou a importância de investimentos na área. Segundo ele, cada R$ 1 investido em saneamento gera economia de R$ 4 em saúde. Uma das principais doenças associadas à água contaminada e às inundações, a leptospirose, foi registrada em 12% das cidades brasileiras, sendo que em 3% houve óbitos.

Coleta seletiva

A reciclagem e a coleta seletiva também são formas de amenizar o problema e têm avançado no país. A porcentagem de municípios que executam a coleta seletiva, por exemplo, aumentou de 8,2%, em 2000, para 17,9%, em 2008. “O serviço chega a ser feito em quase todos os municípios, mas, em alguns, não é diário e, em outros, não atende áreas mais isoladas. Ainda há muito o que avançar”, detalha Adma de Figueiredo. (JB)


RACIONAMENTO

O relatório do IBGE revela ainda um paradoxo. Apesar de ser um dos países com maior reserva de recursos hídricos, o Brasil enfrenta racionamento de água em 23% dos municípios. Em 41% deles, o problema é constante, independentemente da época do ano. A situação se torna ainda mais grave se for levado em consideração que, em 60% das cidades com mais de 100 mil habitantes, o volume de água tratada que se perde entre a captação e o consumidor varia de 20% a 50%. Nas cidades com população inferior a essa, a perda é de cerca de 20%.

Oferta de água tratada
 
Em 2008, ano considerado pelo IBGE no Atlas do saneamento, em todas as regiões brasileiras, a água oferecida pelos governos recebia algum tipo de tratamento. Com exceção da Região Norte — com índice de 74,3% —, mais de 90% do líquido fornecido era tratado. O estudo revela também que 78% dos municípios brasileiros investem em melhorias na rede de distribuição de água. O destaque é para os do Sul, com o maior percentual de cidades (86,4%) que adotam esse tipo de prática.

Outra parte do processo de abastecimento que vem recebendo grande investimento dos governantes (67,8% das cidades) é o das ligações prediais. Em menor escala, também são registradas iniciativas de melhoria na captação (49,5% dos municípios brasileiro); no tratamento da água (43,7%); na reservação (36,1%) e na adução (19,9%). Ainda de acordo como o levantamento, em 64,1% das cidades brasileiras a água fornecida à população é obtida pela captação em poços profundos. Em 56,7%, pela captação superficial

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Avanço na vacina contra a dengue

Substância deve estar disponível em 2014 Começa a última fase da pesquisa clínica da possível imunização contra a doença. Entre voluntários de 15 países, há cerca de 4 mil brasileiros

Correio Braziliense. Brasília-DF,  19 de outubro de 2010. Ciência.
 
São Paulo — As primeiras doses da tão esperada vacina contra a dengue poderão ser aplicadas nos brasileiros até 2014, se tudo correr como o previsto. Acaba de começar no país a terceira e última fase da pesquisa clínica, com cerca de 4 mil voluntários de Goiânia, Vitória, Natal, Campo Grande e Fortaleza, que iniciam os testes até o fim do mês. O estudo tem como objetivo confirmar a segurança da vacina após a aplicação de suas três doses, a cada seis meses.

O Brasil é um dos 15 países incluídos no programa mundial de estudos clínicos da empresa Sanofi Pasteur, que conseguiu produzir a primeira vacina a alcançar as etapas mais avançadas de desenvolvimento clínico. Tamanha é a chance de aprovação da vacina pelos órgãos regulatórios que a fábrica onde será produzida em larga escala começou a ser construída na França em 2009 e já produz as doses comerciais para testes de equivalência.

Até agora, 13 mil voluntários desses países já receberam pelo menos uma dose da vacina, que foi bem tolerada. Até o fim desses estudos e antes de a dose ser aprovada e disponibilizada na rede pública de saúde, 45 mil pessoas devem participar da última fase da pesquisa clínica, na qual é avaliada sua eficácia. É nessa etapa que é possível quantificar o número de casos de sucesso. A principal diferença com a fase anterior é que se trata agora de estudos em múltiplos centros de pesquisa pelo mundo com ampliação considerável de voluntários.

O Brasil, inclusive, está finalizando outro estudo da mesma vacina, conduzido por Reynaldo Dietze, diretor do Núcleo de Doenças Infecciosas da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Nessa pesquisa de segurança, iniciada em 2010, 150 voluntários foram vacinados. Os resultados foram semelhantes aos do restante do mundo. “Estamos finalizando a terceira dose da vacina e o que se observa são efeitos colaterais muito pequenos e nada diferentes do que já está descrito na literatura”, comemora o pesquisador.

O novo estudo de eficácia, iniciado na Ufes em agosto, vai observar de 800 a 1.000 crianças, entre 9 e 16 anos, faixa etária que apresentou mais complicações da doença nos últimos anos. Nos próximos 48 meses, qualquer episódio febril do grupo será avaliado. Metade dos voluntários toma a vacina e a outra, um placebo, caracterizando um estudo duplo-cego. Os pesquisadores também não sabem quem recebeu cada um, evitando um direcionamento das avaliações, o que o caracteriza como uma avaliação randomizada. Todos os participantes são de bairros da capital capixaba, Vitória, com alto risco de transmissão de dengue. A doença é transmitida pela fêmea infectada do mosquito Aedes aegypti e pode atingir todo o organismo (a chamada doença sistêmica).

