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quinta-feira, 26 de maio de 2011

Controle de vetores autua 2 moradores por dengue

FOLHA DE SÃO PAULO. de Ribeirão Preto.  26 de maio de 2011.

Agentes do controle de vetores de Ribeirão Preto autuaram ontem dois donos de casas fechadas por acúmulo de materiais que servem de criadouro para a dengue.
Segundo a chefe do Controle de Vetores, Maria Lúcia Biagini, os donos das casas terão um prazo de uma semana para fazer a limpeza."A multa para o descumprimento da determinação é a partir de R$ 1.000", diz.
Um dos imóveis, no Jardim Mosteiro, foi visitado pelos agentes pela segunda vez em menos de duas semanas.
Segundo vizinhos, moradores de rua carregam latas, garrafas e entulho para dentro da casa. Para evitar que isso aconteça, o dono terá de lacrar a fachada.
Os donos dos imóveis não foram localizados pela reportagem. Só neste ano, Ribeirão registrou 12.405 casos de dengue e quatro mortes.

Agência Espacial Europeia monitora mosquitos por satélite

O GLOBO, Rio de Janeiro, 18/05/2011. Ciência
 RIO - Os mosquitos transmissores de dengue, malária e outras doenças infecciosas começaram a ser monitorados por satélite pela Agência Espacial Europeia (ESA). O trabalho começou na Europa, mas poderá ser ampliado para outras regiões do mundo, caso os resultados se mostrem relevantes no combate de doenças.
Chamado Vetmap, o sistema criado pela ESA usa imagens obtidas por satélites e dados coletados em campo por pesquisadores e agentes de saúde. O sistema combina dados meteorológicos e de ocupação urbana com registros de incidência de mosquitos. A ideia é alertar com bastante antecedência quando houver risco de proliferação de mosquitos numa área. Por enquanto, os principais objetivos são evitar casos de dengue e da febre do oeste do Nilo na Europa.

Gatos caçadores

Felinos domésticos atacam aves e outros animais silvestres

O GLOBO,  Rio de Janeiro, 24/05/2011. Ciência
 
A polêmica do gato caçador/ Arquivo
LONDRES - Um estudo publicado na revista científica "Biological Conservation" sugere que a superpopulação felina, onipresente em cidades de todo o mundo, prejudica animais silvestres que vivem junto a áreas urbanas. Para salvar a fauna nativa só haveria um caminho: limitar o número de gatos que uma residência poderia abrigar. Esta é a recomendação do australiano Michael Carver, da Universidade Murdoch, autor da pesquisa. Há, no entanto, quem seja mais radical com os bichanos, propondo seu registro junto às autoridades, ou até mesmo a castração compulsória.
Calver alega que a falta de controle sobre a população felina está contribuindo para reduções no número de animais silvestres que vivem junto a áreas urbanas. As maiores ameaças seriam os gatos de rua. Só que mesmo animais com lar também contribuem para uma matança que apenas no Reino Unido é responsável por quase 90 milhões de vítimas entre pequenos animais anualmente. Daí a sugestão do australiano de que os felinos passem mais tempo dentro de casa e, quando saiam, usem coleiras com guizos para alertar outros animais.
No estudo, Calver faz questão de diferenciar gatos domésticos daqueles que vivem nas ruas. Se os abandonados podem, por uma questão de sobrevivência, voltar a um estado perto do selvagem, no caso dos animais domésticos o problema é a superpopulação. A concentração habitacional em áreas urbanas pode culminar com a existência de pelo menos 100 gatos por quilômetro quadrado no Reino Unido. Isso torna o jogo desigual para os animais silvestres, já às voltas com a destruição de seus habitats.
- A expansão urbana tem aumentado a importância de jardins para esses animais, o que contribui para maiores ameaças por conta da interação com felinos. É claro que não podemos culpar os gatos, mas isso também não nos impede de tomar precauções - afirmou o cientista.
Entre elas estão desde dispositivos como a coleira de guizos como até a proibição de gatos em áreas próximas a regiões com ameaça de extinção à fauna local. Recentemente, a prefeitura da cidade de Warwick, na região central da Inglaterra, começou a debater um projeto de lei que limita a posse de cães e gatos a três animais por residência.
Calver não é o único acadêmico defendendo controles populacionais. Há estudos na França e nos EUA que alertam para efeitos da voracidade de gatos domésticos. E a preocupação aumenta num momento em que a economia cambaleante tem resultado em casos e mais casos de abandono de animais por donos querendo economizar nas contas do mês.


