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quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Uso de inseticida contra Aedes aegypti pode atrapalhar no combate à dengue

JORNAL NACIONAL, Rede Globo de Televisão.  Edição do dia 08 de dezembro de 2011

Ele só funciona nos mosquitos mais fracos. E os que sobrevivem se reproduzem e transmitem essa resistência para os descendentes. Em pouco tempo, forma-se uma população de mosquitos que não sofrem os efeitos.








O Jornal Nacional mostrou, há dez dias, que a Prefeitura de Foz do Iguaçu, no Paraná, distribuiu inseticidas para a população como forma de reforçar o combate à dengue. Toda a cidade foi convidada a usar o spray, além, claro, de manter o cuidado de eliminar os focos de mosquitos, reservatórios de qualquer tamanho em que haja água parada.
Mas, depois que o JN mostrou essa iniciativa, o Ministério da Saúde divulgou uma nota sobre o assunto e informou que não existem evidências científicas sobre a eficácia da medida.
No Rio de Janeiro, a repórter Lília Teles foi à fundação Oswaldo Cruz e ouviu, dos pesquisadores, por que o uso do inseticida contra o Aedes aegypti pode até atrapalhar o combate à doença.
O ano que se aproxima traz previsões alarmantes para a epidemia de dengue. Os brasileiros ainda não conseguiram controlar a doença, e não é por falta de conhecimento no combate ao mosquito transmissor.
“Na minha casa todos os vasinhos têm terrinha embaixo”, conta uma senhora.
“Nas plantinhas não deixo água de jeito nenhum. Tenho pavor porque eu já tive. Tenho pavor da dengue”, garante outra senhora.
E alguns ainda vão além, para matar o mosquito: “Inseticida, sim. Nos quartos, na sala, na cozinhas, no banheiro”, revela uma mulher.
Mas inseticida é uma boa arma no combate à dengue? Ele consegue matar todos os mosquitos e evitar a epidemia da doença? A resposta é não! Isso é comprovado em laboratórios da Fiocruz em pesquisas feitas há mais de 12 anos. Os experimentos mostram o que acontece aos mosquitos quando se faz uso frequente do inseticida.
Os pesquisadores separaram dois grupos de mosquitos e aplicaram a mesma dose de inseticida nos dois. Um dos grupos é sensível, criado em laboratório e nunca teve contato com o veneno. O outro tem mosquitos retirados do ambiente, acostumados aos combates com remédio.
No grupo dos sensíveis, todos os mosquitos morreram, já no outro, o veneno fez pouco efeito e a maior parte dos insetos se manteve viva.
Segundo os pesquisadores, o mesmo acontece com o uso descontrolado do inseticida doméstico. Ele só funciona nos mosquitos mais fracos. Os insetos que sobrevivem se reproduzem e transmitem essa característica de resistência para os descendentes. Em pouco tempo, forma-se uma população de mosquitos que não sofrem o efeito do veneno.
“Se a gente usa o inseticida como a principal arma de controle de combate ao inseto, a gente vai fazer com que só os insetos resistentes sobrevivam . O que a gente tem que ter é a precaução de eliminar os criadouros”, explica Denise Valle, pesquisadora da Fiocruz.
A Prefeitura de Foz do Iguaçu informou, em nota, que recomenda o uso do spray com base em pesquisas dos hábitos do mosquito, feitas com dados da Fiocruz. E que a população foi orientada a utilizar corretamente o spray em horários e locais apropriados, e não indiscriminadamente, como vinha sendo feito.
A prefeitura ressaltou ainda que os outros métodos de combate à doença não foram abandonados.

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