Dificuldades
Enquanto começam os estudos de fase 3 no Brasil, o primeiro estudo do tipo, na Tailândia, é finalizado. Segundo o diretor regional de Pesquisa e Desenvolvimento para América Latina da Sanofi Pasteur, Pedro Garbes, o próximo passo é dar seguimento aos estudos de eficácia — como o iniciado no Brasil — nos demais centros mundiais. A perspectiva de sucesso da vacina, que, segundo o laboratório, deve ficar pronta em 2014, é fruto de anos de investigação. “Já são 60 anos de trabalho científico em dengue, principalmente para a identificação dos quatro diferentes sorotipos da doença”, frisa Garbes.

A Sanofi Pasteur dedica-se à vacina contra a dengue desde 1994. Antes disso, o próprio Albert Sabin, no pós-guerra, já tinha desenvolvido uma vacina contra o tipo 1 da doença. Uma das principais dificuldades para chegar à dose com 70% de eficácia (nenhuma vacina consegue 100% de imunização, alegam especialistas) foi o fato de a doença ser causada por quatro diferentes tipos de vírus. Também está aí uma das principais inovações da vacina, que, em vez da clássica atenuação de vírus, foi desenvolvida por meio de engenharia genética. Para isso, o genoma de cada um dos quatro tipos de vírus foi recortado e colocado no vírus vacinal, porém já mais fraco, da febre amarela, que tem perfil de segurança muito conhecido.

Apesar de ainda em fase de testes, a importância da vacina para a saúde pública tem adiantado negociações para o uso comercial. Segundo o coordenador do Programa Nacional de Controle da Dengue do Ministério da Saúde, Giovanini Coelho, o governo já trabalha em um plano de introdução da vacina. “Trata-se de uma vacina de altíssima prioridade para o Ministério da Saúde. E como não é algo que vem de uma hora para outra, já criamos um grupo de trabalho para discutir, por exemplo, a provável faixa etária a receber as primeiras doses. Embora queiram fazer uma avaliação positiva, certamente, em um primeiro momento, os fornecedores não vão ter vacina para todo mundo. Obviamente, a vacina estando disponível em 2014, a ideia é que seja incorporada no programa de vacinação imediatamente e que seja gratuita.”

PROCESSO DE INFECÇÃO
Mosquito da dengue - Aedes aegypti

1 - Contágio
A fêmea do mosquito Aedes aegypti pica o ser humano, geralmente, nas primeiras horas da manhã ou nas últimas horas da tarde, e introduz o vírus no organismo, caso esteja infectada.

2 - Incubação
O vírus entra nas células para conseguir se replicar (multiplicar). O momento que vai da inoculação (entrada) do vírus no organismo até a aparição dos primeiros sintomas é chamado de período de incubação, que pode durar de três a sete dias, dependendo da quantidade de vírus introduzida.

3 - Replicação
O vírus logo começa a se replicar e cresce em número a ponto de romper e matar a célula. Esses vírus penetram em novas células e o processo vai, progressivamente, se espalhando pelo organismo por meio da corrente sanguínea (infecção generalizada).

4 - Inflamação
Os primeiros sinais de dengue aparecem quando há uma quantidade suficiente do vírus no organismo, capaz de produzir os sintomas. Como se trata de uma doença sistêmica, ocorre um processo inflamatório generalizado, que pode acometer o sistema nervoso, os rins, o fígado, o pulmão, o tubo digestivo e vários outros órgãos. Uma das complicações é a disfunção dos vasos sanguíneos, que não conseguem reter o plasma, levando a uma concentração dos glóbulos vermelhos e, consequentemente, a uma baixa perfusão sanguínea (menor irrigação) nos órgãos.



terça-feira, 18 de outubro de 2011

Ataque às pragas

Pesquisadores dos EUA e do México modificam a toxina Bt, amplamente usada em lavouras de todo o mundo, e a tornam mais eficaz no combate aos bichos que afetam as plantações
» Thais de Luna

A mariposa Plutella xylostella, que se tornou resistente à toxina Bt (Alex Yelich/Divulgação)
A mariposa Plutella xylostella, que se tornou resistente à toxina Bt

Insetos, ácaros e fungos são alguns dos pesadelos de agricultores em todo o mundo. Considerados pragas, esses seres atacam as lavouras e, segundo estimativas, destroem cerca de 30% das plantações apenas no Brasil. Para contornar essa situação, produtores rurais recorrem ao uso de inseticidas, entre eles a toxina da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt), usada há pelo menos 15 anos em nações que autorizam a produção agrícola de transgênicos. O problema é que, quanto mais se usa um composto tóxico, maior é a probabilidade de as pragas se adaptarem a ele. De olho nessa questão, um estudo publicado recentemente na revista Nature Biotechnology, realizado por pesquisadores da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, e da Universidade Nacional Autônoma do México (Unam), revelou que uma pequena modificação na estrutura da toxina Bt a torna eficiente para combater mesmo os insetos que sofreram mutações genéticas e ficaram resistentes à versão natural do composto.

A toxina Bt é amplamente utilizada, especialmente no cultivo de milho, algodão e batata. Dados mostram que, apenas no ano passado, o composto foi usado, em forma de spray ou na alteração genética de vegetais, em mais de 140 milhões de acres de plantação no planeta. A Bt tem ação muito específica, pois só mata os seres que possuem uma enzima chamada receptor de caderina em seu intestino. Quando a toxina é ingerida por insetos que contêm esse receptor, ela é quebrada e entra nas células da parede intestinal do animal. Em seguida, causa a destruição das células e a consequente morte da praga.