 

Rede científica vai capacitar pesquisadores brasileiros

Doutores em início de carreira terão bolsa para se qualificar em laboratórios de ponta dos EUA

O ESTADO DE SÃO PAULO, São Paulo, 24 de maio de 2011. Educação.
Agência Brasil

A Rede Interamericana de Academias de Ciências (Ianas, na sigla em inglês) vai conceder, pela primeira vez, bolsas de curta duração para jovens pesquisadores com nível de doutorado, da América Latina e o Caribe, para capacitação em laboratórios de ponta nos Estados Unidos.
Serão ao todo 20 bolsas. Cada país poderá indicar até cinco pesquisadores com projetos de elevada qualidade. As inscrições foram abertas no último dia 15 e se estenderão até o dia 15 de agosto. No Brasil, a entidade responsável pela seleção dos candidatos às bolsas é a Academia Brasileira de Ciências (ABC).
Segundo o assessor técnico da ABC, Marcos Cortesão, o tipo de bolsa oferecido pela Ianas não existe no mercado nacional. A ideia surgiu a partir de reunião da Ianas na Guatemala, quando foram apresentadas as necessidades e as demandas por capacitação dos países da América Latina e o Caribe.
A intenção é aumentar a oferta de bolsas para pesquisadores da região à medida que o projeto for evoluindo. “A ideia é que, em sendo exitoso o projeto, ele se reproduza no ano que vem em maior volume, disponibilizando essa bolsa que permite ao jovem pesquisador uma visita de curta duração a laboratórios de ponta nos Estados Unidos.”
As bolsas terão duração de até dois meses. Podem concorrer pesquisadores nas áreas de ciências físicas, química e geociências. Cortesão esclareceu que terão prioridade os pesquisadores em início de carreira. “É uma iniciativa mais voltada para doutores em início de carreira que já estejam estabelecidos em uma instituição, ou seja, tenham já um contrato efetivo em um instituto de pesquisa ou universidade”.
O objetivo é estimular o desenvolvimento posterior de uma colaboração de longo prazo entre os pesquisadores e as instituições americanas, além de fortalecer a capacitação em ciência e tecnologia na América Latina e no Caribe.
A Ianas deverá divulgar os nomes dos selecionados de cada país em outubro, quando já começará a ser feito o intercâmbio. A previsão para o fim da duração das bolsas é dezembro de 2012.

Casos de dengue chegam a 107 mil no Rio de janeiro, com 80 mortes

O ESTADO DE SÃO PAULO, São Paulo, 26 de maio de 2006. Saúde.
 
AGência Brasil

RIO - As notificações de casos de dengue chegaram a 107.227 no estado do Rio, com 80 mortes. Os números foram divulgados na quarta-feira, 25, pela Secretaria de Saúde do Estado e são referentes ao período de 2 de janeiro a 21 de maio. O maior número de mortes ocorreu na cidade do Rio de Janeiro, com 30 casos.
Apesar do crescimento do número de casos, a secretaria afirmou que a tendência é declínio. O pico da doença, segundo o boletim epidemiológico, foi no mês de abril, quanto atingiu 41.682 mil casos. Em maio, nas três primeiras semanas, foram notificados 11.232 casos.
A dengue matou pessoas ainda em São Gonçalo (8), Nova Iguaçu (7), Duque de Caxias (6) e São João de Meriti (4). Os municípios de Magé, Mesquita, Itaocara, Rio das Ostras, Barra Mansa, Belford Roxo, Campos dos Goytacazes, Volta Redonda e Barra Mansa registraram duas mortes cada. Cabo Frio, Maricá, São José do Vale do Rio Preto, Bom Jesus de Itabapoana, Itaperuna, Angra dos Reis, Queimados, Seropédica, Casemiro de Abreu, Italva e Pinheiral, uma morte por município.

