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segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Cientistas conseguem barrar contaminação do parasita da malária no sangue

Correio Braziliense-DF, 10 de novembro de 2011, Saúde, p. 29 

Há pelo menos 50 mil anos, a humanidade é ameaçada pelo parasita causador da malária. Fósseis e múmias estudados por cientistas mostram que o plasmódio tem sido implacável ao longo dos séculos e, diferentemente de doenças que há muito foram vencidas, até hoje não se sabe como eliminá-la. Estima-se que 1 milhão de pessoas morram anualmente em consequência da doença — a maioria, crianças da África subsaariana —, mas um anúncio feito hoje na revista Nature traz a esperança da erradicação total da malária, graças a uma descoberta de pesquisadores do Wellcome Trust Sanger Institute, na Inglaterra.

Pela primeira vez em cinco décadas de busca por uma vacina eficaz, os cientistas conseguiram identificar o mecanismo exato que faz com que o parasita entre na corrente sanguínea. É no momento em que sai do fígado e invade as células vermelhas que o plasmódio provoca os sintomas da doença, como febre alta, náuseas e hemorragias. Interromper essa etapa do ciclo de transmissão significa que, mesmo picada pelo mosquito transmissor, o Anopheles, a pessoa não ficará doente — ainda que passe a ser portadora do parasita. “Estamos extremamente empolgados. Acredito que esse é um avanço revolucionário”, disse um dos pesquisadores, Julian C. Reyner, durante uma teleconferência de imprensa.

Reyner explicou que, embora existam vacinas contra a malária, nenhuma conseguiu completo sucesso até agora. “Os cientistas já sabem que o problema está no processo de interação entre o plasmódio e as proteínas das células de defesa, mas esse é um mecanismo muito complexo, que as tecnologias, até agora, não conseguiram afetar. O que fizemos foi usar uma nova técnica, chamada Avexis, que identificou a chave por trás do processo”, disse.

O Avexis, que consiste em um método de escaneamento intracelular, foi criado pela equipe do cientista Gavin Wright. “Essa interação que ocorre entre o plasmódio e a superfície da célula é muito frágil e, por isso, difícil de detectar em laboratório”, disse. Ele compara a ligação entre o parasita e os glóbulos vermelhos (veja infografia) a um pedaço de velcro. “Se você olhar atentamente para o velcro da sua mochila, vai ver que são vários ‘pelinhos’ que ligam um lado ao outro, de maneira extremamente forte. A nossa tecnologia conseguiu justamente identificar como esses ‘pelinhos’ agarram-se uns aos outros. Acho que, finalmente, conseguimos encontrar o ‘calcanhar de aquiles’ da malária. É reconfortante imaginar que nossa técnica poderá resolver importantes problemas biológicos e ser a base para novas terapias.”

Velcro
Quando uma pessoa é picada pelo mosquito transmissor da malária, o parasita migra para o fígado, onde se reproduz de forma assexuada. Ele fica dentro do órgão durante alguns dias e, depois, passa para os glóbulos vermelhos, que estouram, fazendo com que o plasmódio se espalhe por todo o organismo. Os cientistas do Wellcome Trust Sanger Institute descobriram como o parasita se encaixa na superfície das células sanguíneas. Isso ocorre porque uma proteína chamada PfRh5, existente no plasmódio, parece ter sido feita sob medida para se ligar a uma determinada enzima dos glóbulos vermelhos. Como um ímã, elas se atraem, fazendo a junção necessária para que a malária tome conta do organismo.

Descobrir esse mecanismo já teria sido um grande avanço, mas a equipe de Reyner e Wright foi além. “Conseguimos fazer uma coisa muito difícil, que foi isolar a proteína do plasmódio e fazer uma cultura in vitro. Então, no laboratório, injetamos anticorpos nos glóbulos vermelhos e alcançamos o que desejávamos: a interação entre o parasita e a célula foi completamente interrompida”, contou Wright. “A grande esperança, agora, é a fabricação de uma vacina para ser usada em humanos.”

Segundo Julian C. Reyner, dois pontos principais podem ser destacados na experiência. Em primeiro lugar, o fato de os cientistas terem conseguido bloquear a interação entre o plasmódio e as células. Em segundo, depois de testar mais de 15 tipos de cepas do parasita Plasmodium falciparum, o mais perigoso de todos, eles descobriram que os anticorpos conseguem combatê-los igualmente. “Essa vacina, quando pronta, será universal”, afirmou.

Em um comunicado, o Wellcome Trust afirmou que a vacina contra a malária será o modo mais simples e econômico de proteger a população contra a doença. “Para uma abordagem como essa poder trabalhar em escala populacional, contudo, a vacina precisa ser extremamente eficiente. Essa pesquisa identificou um candidato em potencial para isso.” O professor Adrian Hill, pesquisador sênior do instituto, também está bastante entusiasmado. “Ultimamente, temos visto resultados positivos nas pesquisas que testam vacinas contra a malária na África, mas nenhuma delas consegue, de fato, erradicar a doença. A descoberta de um simples receptor que pode ser atingido de forma a evitar a infecção das células vermelhas oferece a esperança de uma solução muito mais efetiva”, comentou

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