Um dos autores da pesquisa, Mario Soberón, especialista em biologia molecular e professor da Unam, diz ao Correio que alguns insetos — como a mariposa Plutella xylostella e determinadas espécies de besouros e lagartas, entre outros — criaram um mecanismo de resistência ao composto, ao sofrerem mutações genéticas no receptor de caderina. “Nós, então, modificamos a estrutura da toxina para ela ser absorvida diretamente pelas células dos animais cuja enzima sofreu mutação. Assim, a Bt não ia precisar do receptor de caderina em sua forma intacta para matar as pragas”, descreve.

O líder do estudo, o professor de entomologia da Universidade do Arizona Bruce Tabshnik, afirma à reportagem que, inicialmente, ele e sua equipe acreditavam que a versão modificada da toxina Bt seria eficiente apenas contra insetos cuja resistência ao composto tinha como base a mutação genética na enzima presente no intestino. “Esse receptor é o que se liga à toxina Bt original nos insetos suscetíveis a ela”, explica. Testes em laboratório com as pragas, porém, revelaram que a atuação do composto é ainda mais ampla. “Surpreendentemente, a toxina modificada foi eficaz contra alguns insetos cuja resistência não era causada pela modificação na caderina, além de nem sempre ter combatido as pragas que têm o receptor alterado”, comenta o norte-americano.

O doutor em microbiologia e entomologia agrícola Ítalo Delalibera Júnior, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (USP), acha interessante que a pesquisa tenha conseguido contrariar a hipótese difundida na comunidade científica de que a toxina Bt modificada geneticamente só seria eficaz contra insetos que fossem resistentes à toxina original. “Os compostos que tiveram a estrutura modificada pelos autores foram muito mais potentes (até 350 vezes) do que os originais contra as populações de insetos resistentes, independentemente da presença ou ausência de mutações nas enzimas do intestino.”

Vantagens

Tabshnik ressalta a importância dessa pesquisa para a comunidade científica: “Com a análise, podemos entender melhor como a toxina mata insetos e como eles se tornam resistentes a ela”. Já para a sociedade, a relevância do estudo está no uso potencial de toxinas modificadas para fazer, de maneira ecologicamente sustentável, o controle de pragas.

Alejandra Bravo, coautora da pesquisa e professora de biologia molecular da Unam, destaca que plantações transgênicas mais resistentes a insetos têm sido úteis na diminuição do uso de inseticidas químicos e, em alguns casos, no aumento do rendimento dos produtos cultivados. “Portanto, nossa versão modificada da toxina Bt poderia ser uma ferramenta valiosa para combater a presença desses animais no campo, o que pode resultar no uso prolongado dessa importante tecnologia”, diz. A empresa de biotecnologia dos Estados Unidos Pioneer analisa atualmente o potencial de comercialização da toxina Bt alterada.

O entomologista norte-americano adverte que os animais sempre vão se adaptar a táticas de controle. Tabshnik conta que o próximo passo da pesquisa é determinar se a forma modificada da proteína tóxica a pragas é eficiente no campo, já que os testes foram feitos apenas em laboratório

Correio Braziliense. Brasília-DF,  18 de outubro de 2010 

domingo, 16 de outubro de 2011

Alface transgênica pode ajudar no diagnóstico do vírus da dengue

 
Uma parceria entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Universidade de Brasília (UnB) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) estuda o uso da alface transgênica no diagnóstico do vírus da dengue.

A ideia, de acordo com a Embrapa, é produzir um kit de diagnóstico mais econômico e eficiente, capaz de agilizar a detecção da doença pela rede pública de saúde. Os kits de diagnóstico à base de plantas, segundo o órgão, representam um décimo do valor dos convencionais.

O processo consiste na introdução de uma parte do gene do vírus da dengue no DNA da planta. Em seguida, ela é colocada em um meio de cultura com antibiótico, o que vai garantir que apenas as células que receberam o gene do vírus sobrevivam. Por fim, a planta é transferida para um tubo de regeneração.

São necessários quatro meses para a conclusão do procedimento. Ao final, a alface transgênica produz uma partícula viral defeituosa, que será aproveitada como reagente a ser misturado ao sangue coletado. Conforme a reação, o medicamento indicará se o paciente está com os anticorpos do vírus da dengue.

A pesquisa está em fase de validação. O antígeno está sendo testado com o sangue de pessoas que tiveram a doença, que estão registradas no banco de dados da Fiocruz. A expectativa da Embrapa, entretanto, é que a validação demore em torno de dois anos, já que é preciso um aproveitamento de cerca de 95% para que o produto seja liberado para comercialização em grande escala.

Correio Braziliense. Brasília-DF,  10 de outubro de 2010. Saúde. 

Após o surto de 2010, governo antecipa trabalho de prevenção à dengue


A chegada da chuva é bem recebida após longos 107 dias de intensa seca no Distrito Federal. A estação, no entanto, traz o perigo do aumento de incidência da dengue. O mosquito vetor da doença, o Aedes aegypti, deposita os ovos em água limpa e parada, situação recorrente em períodos chuvosos. Entre janeiro e agosto deste ano, a Secretaria de Saúde já confirmou 1.359 casos de dengue, um aumento de mais de 238% em relação a 2009 — 2010 não serve para comparação, já que houve um surto da doença (veja Quadro). A cidade em que o panorama preocupa mais é Planaltina, com 773 registros e 114 infecções confirmadas. Até o fim da semana, sai um novo boletim contabilizando as notificações do mês de setembro.