Doenças como aids e malária precisam de novas estratégias para erradicação

Correio Braziliense, Brasília,  26/05/2011. Ciência

Até o século 18, a varíola era uma doença letal. Ter as marcas das temidas bexigas espalhadas pelo corpo era quase assinar o próprio atestado de óbito. Somente na Inglaterra, 10% da população morreu nos anos 1700 devido à infecção pelo orthopoxvirus. Então uma descoberta mudou a forma como o mundo lidava não somente com essa moléstia, mas com todos os outros males transmitidos por micro-organismos. O médico britânico Edward Jenner observou que pessoas infectadas por um vírus bovino muito semelhante ao da varíola, o cowpoxvirus, estavam imunes contra a forma letal da doença. Em 14 de maio de 1796, ele fez um experimento que revolucionou a medicina: retirou uma pequena quantidade de sangue de uma mulher doente e inoculou a amostra em uma criança. Ocorria a descoberta da vacina.

Passados 215 anos, a varíola já não preocupa a saúde pública. Ela foi considerada erradicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Mas outras doenças precisam urgentemente de estratégias semelhantes, dizem cientistas na edição de hoje da revista Nature. Um especial sobre imunologia reflete os avanços e os desafios da área, elegendo três doenças prioritárias para o desenvolvimento de vacinas: Aids, malária e tuberculose. Juntas, elas provocam mais de 5 milhões de mortes anuais em todo o mundo.

Confinados em seus laboratórios, pesquisadores têm buscado incessantemente uma resposta rápida de prevenção a esses males. Apesar dos esforços, ainda não se chegou a um produto eficaz. Mas, na próxima década, o cenário pode mudar. “Novos avanços conceituais e tecnológicos indicam que será possível desenvolver vacinas contra essas doenças em 10 anos. Esses avanços incluem novos regimes de imunização prime-boost (doses de reforço sucessivas à primeira vacina), novos adjuvantes (compostos farmacêuticos), bem como novos métodos de apresentação de antígenos”, escreveram na Nature Rino Rappuoli e Alan Aderem, pesquisadores da Novartis Vacinas e Diagnósticos da Itália e do Instituto de Pesquisa Biomédica de Seattle, respectivamente.

Novas abordagens
Os cientistas defendem que o sucesso do desenvolvimento de vacinas inovadoras depende, em grande parte, da “habilidade de usar novas abordagens”, além de aumentar a quantidade de ensaios clínicos. Graças aos avanços das pesquisas sobre o DNA e na área de biologia molecular, o desafio pode ser vencido, acreditam Rappuoli e Aderem. No artigo, eles lembram que as vacinas contra o vírus da Aids começaram a ser desenvolvidas ainda na década de 1980. Dez anos depois, iniciaram os testes que, porém, falharam. Os cientistas observaram que, in vitro, os anticorpos da imunização neutralizava apenas a cepa usada para a produção da vacina. Eles não combatiam uma das características mais brutais do vírus: sua diversidade genética.

“Foram fracassos atrás de fracassos, que sempre esbarraram em diversos problemas, como baixa eficácia e ampla resistência do HIV. Mas tentativas estão sendo feitas para alcançar novas estratégias mais positivas”, afirma ao Correio Alan Aderem. É o que vem acontecendo nos laboratórios vinculados a um consórcio internacional de pesquisas para combate ao HIV. Os cientistas trabalham no desenho da primeira vacina de mosaico — composta por sequências sintéticas de proteínas que combatem a variedade genética do vírus.

“As vacinas tradicionais contra o HIV são desenhadas para que o sistema imunológico reconheça os aminoácidos específicos existentes nas proteínas dos vírus”, conta ao Correio Barton Haynes, diretor do Centro de Imunologia e Vacinas para HIV/Aids da Universidade de Duke, que lidera o consórcio. “A nova abordagem, porém, é composta de muitas sequências cridas em computador que podem fazer com que o organismo responda à grande variedade de cepas do HIV”, explica. Ele diz que a expectativa da equipe é já começar os testes em humanos no ano que vem. “Estamos muito empolgados, pois os ensaios em animais foram muito promissores”, diz Haynes.

