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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Cientistas criam novo sistema para rastrear surtos de doenças animais e prevenir pandemias


O GLOBO, Rio de Janeiro, 10 de fevereiro de 2011

Cientistas criam novo sistema para rastrear surtos de doenças animais e prevenir pandemias

RIO - Dezenas de pesquisadores espalhados por diversos países, principalmente na África e Ásia, formam uma rede que se dedica a identificar doenças que atacam animais mas têm potencial para infectar humanos. Esse caçadores de germes, que fazem parte de instituições, como, por exemplo, a Iniciativa Global para Previsão de Vírus (GVFI, na sigla em inglês), vivem embrenhados na selva ou no meio de criações de animais à procura de pragas que podem destruir a humanidade, como o da gripe H1N1, que há quase dois anos foi responsável por uma pandemia que matou milhares de pessoas em todo o planeta. Agora um novo projeto internacional vai se antecipar a possíveis transmissões de doenças de animais para humanos.
O objetivo do projeto é que a humanidade não seja surpreendida por pandemias. No início de 2009, pesquisadores já tinham quase certeza onde uma pandemia de gripe teria início: a Ásia. A progressão constante do vírus H5N1 da gripe aviária, que se espalhou a partir de aves selvagens e domésticas para humanos, matando pelo menos 306 pessoas desde 2003, era um sinal.
A Ásia e especialmente o sul da China, com residências abrigando grande concentração de humanos e aves, geralmente têm sido as regiões onde o vírus de novas gripes surgem, infectando os animais antes de sofrerem mutação e atacarem humanos. A pandemia de 1957 ficou conhecida como gripe asiática e de 1968 foi chamada de gripe de Hong Kong, por causa de seus pontos de origem. E até a pandemia de 1918, popularmente chamada de gripe espanhola, pode muito bem ter vindo da Ásia.
Mas da última vez os cientistas erraram. O vírus que disparou a nova pandemia, o H1N1, na primavera de 2009, surgiu no México, e aparentemente não vinha de aves, mas de porcos (daí o termo "gripe suína"). Os epidemiologistas do mundo estavam se preparando para uma invasão do leste, mas foram atingidos em seu ponto fraco. O governo mexicano merece ser aplaudido por ter reagido ao novo vírus relativamente bem - e mais importante, de forma aberta - mas o fato é que a pandemia surgiu num ponto cego e certamente retardou a reação internacional ao ataque do vírus. Felizmente, o H1N1 acabou por ser bastante fraco. Porém se tivesse sido um assassino num nível da pandemia de 1918, o número de vidas perdidas teria sido muito maior.
Agora, cientistas lançaram um novo projeto, o Predict, uma ferramenta de mapeamento on-line que permitirá aos cientistas rastrearem surtos de doenças animais que ameaçam os seres humanos, segundo reportagem na "Time". Financiado pela Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e liderada por um grupo de instituições, incluindo a Wildlife Conservation Society (WCS) e a GVFI, o sistema vai monitorar dados da Organização Mundial da Saúde, emitindo alerta, notícias e realizando fóruns on-line para os epidemiologistas. Um dos objetivos é criar um mapa digital de animais onde os surtos estão ocorrendo em todo o mundo e quais são um perigo para humanos.
O consórcio foi criado em 2009 durante a pandemia de H1N1 e agora pesquisadores esperam que um melhor sistema de rastreamento de informações possa ajudar os cientistas a não serem pegos de surpresa.
A Predict é apenas uma indicação mais recente de que as autoridades e cientistas estão finalmente começando a levar as doenças dos animais a sério. Quase 75% de todas as novas doenças emergentes ou reemergentes que afetam os humanos no século 21 teve origem em animais, incluindo o HIV/Aids, a SARS e a gripe.
- Podemos não ser capazes de evitar a próxima pandemia de gripe ou de doença emergente transmitida de animais para seres humanos, mas devemos saber quando isso vai acontecer - disse Nathan Wolfe, do GFVI.

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