Para evitar a escalada no número de infectados e tentar minimizar as chances de epidemia nos meses com maior precipitação pluviométrica, a coordenação do Programa de Prevenção e Controle da Dengue organiza, entre 17 e 25 de outubro, mais uma semana de ações intensivas e educativas nas cidades mais vulneráveis à proliferação de casos. As atividades englobam mutirões de limpeza, recolhimento de objetos que são criadouros em potencial, além de inspeção das casas de regiões mais afetadas. Além de voluntários, haverá a volta dos agentes de saúde, que ficaram em greve por 11 dias até aceitarem a proposta do governo na última sexta-feira.

A prevenção começou mais cedo do que o usual, em 20 de setembro — o trabalho costuma ter início na segunda quinzena de outubro —, e durará até maio. O coordenador do programa, Ailton da Silva, explica que a sociedade tem papel fundamental no trabalho de prevenção e combate aos focos de reprodução dos mosquitos. “Prevenir a dengue é uma questão de solidariedade, sentimento que precisa imperar. É um mosquito democrático, não respeita classe social. Por isso, estado e sociedade devem se unir para combater a doença”, defende. Segundo ele, pesquisas constatam que 80% dos focos são identificados em residências.
Mesmo com pneus à mostra na porta da loja na Estrutural, o borracheiro Antônio garante se precaver (Fotos: Breno Fortes/CB/D.A Press)
Mesmo com pneus à mostra na porta da loja na Estrutural, o borracheiro Antônio garante se precaver


Além de Planaltina e Samambaia, onde estão concentrados 155 dos 855 casos confirmados no DF, cidades com menor infraestrutura sanitária, como Itapoã e Estrutural, merecem atenção especial, já que houve aumento no número de pessoas contaminadas. Na Estrutural, por exemplo, o avanço da dengue ultrapassa 240%. Em 2009, eram 39 registros. Neste ano, há suspeitas de contaminação entre 133 moradores. A doença é bem conhecida pela dona de casa Marlene dos Santos Fonseca, 28 anos, moradora da cidade. O marido dela foi contaminado há cerca de seis meses.

Com os dois filhos, João Paulo, 7 anos, e Paulo Henrique, 3, ela mora no andar de cima do bar da família. A Vigilância Ambiental costuma passar por lá para vistoriar as instalações e identificar possíveis focos de dengue. Marlene afirma que as garrafas são completamente esvaziadas antes de voltar para o engradado e o local onde elas são armazenadas é coberto e sem risco de ser afetado pelas chuvas. Ela acredita, no entanto, que é preciso um esforço coletivo na cidade para minimizar as chances de proliferação do mosquito transmissor. “Se só eu cuidar, não adianta. Tem de haver a colaboração de todo mundo”, alerta. João Paulo, por sua vez, cobra dos pais o que aprende na escola. “Tem que tirar pneu velho e deixar as vasilhas viradas para baixo”, ensina o menino.

A borracharia de Antônio Lima, 31 anos, tem grande potencial para a proliferação do Aedes aegipty. Há pilhas de pneus, ferro velho e vasilhas de água espalhados. Ainda assim, Lima garante ser o mais cuidadoso possível. Ele jura retirar os pneus da rua quando chove e esvaziar os reservatórios de água todos os dias após o expediente. Lima mora no mesmo terreno da oficina e nunca teve dengue. Para ele, no entanto, apesar das visitas da vigilância, seria melhor ter mais esclarecimentos. “Falta um pouco de informação de como prevenir”, afirma.

Cidades mais vulneráveis

Planaltina     773 notificados     114 confirmados

Samambaia    733 notificados    141 confirmados

Ceilândia     376 notificados    39 confirmados

Santa Maria    357 notificados    13 confirmados

São Sebastião     247 notificados    52 confirmados

Sobradinho 2     169 notificados    56 confirmados

Balanço
Casos até:    Ago/    Ago/    Ago/  Variação(%)  Variação (%)

    2009    2010    2011    9/11    10/11
Notificados  1.514  19.465  5.521  264,7  -71,6

Confirmados  402  12.397  1.359  238,1    -89


Ariadne Sakkis

Correio Braziliense. Brasília-DF,  04 de outubro de 2010. Cidades.

Coleção de insetos do IOC completa 110 anos e tem 5 milhões de espécies

 
Besouros da ordem Coleoptera da coleção entomológica da Oswaldo Cruz (Rodrigo Méxas/IOC Fiocruz/Divulgação)
Besouros da ordem Coleoptera da coleção entomológica da Oswaldo Cruz

O homem cresceu e dominou o planeta, mas nem de longe consegue a proeza dessas pequenas criaturas. Espalhados em todos os lugares da Terra, os insetos são hoje o grupo animal mais numeroso existente na superfície — tanto que os cientistas não chegam a um acordo sobre a quantidade de espécies existentes. Para ter uma ideia, mais da metade de tudo que é vivo (incluindo plantas e fungos) é composta por esses minúsculos bichinhos, muitos dos quais nem sequer foram identificados. Toda essa diversidade faz com que seu estudo seja um dos mais complexos em biologia. No Brasil, um dos principais centros de pesquisa nessa área é o Instituto Oswaldo Cruz (IOC). Lá, 5 milhões de exemplares compõem um dos mais amplos catálogos sobre os insetos da América Latina.

A coleção começou a ser formada há 110 anos, quando o próprio Oswaldo Cruz identificou o mosquito Anopheles lutzi, transmissor da malária. Cruz e outros importantes cientistas, como Adolpho Lutz, foram catalogando espécies encontradas em todo o território brasileiro, incluindo o Triatoma infestans, conhecido como barbeiro e transmissor da doença de Chagas; e o Aedes aegypti, mosquito que carrega o vírus da dengue e da febre amarela. Mas a galeria vai muito além dos vetores de doenças tropicais. As peças incluem besouros, borboletas, grilos, gafanhotos, moscas e por aí vai. “Esse material é um testemunho da história da ciência no Brasil, porque documenta o resultado dos primeiros estudos biológicos realizados no país”, afirma Jane Costa, curadora da Coleção Entomológica do IOC.