Reengenharia
No caso da Mycobacterium tuberculosis, o bacilo responsável pela tuberculose, já existe uma vacina, a BCG, desenvolvida há um século. Apesar de evitar o contágio e a mortalidade em crianças, a imunização é incapaz de proteger adultos e idosos. Em todo o mundo, cerca de 6 bilhões de pessoas são portadoras de uma infecção latente que, em 10% dos casos, evolui para a doença ativa. O futuro do combate à doença pode estar na reengenharia genética, sugerem os autores.

Apesar de associada aos poetas do romantismo, movimento literário do século 19, a tuberculose ainda é uma doença contemporânea. Mesmo a Inglaterra, a terra de Lord Byron, talvez o principal expoente do mal em sua época, ainda registra 9 mil casos por ano, com um aumento de 50% na incidência desde 1999. No Brasil, a partir de 1990, a prevalência da tuberculose diminuiu 26%, com queda de 32% na taxa de mortalidade, mas ainda surgem 72 mil casos por ano, com 4,7 mil mortes em decorrência da doença, de acordo com o Ministério da Saúde.

O Instituto Nacional de Coração e Pulmão do Imperial College de Londres vem trabalhando para erradicar o mal. Há dois meses, o professor Ajij Lalvani, que lidera o projeto, publicou um artigo descrevendo uma descoberta que poderá acabar de vez com a tuberculose. Os pesquisadores identificaram uma proteína, a EspC, que desencadeia uma forte resposta imunológica em pessoas infectadas pela Mycobacterium tuberculosis. “É a resposta mais rápida já provocada por qualquer outra molécula conhecida”, comemora Lalvani, em entrevista ao Correio. “Essa proteína é secretada pela bactéria da tuberculose, mas não pela vacina BCG. Como resultado, essa vacina não induz uma resposta imune à EspC. Então, ao desenvolvermos uma nova vacina podemos combater melhor a doença”, diz.

Proteína
Considerada uma doença negligenciada, a malária mata 900 mil pessoas por ano, sendo que a maioria das mortes ocorrem em crianças com menos de 5 anos na região da África subsaariana. Estratégias de prevenção, como o uso de mosquiteiros, não têm sido suficientes para frear a fome do mosquito vetor da doença. Também graças a uma proteína, poderá ser possível desenvolver uma vacina contra o mal. Em parceria, o laboratório Merck, a Iniciativa PATH Malária e o Centro Médico Langone NYU, de Nova York, estão buscando uma nova abordagem para evitar que o parasita chegue ao fígado. Nessa fase, a doença se desenvolve, devastando o organismo.

Os cientistas advogam que uma vacina poderá interromper o ciclo. A proteína circunsporozoíta desempenha um papel crítico no desenvolvimento da malária. Conseguir boloqueá-la pode significar a prevenção da doença, já que, se o parasita não chegar ao fígado, a pessoa pode até ser picada pelo mosquito, mas não sofrerá dos sintomas da doença. Os testes iniciais destinam-se à aplicação da vacina em crianças com menos de 1 ano, mas os pesquisadores acreditam que a abordagem também poderá ajudar a prevenir o mal em adultos vulneráveis ao Plasmodium falciparum, mais letal parasita da malária.

A edição especial da Nature também faz um alerta. De nada adianta os cientistas se esforçarem para obter novas vacinas se médicos, enfermeiros e a população em geral não entenderem os benefícios e mesmo os riscos associados à imunização. Uma pesquisa feita na Comunidade Europeia mostrou que um quinto dos pais têm dúvidas se vacinam ou não seus filhos. “As estratégias têm de focar os grupos em que os ganhos reais podem ser feitos: os pais que têm dúvidas mas se preocupam também, mais do que aqueles que se recusam terminantemente a vacinar as crianças”, escreveu na revista Julie Leask, do Centro de Imunização da Universidade de Sidney.

