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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Cientistas decifram genoma dos pombos

Código genético das aves que ajudaram a inspirar Darwin revela como espécies evoluem e se transformam Disposição das penas na cabeça é explicada a partir da mutação de um único gene

Duilo Victor
CH Rio de Janeiro (RJ) 05/02/2013 Jacobin pigeon, uma espécie criada por Charles Darwin. Foto Robert Clark Institute/ The New York Times Foto: Terceiro / Agência O Globo 
 
Jacobin pigeon, uma espécie criada por Charles Darwin. Foto Robert Clark Institute/ The New York Times 
 
O Globo. Rio de Janeiro.  05 de fevereiro de 2013
 
Objeto de longas observações do naturalista britânico Charles Darwin no século XIX, a enorme variação de tipos de pombos na natureza ganhou novo interesse com um estudo de pesquisadores da Universidade de Utah, nos EUA. Eles publicaram pesquisa na revista Science sobre o mapeamento do código genético dessa ave globalizada, apreciada por alguns e odiada por muitos nas grandes concentrações urbanas do planeta. Até agora, o grupo acadêmico, em um esforço multinacional, conseguiu mapear 40 genomas de variações distintas de pombos e encontraram em um único gene, entre mais de 17 mil, a explicação para a grande variação na plumagem que apresentam na cabeça.
Os cientistas seguiram o exemplo do autor de A origem das espécies, que usou os pombos para estudar como a evolução biológica ocorre. O estudo corrobora o argumento de Darwin de que todos os pombos são variações de uma mesma espécie, a Columba livia, ave cuja versão mais comum é conhecida pelas penas acinzentadas e, no Rio, por serem moradoras do Largo da Carioca ou qualquer outra praça, poste ou suporte de ar condicionado disponíveis da cidade.
Para começar o trabalho pela raiz da árvore evolutiva, os cientistas tiveram de encontrar uma população de pombos selvagens que tivesse sofrido praticamente nenhuma interferência das aves domesticadas. Os pesquisadores então escolheram ilhas remotas ao norte da Escócia para retirar amostras de DNA da Columba livia que consideram mais próxima da original.
Na hora de sequenciar o genoma dos pombos, a equipe do biólogo Michael Shapiro descobriu que, entre os 17.300 genes da ave os humanos têm cerca de 21 mil havia um único gene, o EphB2, responsável pela variação da plumagem da cabeça do bicho. Este único trecho do genoma é, portanto, o causador das mudanças mais marcantes da aparência (fenótipo) de 80 das 350 variações dentro da espécie.
O mesmo gene em humanos está associado a complicações ligadas ao mal de Alzheimer, assim como com o câncer de próstata e possivelmente a outros tipos de câncer disse Shapiro, revelando o quanto ainda se precisa esclarecer sobre o genoma das espécies.
A partir da comparação das amostras escocesas com a de outras regiões, descobriu-se que a maioria das espécies domesticadas como o pombo-correio descendem de pombos criados no Oriente Médio, próximo à costa do Mediterrâneo. Foi lá que se estima que os humanos passaram a ter a ideia de domesticá-los, há 5 mil anos, para servir de fonte de alimento.
Séculos depois, colonizadores europeus trouxeram seus exemplares domesticados para o continente americano, onde foram criados também para servirem de comida, como mensageiros ou para simples diversão. Mas elas se misturaram com pombos selvagens da América do Norte, o que leva a crer que os pombos urbanos dos EUA são descendentes de pombos-correio que se perderam dos donos.
Na pesquisa recém publicada, foi descoberto, por exemplo, que o pombo-da-cauda-de-leque, o preferido pelo imperador mongol Akbar, o Grande, que mantinha viveiros desta variação no século XIV, é bem próximo dos pombos que hoje habitam o Irã. Para o coordenador do estudo, essa coincidência é fruto da antiga Rota da Seda, por onde passavam as caravanas entre a Pérsia e o Império Mongol.

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