A arte de observar e catalogar insetos, conhecida como entomologia, existe desde os tempos do filósofo Aristóteles, que viveu por volta do ano 300 a.C. De lá para cá, a tecnologia facilitou a vida desses amantes da natureza, mas a análise dos insetos ainda é “manual”. Embora os cientistas tenham à disposição microscópios poderosos para visualizar o corpo desses animais, a comparação com outras espécies já identificadas precisa ser feita uma a uma, com cautela e paciência. “Nós estamos lidando com o grupo mais diverso do planeta, que tem uma série de adaptações morfológicas para os mais variados ambientes”, observa a pesquisadora Jane.

Baratas, por exemplo, são um dos bichos mais primitivos que existem. Elas têm seu formato há, pelo menos, 300 milhões de anos, e uma estrutura copiada e melhorada por outras categorias de insetos surgidas mais tarde. “O aparelho bucal de uma barata tem várias partes — língua, lábio, mandíbula — que também existem em borboletas, grilos e pulgas, só que em um configuração completamente diferente”, conta a curadora do IOC. Assim, mosquitos transformaram essas peças bucais em estiletes, capazes de furar uma superfície para sugar sangue. O mesmo aconteceu com moscas, que desenvolveram maneiras de captar o suco das frutas. “Ao longo de milhares de anos, todas essas espécies ganharam características que permitem a sua existência em diversos ambientes”, destaca Jane.

E a adaptação inteligente desses animais está longe de terminar. Muitos insetos que hoje vivem em regiões da Mata Atlântica, da Amazônia e do cerrado já são biologicamente preparados para mudanças climáticas. O barbeiro, por exemplo, pode suportar temperaturas até três graus mais altas do que hoje em dia. “Já está comprovado que, nessas condições, o mosquito vai gerar um número ainda maior de ovos e ter seu ciclo de vida encurtado”, explica a pesquisadora do IOC.

Caracterização
Toda essa elasticidade evolutiva fez com que as espécies de insetos se multiplicassem ao longo dos milhões de anos. A maioria delas, contudo, ainda é desconhecida. “É uma área de pesquisa difícil de ser esgotada. Estou agora em um projeto de identificação de animais do cerrado e do Pantanal e me impressiono com a quantidade de coisas que não conhecemos ainda”, conta o biólogo Carlos Lamas, do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP). Para catalogar um novo inseto, os cientistas realizam um longo trabalho de comparação, que começa com a observação minuciosa do corpo do inseto.

Nesse processo, feito com o auxílio de lentes de microscópio, eles estudam o tamanho, o formato, a coloração, a presença de cerdas ou pelos e todos os detalhes da anatomia interna e externa dos bichos. Se o pesquisador concluir que se trata de uma espécie diferente, precisa descrever todos os detalhes morfológicos e de coleta do animal. Também escolhe um gene para ser sequenciado e comparado com o DNA de outras espécies próximas. “Quanto mais informações a pessoa tiver sobre o animal e sobre o local onde ele foi encontrado, melhor é para o registro”, diz Jane Costa.

Não há um prazo determinado para a conclusão da tarefa, que pode durar anos. Se o inseto é de um gênero conhecido, que tem exemplares em uma colação entomológica de fácil acesso ao pesquisador, a descrição pode ser concluída dentro de alguns dias. “Em outros casos, o animal é de um gênero que tem 50 espécies, então, eu preciso comparar com todas”, esclarece Carlos Lamas. A dificuldade é ainda maior se essas espécies tiverem sido encontradas em outros países. Nesse caso, o cientista precisa pedir o envio do exemplar ou, até mesmo, viajar até a instituição onde está registrado o inseto. Com tudo pronto, a etapa final é a publicação de um artigo científico e o arquivamento do texto em, pelo menos, oito bibliotecas públicas espalhadas pelo mundo.

O holótipo (espécime-tipo, como se fosse o exemplar número um) deve permanecer em uma instituição que tenha condições de mantê-lo em bom estado. A conservação de insetos é relativamente fácil: normalmente, eles são alfinetados em gavetas com umidade e temperatura controladas (por volta de 20°C). O exoesqueleto de quitina dos bichos não se deteriora — na Europa, existem coleções com mais de 600 anos. “Há insetos maiores que precisam de um tratamento específico, com injeção de formol e retirada de órgãos internos”, detalha Jane, do IOC. “O processo de caracterização é um dos mais importantes para a ciência, ainda mais no Brasil. Por aqui, temos 10% da biodiversidade do planeta”, lembra.

Pioneirismo
O cientista Oswaldo Gonçalves Cruz foi um dos primeiros brasileiros a estudar as doenças tropicais no Brasil. Durante sua formação, estagiou no Instituto Pasteur, na França. Quando retornou, ajudou a controlar o surto de peste bubônica que atingiu a cidade de Santos e organizou campanhas sanitárias contra doenças como a malária e a febre amarela. É fundador do Instituto Soroterápico Nacional, hoje rebatizado de Instituto Oswaldo Cruz.