Casca de ferida
No século 11, a medicina chinesa desenvolveu um método para imunizar crianças contra a varíola. As cascas das bexigas eram raspadas e aspiradas para evitar o contágio. Mas Jenner é considerado o pai da imunologia moderna. Segundo a Fundação Oswaldo Cruz, a etimologia da palavra vacina está diretamente ligada à descoberta de Edward Jenner. Vacina vem do latim vaccinus, cujo radical é vacca (vaca).

Menor proteção
Durante um congresso da Liga Europeia contra o Reumatismo, foi apresentada, ontem, uma pesquisa da Universidade de São Paulo mostrando que pacientes de reumatismo respondem menos à vacina contra o vírus H1N1, causador popularmente chamada gripe suína. Um estudo sobre a eficácia da imunização em 340 portadores de reumatismo e 234 pessoas saudáveis mostrou que a eficácia da vacina é 20% mais baixa no primeiro grupo.

Cidades fazem uso indevido do "fumacê"

Ribeirão Preto, Quarta-feira, 25 de Maio de 2011
Diagnóstico é da Sucen, que aponta quatro municípios com problemas na aplicação

ANA PAULA SOUSA

DE RIBEIRÃO PRETO

Na ânsia de combater o crescimento da epidemia de dengue, municípios da região de Ribeirão Preto fazem uso indevido da técnica de dispersão de veneno conhecida como "fumacê".
Um diagnóstico feito pela Sucen (Superintendência de Controle de Endemias) identificou que agentes faziam uso indiscriminado de inseticidas e ignoravam equipamentos necessários para a dispersão de veneno.
Especialistas ouvidos pela Folha afirmam que o uso inadequado do "fumacê" pode provocar intoxicação e contribuir para a seleção de formas mais resistentes do Aedes aegypti.
Uma reunião foi realizada no Departamento Regional de Saúde, em Ribeirão, na última sexta-feira, para alertar os representantes das cidades sobre os prejuízos que o uso errado do veneno pode acarretar.
Sem divulgar nomes, a Secretaria de Estado da Saúde afirma que quatro municípios aplicavam o "fumacê" de maneira errada.
Já representantes dos municípios que participaram da reunião de sexta dizem que a lista é maior, com ao menos nove -Sertãozinho, São Simão, Serrana, Batatais, Jaboticabal, Jardinópolis, Serra Azul, Batatais e Dumont.
No próximo encontro, os municípios devem assinar um documento em que se comprometem a cumprir o protocolo de uso da técnica.
De acordo com Juvêncio Furtado, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia, o "fumacê" só é eficiente se feito em determinados períodos do dia.
"O veneno tem que ser aspergido (molhado em gotas) quando o mosquito sai para se alimentar", diz.
Segundo o professor da USP e especialista em dengue, Benedito da Fonseca, a aplicação fica mais segura com a troca de inseticida periódica. "O 'fumacê' expõe uma população de mosquitos ao inseticida. Isso vai selecionando os mosquitos mais resistentes."
O Estado diz que não há comprovação de que a técnica selecione linhagens resistentes do mosquito.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Arma genética impede que a malária se agrave

Correio Braziliense, 24 de maio de 2004. Ciência e Saúde

Estudo publicado por cientistas alemães e ganeses revela que crianças portadoras de um determinado gene relacionado à autodestruição dos glóbulos brancos têm 30% menos chance de desenvolver a forma mais severa da doença


Há exatamente um ano, Jerson Alvim, 66 anos, passava férias em Luanda, Angola. O período, que era para ser de descanso e diversão, acabou sendo preenchido por dores, espasmos, febre alta, muito suor e um mal-estar tão grande que o produtor musical mal conseguia sair da cama. Depois de dois dias, veio o diagnóstico: ele estava com malária, doença causada pelo protozoário do gênero Plasmodium e transmitida pelo mosquito Anopheles. Jerson teve um caso grave da doença, que atinge anualmente 500 milhões de pessoas ao redor do mundo, em especial na América Latina, no Sudeste Asiático e na África subsaariana. Ligada às populações mais pobres, permanece sem formas eficazes de controle e prevenção.

