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quinta-feira, 2 de maio de 2013

À espera de um lar


Todos os dias, em média seis animais são adotados no Centro de Controle de Zoonoses, mas o número ainda é pequeno. Diariamente, 15 bichos de estimação acabam abandonados nas ruas do DF

» ISABELA DE OLIVEIRA
Correio Braziliense. Brasília-DF,  02 de maio de 2013
Lívia e André Bandeira com seus oito animais, dois deles adotados: o último é um pincher abandonado pelo dono após um acidente (Edilson Rodrigues/CB/D.A Press)
Lívia e André Bandeira com seus oito animais, dois deles adotados: o último é um pincher abandonado pelo dono após um acidente

A servidora Kátia Paiva e a gatinha Iara, hoje com 4 anos:
A servidora Kátia Paiva e a gatinha Iara, hoje com 4 anos: "Quando a pessoa compra um animal, na maioria das vezes é para satisfazer um capricho"
O movimento no Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) é intenso quando, às 11h, os animais podem receber visitantes à procura de um novo amigo. São cães e gatos desabrigados, muitos no corredor da morte por serem portadores de doenças infecciosas ou por possuírem comportamento agressivo demais para adoção. Todos eles, em algum momento da vida, foram abandonados por seus donos. Muitos possuem histórico de maus-tratos. Apesar da dificuldade e da precária estrutura, a equipe do CCZ tenta humanizar os atendimentos e evitar os sacrifícios. 
De acordo com a Secretaria de Saúde do DF, cerca de 1.680 cães e gatos foram adotados em 2012, média de seis por dia útil. Mas a procura ainda é pequena se comparada à quantidade de bichos abandonados diariamente nas ruas do DF. As autoridades sanitárias estimam que, todos os dias, 15 animais sejam deixados nas ruas por seus donos.

É o caso de Tony, que foi abandonado pela família após sofrer um acidente. Ele foi resgatado pela servidora pública Lívia Faria Bandeira, 35 anos, que salvou o cãozinho com poucas chances de sobreviver. Tony perdeu os movimentos das patinhas traseiras quando, conforme consta em seu histórico médico, foi atingido por um portão. O antigo dono abandonou o cachorro de raça pincher no Centro de Zoonoses após cinco meses do acidente, período em que tentou tratá-lo em casa. Durante esse tempo, o animal não conseguia nem sequer de movimentar. “Os veterinários tentaram convencer o antigo proprietário de que ele poderia levar uma vida normal, mas mesmo assim ele recusou”, contou Lívia.

Quando soube que Tony corria risco de morrer, ela não pensou duas vezes e o adotou. Lívia teve apoio do marido André Bandeira Vilhão, educador físico de 37 anos, que a ajudou com a despesa de cirurgias e medicamentos para o tratamento da mascote, o oitavo integrante da matilha liderada pelo casal. Além dele, a mestiça Olga foi retirada do CCZ. Ainda filhote, ela integra o grupo temporariamente, até que o casal encontre uma família que aceite adotá-la. Tony já ganhou uma cadeirinha e passa por sessões de fisioterapia. Com os chihuahuas Noel Rosa e Nelly, ele leva uma vida mansa e normal. Usa fraldas e rasteja pela casa com a mesma disposição de um cão fisicamente saudável. “Esperamos a liberação do veterinário para que ele possa andar por aí com a cadeirinha, que será adaptada”, comemora Lívia.

Felinos
Outro caso com final feliz é o da gatinha Iara. Ela foi adotada pela servidora pública Kátia Medeiros Paiva, 46 anos, em 2009. Iara, de 4 anos, foi resgatada do CCZ quando Kátia decidiu salvar alguns dos animais condenados. “Acabei levando seis bichos para casa, uns em um saco e outros em uma caixa, e Iara entre eles. Repassei-os a uma protetora independente, mas acabei ficando com essa gatinha, que foi levada ao veterinário, internada e medicada”, relembra a servidora.

Ela, que já adquiriu dois cães da raça lhasa apso em um petshop, conta que “quando a pessoa compra um animal, na maioria das vezes, é para satisfazer um capricho”. Kátia diz que na época não tinha a consciência de que, pela adoção, poderia ajudar um pet em situação de vulnerabilidade. “A pessoa que resgata recebe um bichinho que veio de um cenário de sofrimento, passou por dificuldades e pode até ter sido maltratado pelos antigos donos. Isso o torna especial.”

Lucia d’Andurain, gerente da Diretoria de Vigilância Ambiental, ressalta que o CCZ é responsável por zelar pela saúde pública e controlar doenças como a raiva, a leishmaniose, a leptospirose e a hantavirose. “Muitas pessoas pensam que somos um abrigo de animais, mas estão equivocadas. O CCZ também não é responsável por animais de rua, apenas por aqueles que oferecem risco à saúde pública. O animal é de inteira responsabilidade do dono”, explica a veterinária.

Apesar das limitações, o centro abriga animais e promove feiras de adoção com panfletos que ensinam sobre a posse responsável . Há cerca de seis anos, animais que não conseguiam ser adotados eram sacrificados automaticamente. “Estamos tentando fazer um serviço mais humanizado, embora esse não seja o objetivo do controle de zoonoses. Agora, só cães muito doentes, com leishmaniose, por exemplo, ou animais violentos é que são sacrificados” destaca a médica.

Marcel Pereira, especialista em comportamento animal e coordenador técnico da Merial, empresa que atua no desenvolvimento de tecnologia voltada para a saúde animal, afirma que é preciso ponderar antes de incluir um novo membro na família. “Às vezes, vamos pela empolgação na tentativa de ajudar um bichinho sem lar. As pessoas acabam comprando ou adotando por impulso e esquecem que ele pode ficar doente e vai ficar velhinho”, adverte.

O especialista ressalta que é necessário avaliar se a família terá paciência e disposição para lidar com as necessidades fisiológicas do animal, além de condição econômica para prover uma vida digna, com assistência médica e alimentação adequada. Marcel indica os gatos como mascotes para pessoas com rotina mais atribulada. “Eles são mais independentes e não necessitam de tanta atenção quanto um cachorro. Então são indicados para pessoas que passam mais tempo fora de casa ou viajam muito.”
Fique atento
Requisitos
Para adotar, é necessário ter mais de 18 anos
e apresentar à Zoonoses um documento de identidade. O proprietário também assina
um termo de responsabilidade

Endereço
A Zoonoses fica no Setor de Áreas Isoladas Norte (SAIN), Estrada Contorno do Bosque, Lote 4, próximo ao Hospital do Câncer Infantil

Horário
De segunda a sexta-feira, das 11h às 17h

Mais informações
3343-8813, 3343-8812, 3343-8803

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