Ameaça da ditadura
Em 1970, parte da coleção entomológica do Instituto Oswaldo Cruz se perdeu devido à truculência da ditadura militar. Naquele ano, 10 pesquisadores do instituto foram cassados, entre eles, os biólogos Herman Lent, Hugo de Souza Lopes e Sebastião José de Oliveira. Além da expulsão dos especialistas, os militares recolheram material científico e colocaram no porão do antigo prédio do Hospital Evandro Chagas, no câmpus de Manguinhos, no Rio de Janeiro. Para tentar salvar o acervo, parte da coleção de dípteros foi enviada ao Museu de Zoologia da USP. Sete anos depois desse evento — que ficou conhecido como Massacre de Manguinhos —, as amostras retornaram ao Castelo Mourisco da Fiocruz. Lá, a largura das paredes e a altura do pé direito ajudam a consersar a temperatura e a umidade

Carolina Vicentin
Corrio Braziliense. Brasília-DF, 02 de outubro de 2010. Ciência. 

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Fiocruz anuncia fase de estudos da vacina contra dengue

Testes começarão nos centros da instituição no Amazonas, Ceará e Bahia

O ESTADO DE SÃO PAULO. São Paulo, 12 de outubro de 2011
 


 RIO DE JANEIRO - A vacina contra a dengue desenvolvida na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) vai entrar em fase de estudos clínicos e deve ser concluída em quatro ou cinco anos, disse nesta terça-feira, 11, à Agência Efe o diretor de Bio-Manguinhos, unidade de vacinas da Fiocruz, Arthur Couto.

Segundo ele, os testes começarão nos centros da instituição nos estados do Amazonas, Ceará e Bahia.

O pesquisador informou que os estudos "estão muito avançados", mas reconheceu que a farmacêutica francesa Sanofi-Aventis leva vantagem em seu projeto de vacina contra a dengue, que já está na etapa final de desenvolvimento.

"Estamos atingindo os objetivos, mas ainda temos uma caminhada pela frente. Nossa expectativa é chegar ao produto e concluir seu registro em quatro ou cinco anos", disse Couto.

A Fiocruz, que trabalha em colaboração com a multinacional belga GlaxoSmithKline (GSK), pretende desenvolver uma única vacina contra os quatro sorotipos existentes do vírus, de maneira que se possa aplicar em uma só dose para facilitar a logística da distribuição em regiões remotas. Enquanto isso, o Governo apresenta seu plano para combater a dengue na temporada do verão, época de maior contágio.

Dentre as estratégias anunciadas nesta terça-feira pelo Ministério da Saúde, destaca-se a designação de incentivos financeiros aos municípios que cumprirem os objetivos de prevenção e do acompanhamento epidemiológico com apoio das redes sociais.

"O Ministério da Saúde utilizará todos os meios de informação para antecipar as ações contra a dengue. As redes sociais serão usadas dentro dessa estratégia", disse o ministro Alexandre Padilha em comunicado.

As redes sociais servirão como um sistema de vigilância complementar que alertará a detecção de novos casos por áreas geográficas, permitindo verificar regiões que apresentem um aumento significativo de contágios.

O secretário de Vigilância de Saúde, Jarbas Barbosa, afirmou que o Ministério está lançando uma série de iniciativas centradas no atendimento correto da população. Segundo ele, o Governo pretende incentivar a formação de 66 mil profissionais para melhorar o diagnóstico e o atendimento.

De acordo com o balanço epidemiológico, entre janeiro e setembro de 2011, o número de casos graves foi reduzido em 40% em relação ao mesmo período de 2010. O número de óbitos por causa da dengue diminuiu 25% e o número de casos notificados caiu 24%.

Em 2010, 550 pessoas morreram no Brasil pelo contágio desta doença transmitida pela picada do mosquito "Aedes aegypti", que nos casos mais graves chega a produzir hemorragias internas.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O mouse, o cão e o dragão chinês

São Paulo, segunda-feira, 03 de outubro de 2011






BICHOS

JAIME SPITZCOVSKY - jaimespitz@uol.com.br

É inevitável que maus-tratos aos animais diminuam num país onde a lei e a democracia têm mais espaço

Não resta dúvida de que o Partido Comunista chinês desistiu de seguir o chamado de Karl Marx para unir os proletários e jogar os capitalistas na lata de lixo da história.
A alquimia pequinesa dos dias atuais combina ingredientes de economia de mercado, dirigismo estatal e consumismo irrefreável, amalgamados com um impenetrável monopólio do poder nas mãos da elite dominante. Mas desafios começam a intensificar essa lógica implantada nas últimas três décadas, com uma embrionária sociedade civil mostrando suas garras e usando a internet, por exemplo, para arrancar a defesa dos direitos dos animais.
No mês passado, autoridades da cidade de Jinhua, na região leste do país, anunciaram o cancelamento de uma tradição com cerca de seis séculos, o festival de carne de cachorro, marcado para o próximo dia 18. A proibição foi anunciada depois de uma campanha capilarizada pelo Sina Weibo, espécie de Twitter chinês, com ampla divulgação de fotos e relatos de maus-tratos contra os animais.
Celebridades chinesas embarcaram na mobilização. Jornais chineses, sempre vigiados pela mão forte do controle estatal, dedicaram editoriais para criticar a feira. Em menos de um mês, a campanha ganhou corpo, e as autoridades do distrito de Wucheng, palco do evento, recorreram ao Sina Weibo para anunciar a desistência. A decisão, sustentaram eles, veio em "completo respeito à opinião pública".
Tradicionalistas contra-atacaram. Resgataram, em vários comentários, a origem da feira. Segundo o folclore local, estaria ligada à decisão de Hu Dahai, líder rebelde em sublevação contra a dinastia Yuan no século 14, de ordenar a matança dos cães de Jinhua para evitar que latidos revelassem a aproximação das suas tropas. A carne canina teria servido de alimento aos combatentes, gastronomia perpetuada pela tradição do evento anual.
Alguns pontos importantes do debate: vários ativistas não questionavam o consumo da carne canina, mas os maus-tratos a que eram submetidos os animais. Relatos apavoradores e repugnantes. Outros questionavam o próprio uso dos ensopados à base de ingredientes oriundos dos nossos amigos de quatro patas.
O episódio de Jinhua escancara as contradições que desafiam o Partido Comunista chinês. Nos tempos de Mao Tse-tung, manter um animal de estimação correspondia a um abominável e decadente hábito burguês. Hoje, o país experimenta uma explosão do mundo pet, com as novas classes médias e os recém-formados milionários ostentando cães como símbolo de status.
Também auscultar a opinião pública não consta do ideário predileto do governo em Pequim, que insiste com tentativas de controlar o mundo digital, no qual navegam nada menos do que 500 milhões de chineses. Para mim, que morei em Pequim entre 1994 e 1997, o aumento do peso da sociedade civil chinesa desponta como um movimento absolutamente incontrolável. Assim como é inevitável que maus-tratos aos animais diminuam num país onde a lei e a democracia encontrem mais espaço.

