Disponível em: <http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=734090&tm=8&layout=121&visual=49>. Acesso em: 06 maio 2014
Um trabalho de mapeamento permitiu saber a distribuição de 24
espécies de morcegos presentes em Portugal e descobrir onde se encontram
algumas menos conhecidas, um contributo importante para analisar a sua evolução
e definir medidas de conservação.
O principal objetivo deste primeiro Atlas foi "organizar a
informação que temos sobre a distribuição das espécies de morcegos em Portugal
Continental, [pois] existem muitos dados ´perdidos´", disse hoje à agência
Lusa a chefe da Divisão de Conservação da Biodiversidade do Instituto da
Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).
O projeto, que decorreu durante dois anos e envolveu cerca de
150 pessoas, também pretendia contribuir para a criação de uma base de dados da
distribuição das espécies, disponível para todos os que trabalham na
conservação dos morcegos, e para a sensibilização da população para a
importância destes animais no equilíbrio dos ecossistemas.
Quando questionada acerca da existência de conclusões
inesperadas na pesquisa, Ana Rainho explicou que o Atlas vai ser a referência
para a construção de projetos futuros e, "sendo o ponto zero deste
trabalho, as surpresas são sempre relativas e a partir daqui é que será
analisado como no futuro a distribuiçao das espécies vai ou não alterar-se, como
evolui no tempo".
A técnica do ICNF salientou que as questões "são sempre
pontuais e relacionadas com espécies recentemente conhecidas no país" e
apontou o exemplo do "eptesicus isabellinus [morcego-hortelão-claro], cuja
distribuição conhecida era essencialmente no norte de África e desde que foi
confirmada a sua presença em Portugal julgava-se" que estava mais no sul
do país.
Com o Atlas, que é hoje apresentado, foi possível confirmar que
"não é bem assim e a espécie está presente sempre no interior do país, mas
até Trás-os-Montes, o que foi uma surpresa" para Ana Rainho.
Outro dado interessante refere-se ao morcego-arborícola-grande,
ou nyctalus noctula, cuja observação em Portugal tinha sido comprovada através
de um exemplar de museu, "que não se sabe quando foi recolhido", e
desde ai não tinha sido possível confirmar se ocorria ou não no país.
"Apesar de não termos respostas para as espécies todas, já
podemos confirmar definitivamente que a espécie está presente em Portugal,
passadas muitas décadas", resumiu a chefe de Divisão do ICNF.
Perceber a evolução de uma espécie nas suas áreas de
distribuição é importante para definir se está ameaçada ou não e para avançar
com medidas que garantam o seu bom estado de conservação.
Por exemplo, é esperado que as alterações climáticas afetem
muito as espécies da região do mediterrâneo devido ao aumento da temperatura e
do potencial de desertificação.
"Os morcegos são espécies que dependem muito da água e é
muito provável que afete o seu estado ou a sua distribuição e isso poderá ser
agudizado pelas alterações do uso do solo, como a intensificação das áreas
agrícolas ou a desflorestação", explicou Ana Rainho.
Entre os morcegos, há "algumas espécies com problemas de
conservação, mas há muitas ainda que não têm estatuto de conservação definido,
não são conhecidas o suficiente para conseguirmos dizer se estão ameaçadas ou
não", disse ainda a responsável.
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