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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

ROEDOR AMAEÇADO VIRA PRAGA GRAÇAS A FAZENDAS DE TRUTAS

FOLHA DE SÃO PAULO, São Paulo-SP, 03/02/2011 

Roedor ameaçado vira praga graças a fazendas de trutas

DA BBC BRASIL

Um roedor comedor de peixes, que até então era classificado como um dos mamíferos mais raros do mundo, passou a se multiplicar por causa da profusão de fazendas criadoras de peixes no interior do Peru --e passou a ser uma praga, segundo um estudo.
O roedor Ichthyomys stolzmanni, conhecido como "ratazana pescadora" ou "comedor de peixes de Stolzmann", já esteve à beira da extinção.
No entanto, um estudo na publicação científica alemã "Mammalian Biology" revela que a população do animal cresceu e passou a ser um problema para moradores da região que habita.
A súbita abundância de peixes teria facilitado a alimentação desses animais, que agora já são considerados como pragas pelos funcionários de fazendas de trutas, ao lado de papagaios, pombos e outros roedores.

Victor Pacheco/J. Ugarte Nuñez
Roedor que se alimenta de peixes e corria risco de extinção proliferou graças a fazendas de trutas no Peru
Roedor que se alimenta de peixes e corria risco de extinção proliferou graças a fazendas de trutas no Peru

O roedor, que mede cerca de 20 centímetros, foi descoberto em 1893 a mais de 900 metros de altitude em Chanchamayo, floresta tropical na região central do Peru. Sete deles foram avistados na ocasião.
Mais tarde, em 1920, outros seis espécies foram registrados no Equador, em uma região de altitude semelhante.
Depois disso, só houve registro de avistamento do animal quando os biólogos peruanos Victor Pacheco e Joaquin Ugarte Nuñez, do Museu de História Natural de Lima, deram início ao estudo.
Eles conseguiram capturar quatro roedores na região de Ayacucho, no Peru, a mais de 300 quilômetros ao sul de onde eles haviam sido originalmente descobertos, e em uma altitude mais alta --cerca de 3.000 metros.
Reclamações da população local, de donos de terras e de homens que trabalham nas fazendas criadoras de peixes do rio Vinchos, em Ayacucho, também indicaram que o roedor está mais presente do que se pensava.
"É uma surpresa descobrir que o que você achava que era uma espécie rara já não é mais", disse Victor Pacheco à BBC.

Victor Pacheco/J. Ugarte Nuñez
Crânio do "Ichthyomys stolzmanni", conhecido como "ratazana pescadora" e "comedor de peixes de Stolzmann"
Crânio do "Ichthyomys stolzmanni", conhecido como "ratazana pescadora" e "comedor de peixes de Stolzmann"
TRANSTORNO

O aumento no número de ratazanas pescadoras no Peru surpreendeu os cientistas. Na pesquisa, eles se referem ao animal como um "transtorno".
A população local disse a Pacheco e Nuñez que frequentemente veem os roedores correndo pela cidade de Vinchos, e que as aparições aumentaram desde os anos 1970, quando cresceu o número de fazendas de truta na região.
Eles contaram ainda que o roedor geralmente come filhotes de truta nas fazendas e reduzem a produtividade dos criadores.
Os trabalhadores tentam capturá-los com redes de pesca ou golpeá-los com bastões, mas geralmente não tem sucesso --muito rápidos, eles fogem nadando.
O estudo diz que a população local realizou queimadas na mata próxima ao rio Vinchos, na tentativa de destruir o habitat dos animais.
No entanto, os cientistas não acreditam que a explosão no número de roedores pescadores foi repentina.
"É por causa do aumento das fazendas de truta que eles estão mais presentes, mas não acho que (os números) estejam aumentando rapidamente", afirmou Pacheco. "Mas me surpreende a facilidade com que eles estão se adaptando às mudanças feitas pelo homem no ambiente."
O pesquisador diz que poucas espécies de roedores foram encontrados antes porque eles são difíceis de capturar ou porque os pesquisadores anteriores estavam procurando nos lugares errados.
Mas os pesquisadores alertam para o fato de que, mesmo com o aumento da população dos animais, é preciso que novos estudos determinem se a espécie continua em risco.
Eles dizem que pouco se sabe ainda sobre estes roedores e, assim como outras espécies aquáticas, os animais pode ser ameaçados pelo desmatamento e pela contaminação dos rios em que vivem.

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