Região tem 16% das cidades mais vulneráveis à dengue no Estado

Ribeirão Preto, Terça-feira, 04 de Outubro de 2011





SAÚDE

DE RIBEIRÃO PRETO - Mapeamento do Centro de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado da Saúde mostra que 48 das 283 cidades paulistas mais vulneráveis à transmissão de dengue estão nas regiões de Ribeirão, Franca, Barretos e Araraquara.
Com o objetivo de conter o avanço da doença nesses municípios, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) lançou ontem um plano estadual de combate à dengue, que prevê a intensificação do controle da doença.
O Departamento Regional de Saúde de Ribeirão criou um plano local de controle para monitorar, mês a mês, as ações de combate à dengue nos 26 municípios do nordeste paulista.
Foram registrados na região, do início do ano até agosto, cerca de 19 mil casos -o maior registro do Estado.

Vacina com excesso de proteína matou cães

São Paulo, terça-feira, 04 de outubro de 2011



Análise da injeção antirrábica aplicada em 2010 apontou falha como possível causa de reações fatais em animais

Vacinação do governo deverá ser feita com medicação produzida por outro laboratório até o final deste ano

SÍLVIA CORRÊA
COLUNISTA DA FOLHA

A vacina antirrábica distribuída pelo Ministério da Saúde para a campanha de imunização de cães e gatos de 2010 tinha excesso de proteínas bovinas. É essa a conclusão da análise feita pela Universidade de São Paulo e obtida pela Folha.
A principal hipótese dos pesquisadores é que, em concentrações elevadas, essas proteínas tenham desencadeado reações alérgicas extremas em alguns animais, levando parte deles à morte.
Com base nessa constatação, o Ministério da Saúde exigiu alterações na fabricação da vacina para aceitá-la na campanha deste ano. O ministério reconhece que 283 reações graves podem ser relacionadas à vacina -210 mortes de cães e gatos.
Na ocasião das mortes, no entanto, só o governo de São Paulo anunciou o registro de 2.627 casos de reação. As reações levaram o governo a suspender a campanha e atrasá-la neste ano. Feita geralmente em agosto, ela ainda não aconteceu na maioria dos Estados.
Em 2010, a vacina foi feita pelo laboratório Biovet. Neste ano, as doses serão produzidas pelo Tecpar (Instituto Tecnológico do Paraná).
Até 2009, o Ministério da Saúde distribuía doses da vacina fabricadas por meio de método diferente do utilizado no ano passado.
A USP analisou as doses da vacina a pedido da comissão permanente de raiva de São Paulo. "Sabíamos que outros países haviam tido problemas com o excesso de proteínas bovinas [EUA em 2005 e Japão em 2006]. Por isso, decidimos mensurá-las", diz o veterinário Marco Antonio Stephano, responsável pelo Laboratório de Imunobiológicos e Biofármacos do Departamento de Tecnologia Bioquímico-Farmacêutica da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP.

CONCENTRAÇÃO
Obtidas do soro do animal, essas proteínas servem para alimentar a cultura de células na qual o vírus da raiva deve se multiplicar. Após a multiplicação, a mistura tem de ser muito bem purificada -o que não aconteceu, segundo as análises. Nas vacinas disponíveis no mercado, a concentração de proteínas bovinas é de cerca de 0,25 mg/ml. Na antirrábica usada em 2010 estava em 1 mg/ml.
Os cães tiveram vômito, diarreia sanguinolenta, dificuldade respiratória e hemorragia gastrointestinal. Os gatos, alterações respiratórias que levaram à apatia e à inanição. São quadros compatíveis com choque anafilático.
"Reações adversas sempre existirão, mas nossa expectativa é que os índices voltem aos níveis históricos", diz Stephano. Em São Paulo, em 2010, foram registradas 4,19 reações adversas para cada mil vacinados, índice muito acima de anos anteriores (0,06 animal por mil).

CAMPANHAVACINAÇÃO PODE VOLTAR EM DEZEMBRO

O Ministério da Saúde quer entregar a vacina antirrábica em tempo de os Estados fazerem suas campanhas até dezembro. Desde 2008, o país teve cinco casos em humanos -quatro no Maranhão e um no Ceará. Na falta de vacina gratuita, donos de animais pagam até R$ 40 pela imunização em clínicas particulares.

