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quarta-feira, 6 de julho de 2011

Pesquisadores querem sequenciar genoma de 5 mil insetos e outros artrópodes

Max Milliano Melo

Correio Braziliense. Brasília,  16/06/2011, Ciência.

Desde 1869, quando o patologista suíço Friedrich Miescher descobriu o ácido desoxirribonucleico, conhecido pela sigla DNA, desvendar como essa molécula formadora de todos os seres vivos se organiza nas células tem sido um desafio para cientistas de todo o mundo. Depois que o código da vida do homem e de diversas outras espécies animais e vegetais foi desvendado, pesquisadores dos Estados Unidos e da Europa propõem um dos maiores projetos de sequenciamento genético desde que o Projeto Genoma Humano foi concluído, em 2000: desvendar, no prazo de cinco anos, o DNA de 5 mil espécies de artrópodes (filo que inclui cerca de 1 milhão de espécies de insetos, aracnídeos, crustáceos e outras formas de vida). Batizada de i5k, a iniciativa é um dos destaques da edição de hoje do periódico especializado American Entomologist.

O conceito básico do projeto é identificar os principais artrópodes que influenciam a vida do homem — seja transmitindo doenças ou prejudicando plantações, por exemplo — e inventariar totalmente o material genético deles. “O processo envolve a obtenção de DNA de grupos limitados de cada espécie, a montagem dos dados brutos, a descrição dos genes, além da identificação de padrões que se repetem em regiões reguladoras”, descreve em entrevista ao Correio Daniel Lawson, pesquisador do Instituto Europeu de Bioinformática, no Reino Unido.

De acordo com os pesquisadores, a agricultura, especialmente na produção de alimentos, será uma das áreas mais beneficiadas. “Com o conhecimento genético, poderemos descobrir a capacidade das espécies de metabolizar os inseticidas e criar novos produtos para os quais os insetos tenham pouca chance de se proteger”, explica Lawson. A criação de inseticidas específicos poderá ter um impacto positivo também em outras espécies. “Poderemos ter compostos que são eficazes contra as pragas, mas que não agridam espécies benevolentes, como as abelhas e outros polinizadores, fundamentais para uma grande quantidade de culturas agrícolas”, completa.

Muitas outras áreas serão beneficiadas pelo estudo, garantem os especialistas. “Haverá avanços em diversos setores. Desde biocombustíveis, que hoje sofrem com pragas, passando pelas mudanças climáticas, já que muitos insetos funcionam como sinalizadores de alterações no meio ambiente, até a segurança alimentar, no caso dos insetos patógenos”, enumera Kevin Hackett, diretor sênior do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, órgão público norte-americano que participa da empreitada. “Além disso, esperamos desenvolver ferramentas específicas para doenças endêmicas que têm insetos como vetor, que é o caso da malária, por exemplo”, acrescenta ao Correio.

Febre amarela
Os pesquisadores ainda estão fechando a lista dos 5 mil artrópodes a serem estudados, por meio de consultas na comunidade científica. Na lista de prováveis sequenciados está um velho conhecido dos brasileiros: o Aedes aegypti, propagador da dengue e da febre amarela, doenças que todos os anos atingem no mundo 100 milhões e 200 mil pes soas, respectivamente, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). O “parente” mais próximo do mosquito, o Aedes albopictus, que, além de transmitir a febre amarela, é vetor da chikungunya, já tem seu lugar garantido na lista dos insetos que terão seu DNA desvendado.

Para que, no entanto, o ambicioso projeto se concretize, os pesquisadores estão em busca de financiamento para os estudos. “Existem atualmente cerca de 30 genomas de insetos sequenciados, como o da mosca doméstica (Drosophila melanogaster). A economia do sequenciamento do genoma tem mudado dramaticamente nos últimos anos”, conta o britânico Lawson. “As tendências de cada vez melhores rendimentos nos experimentos e um custo cada vez mais baixo nos permitem prever que conseguiremos fazer o sequenciamento de muitos genomas nos próximos anos”, conclui o pesquisador.

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