Uma pesquisa divulgada na última edição do periódico especializado Ploas Genetics, no entanto, trouxe uma nova esperança para pessoas como Jerson, que desenvolveram casos graves do mal. O estudo, feito com cerca de 6 mil crianças de Gana, na África, descobriu que um gene relacionado ao processo de autodestruição dos glóbulos brancos, responsáveis pela defesa das células, ajuda a diminuir a incidência da forma mais intensa do mal — que pode, inclusive, levar à morte.

Feito por cientistas do Instituto de Medicina Tropical Bernhard Nocht, de Hamburgo, na Alemanha, e da Kumasi University, de Gana, o estudo mostrou que crianças que possuem a variação genética, ao contrair o protozoário, têm 30% menos chances de a doença evoluir para a forma severa. “Em nosso estudo, verificamos que as crianças com a variante têm uma maior expressão do receptor CD95 na superfície das células brancas do sangue. O CD95 é o responsável justamente pelo suicídio celular”, contou ao Correio a pesquisadora alemã Kathrin Schuldt, uma das responsáveis pelo estudo.

A especialista explica que, embora tenham menos chances de desenvolver malária grave, os portadores da variante genética apresentam a mesma possibilidade de adquirir a forma branda do mal. “Os portadores da variante não estão completamente protegidos contra a malária, mas desenvolvem sintomas menos graves. Embora continuem a ser infectados, são menos propensos a apresentar complicações com risco de morte”, explica a cientista alemã. Embora a pesquisa tenha sido feita com meninos e meninas — as maiores vítimas da malária grave —, o mesmo se aplica a adultos.

Variáveis
Três fatores contribuem para o desenvolvimento da forma grave da doença: o grau de infestação pelo Plasmodium (ou seja, quanto mais agentes infecciosos, mais grave é caso); o tipo de infestação (uma variante do protozoário conhecida como falcípara contribui para o surgimento de casos letais); e a resposta imune do organismo. “Quando o protozoário entra no sangue, os glóbulos brancos geram uma resposta imune a eles. Quando essa resposta é muito intensa, os sintomas, como febre, dores e sudorese, são mais fortes”, explica Cláudio Ribeiro, do Laboratório de Pesquisa em Malária da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro.

Assim, quando as células brancas estão programadas para terem ciclos de autodestruição, a resposta imune dada à malária é mais baixa. “É como se, de tempos em tempos, o paciente tivesse uma queda de imunidade. Isso impede que a sintomatologia da doença seja muito intensa. A inflamação é menos grave”, explica Ribeiro. Com menos febre, menos espasmos e menos dores, o doente tem mais forças para se recuperar da infecção. “O gene age especificamente nos mediadores inflamatórios, que são substâncias derivadas dos agentes infeciosos e que ativam o gatilho da resposta imune”, completa o especialista carioca.

Os pesquisadores alemães e ganeses têm dois desafios antes que o resultado da pesquisa se traduza em benefícios diretos para o paciente. O primeiro deles é descobrir se a variante genética que atua no mecanismo de morte programada dos glóbulos brancos está presente em outras populações além da de Gana. Como há séculos esses povos convivem com a doença, eles podem ter desenvolvido uma resposta diferente da normal ao problema. “Estamos planejando para descobrir se esse efeito protetor está presente em outras populações que vivem em regiões endêmicas de malária”, explica Kathrin.

Quando essa fase for concluída, os pesquisadores devem chegar à última etapa do processo: o desenvolvimento de medicamentos que promovam o suicídio celular. “Como esse é um estudo, abordando os mecanismos moleculares durante uma infecção pelo falcíparo, ainda há um longo caminho para encontrar um alvo novo da droga ou uma intervenção contra a malária”, conta a pesquisadora. “Mais estudos baseados em nosso resultado, entretanto, podem contribuir para controlar a malária”, completa Kathrin.