OUTRO LADO
Produção segue legislação, diz o laboratório


DA COLUNISTA DA FOLHA

O laboratório Biovet disse à Folha que agora apenas o Tecpar (Instituto Tecnológico do Paraná) fala sobre as reações adversas causadas pelas vacinas. O Tecpar assumiu a produção da vacina que será usada neste ano.
O diretor-presidente do Tecpar, Júlio Félix, diz que a produção teve de incluir um sistema adicional de filtragem e que a nova vacina a ser distribuída teve de ser testada em cães e gatos imunizados em 2010 para se observar se não teriam reações.
"Apesar de termos concordado com as modificações, é preciso ressaltar que o produto fornecido no ano passado estava absolutamente dentro do que prevê a legislação", afirma Félix.
Governo e pesquisadores confirmam o que diz a empresa. O problema, dizem, talvez esteja na lei. As vacinas antirrábicas não precisam ser testadas em cães e gatos antes de irem ao mercado.
No caso do produto com excesso de proteínas bovinas, os testes foram feitos em camundongos e não houve reação alérgica. Mesmo sem previsão legal, testes em cães e gatos foram uma das exigências feitas pelo governo para voltar a comprar a vacina antirrábica dos laboratórios Tecpar/Biovet.


terça-feira, 11 de outubro de 2011

Ribeirão limita teste rápido de dengue


Ribeirão Preto, Quarta-feira, 05 de Outubro de 2011






Em plena epidemia da doença e com previsão de piora em 2012, Saúde deve deixar de fazer NS1 em todos os casos

Apesar de não ser obrigatório com nível epidêmico, Estado diz que exame ajuda no monitoramento viral

ANA SOUSA

DE RIBEIRÃO PRETO

A Secretaria de Saúde de Ribeirão Preto deve deixar de fazer o NS1, o teste rápido para diagnóstico de dengue, em todos os pacientes com suspeita da doença em 2012.
Neste ano, o município custeou com verba própria os testes para todos os pacientes com suspeita da doença.
O Estado deixa de pagar pelo exame quando a epidemia atinge 300 casos para cada 100 mil habitantes. Mas, no lançamento do plano estadual de combate à doença, ontem, considerou o exame prioritário para o monitoramento da circulação viral.
De acordo com a diretora do Departamento de Vigilância em Saúde, Maria Luiza Santa Maria, o NS1 deve ser mantido somente em áreas onde a epidemia não ocorre.
Nos locais em que houver grande transmissão, os pacientes serão submetidos ao teste clínico e ao hemograma.
"Fizemos [o teste] indiscriminadamente. Quando precisamos muito do teste, tivemos falta dos kits", afirma.

JUSTIFICATIVA
Além de evitar reduções drásticas no estoque do NS1, a mudança deve gerar economia. Para bancar os exames neste ano, a secretaria gastou mais de R$ 250 mil.
Para o infectologista Celso Granato, da Unifesp, o alto custo é uma das desvantagens do teste rápido.
"É caro. Quando se tem um quadro claro de epidemia, não é preciso fazer em todos os pacientes", diz.
O infectologista Luiz Jacintho da Silva, professor aposentado da Unicamp, considera que o NS1 aumenta a possibilidade de tratamento precoce, mas ressalta a importância de investimentos para prevenir o contágio.
"[O teste rápido] Contribui para reduzir a incidência de casos graves e, consequentemente, de óbitos. O problema é o controle do vetor", diz.
Até setembro deste ano, Ribeirão registrou 18.425 casos e 12 mortes pela doença -a segunda maior epidemia da cidade. Em 2010, pior registro da história, foram registrados cerca de 30 mil casos.

Fapesp publica manual de ética para evitar má conduta científica

São Paulo, quarta-feira, 28 de setembro de 2011



Fapesp publica manual de ética para evitar má conduta científica

Código traz diretrizes para prevenção e investigação de fraude

SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO

A Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), principal órgão que financia a pesquisa paulista, lançou ontem seu Código de Boas Práticas Científicas. O documento, uma espécie de manual de 40 páginas que será entregue aos cientistas, traz diretrizes para fazer ciência com ética.
Entre as recomendações estão, por exemplo, que deve ser autor de um trabalho científico apenas quem deu "contribuições intelectuais" e que "dados e informações coletadas devem ser registrados de maneira precisa".
Apesar de saber que a má conduta ronda a ciência, a Fapesp não tem uma estimativa sobre o número de fraudes no Estado, que é responsável por 51% da pesquisa do país.
"Sabemos que aumentaram os casos porque aumentou a quantidade de pesquisadores", disse o presidente da fundação, Celso Lafer.
Nos EUA, um levantamento do ano passado com 2.599 cientistas mostrou que 84% já presenciaram fraudes científicas ou participaram delas.
Consultado pela Folha na época, o líder do trabalho, Gerald Koocher, disse que as estatísticas poderiam ser generalizadas para o Brasil.
O código da Fapesp traz ainda novidades na apuração dos casos de má conduta.
A partir de agora, pesquisas financiadas pela Fapesp e suspeitas de fraude serão investigadas pelas universidades por uma comissão de pelo menos três pessoas.
Essas instituições terão de enviar à Fapesp um relatório -e a fundação poderá complementar as investigações.
Mas, para o diretor científico da fundação, Carlos Henrique de Brito Cruz, a proposta do código é trabalhar a prevenção da má conduta.
"Não queremos que a ética seja assunto só quando a mídia publica um caso de plágio. A ideia é que as universidades façam seminários e discutam os casos", disse.
O CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) também lançará, em outubro, um manual de ética. O documento está sendo produzido por uma comissão criada após a divulgação, pela Folha, de uma fraude na Unicamp.